O diretor do Centro de Investigação de Estudos de Conflitos referiu que a Ucrânia recebeu ajuda a nível estatal de ciberdefesa em grande escala de países como os Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e outros.
Porém, destacou que a indústria privada “acrescentou um novo fator único neste conflito que não tínhamos visto antes”.
Entre as empresas mais conhecidas, referiu a Amazon que “organizou a evacuação de dados governamentais importantes” e a Google, que “alargou a sua proteção contra ataques de baixo nível aos meios de comunicação ucranianos e a toda uma série de outros sítios de Internet ucranianos críticos nos dias que antecederam a invasão”.
“Sem este apoio externo adicional, teria sido muito mais difícil para a Ucrânia resistir ao nível de ataques a que assistimos”, afirmou durante o debate “Resistir à guerra de informação russa: lições da Ucrânia” organizado pelo Instituto de Relações Internacionais britânico (Chatham House).
Este auxílio também aconteceu nas empresas e sociedade civil ucraniana, referiu a antiga jornalista Olga Tokariuk, atual investigadora no Chatham House.
“Muitos ucranianos e empresas tecnológicas juntaram-se ao esforço de resistência, oferecendo ao governo os seus serviços e a sua capacidade. Algumas delas estão a utilizar novas tecnologias, inteligência artificial, e cooperam com o governo para detetar desinformação russa e campanhas de influência”, revelou.
Grupos ucranianos de ‘hacktivistas’ também se mobilizaram para repelir ciberataques russos e cidadãos comuns procuraram intervir combatendo desinformação nas redes sociais, acrescentou.
Tokariuk afirmou que a proibição da transmissão de canais russos na Ucrânia ainda antes da invasão foi importante porque reduziu a capacidade de Moscovo “perturbar e penetrar no espaço de informação, de o poluir”, como fez quando invadiu a Crimeia e do Donbass em 2014.
“Foi uma decisão criticada por algumas organizações na altura, mas que se revelou realmente crucial porque, no momento da invasão em grande escala, a Ucrânia não tinha esses agentes hostis a operar no seu território”, defendeu.
A diretora do projeto ‘Eyes on Russia’ criado pelo Centro para a Resiliência da Informação, Belén Carrasco Rodriguez, adiantou que a atividade russa ao nível da informação tem tido mais sucesso nos territórios ocupados.
“Tem havido uma série de atividades centradas na prestação de ajuda humanitária, de cuidados a crianças, apoio a mulheres em territórios ocupados a fim de proporcionar uma sensação de conforto que sensibilize a população, como a perceção desta imagem de libertadores”, exemplificou.
Esta estratégia é ampliada através da incorporação de propagandistas pró russos em unidades e batalhões militares no terreno, filmando soldados a prestar ajuda humanitária ou a celebrar ou a organizar celebrações como o Dia Internacional da Criança.
“Este tipo de conteúdo é depois divulgado nos diferentes canais de comunicação, a fim de construir esta imagem dos russos como libertadores, em oposição aos russos como ocupantes”, explicou.
Keir Giles referiu que a Rússia foi pioneira no uso abrangente da guerra de informação, juntando ataques cibernéticos com desinformação, operações psicológicas, influência e comunicações estratégicas.
Os países ocidentais da NATO entretanto passaram a estar mais atentos ao uso deste tipo de armas, revelou, mas “o problema é que os russos estavam a trabalhar nisto há 20 anos, por isso há muito que fazer”.
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