“Em séries de 30 anos, as normais climatológicas, os dados não mentem. Temos uma subida de um grau centígrado nas temperaturas médias mínimas e temos o maior número de dias com temperatura acima dos 25 graus”, realçou José Guerreiro.
O presidente do IPMA falava na conferência internacional “Planclimac Projet Final Conference - Adaptation and Mitigation to Climate Change”, destinada à reflexão sobre os impactos das alterações climáticas, no Coliseu Micaelense, em Ponta Delgada.
Segundo os dados apresentados, a temperatura média anual nos Açores tem vindo a aumentar, passando de 17,5 graus centígrados (1971-2000) para 17,8 graus centígrados (1981-2010) e 18,2 graus (1991-2020).
O número de dias com uma temperatura máxima acima de 25 graus centígrados também tem registado um acréscimo, uma vez que passou de 48,4 dias por ano (1971-2000) para 52,2 dias (1981-2010) e 60,8 dias por ano (1991-2020).
Os ciclones tropicais aumentaram no arquipélago nas últimas décadas, existindo uma “tendência” de deslocação daqueles fenómenos para norte do atlântico.
“Falamos do ciclone Lorenzo [que atravessou a região em 2019], mas a verdade é que, se olharmos aos dados, nós temos o maior número de eventos de sempre em relação àquilo que são os ciclones que passaram na região definida em torno dos Açores”, reforçou.
Entre 1971 e 2000 foram registados 20 ciclones tropicais, entre 1981 e 2010 aconteceram 22 eventos e entre 1991 e 2020 o número de ciclones subiu para 35.
A intensidade daqueles ciclones também tem vindo a aumentar, com 11 eventos com categoria igual ou superior a três entre 1991 e 2020, que compara com sete e dois eventos registados nos períodos 1981-2010 e 1971-2000, respetivamente.
“O número de ciclones de categoria superior a três subiu exponencialmente. O número de eventos também. O Lorenzo chegou com categoria dois e fez o que o que fez. Isso quer dizer que a prevenção, o planeamento com a proteção civil, o ordenamento do território é algo que não pode ser descurado”, alertou.
José Guerreiro lembrou ainda o investimento em curso de um milhão de euros para a criação de um observatório nos Açores destinado a monitorizar a evolução dos gases com efeito de estufa.
O presidente do IPMA realçou que os novos cabos submarinos destinados a assegurar a ligação ao arquipélago vão ter sensores para recolher dados de “natureza geoquímica, sismicidade e atividade de tsunamis”.
“Os Açores têm uma posição geoestratégica absolutamente privilegiada. Estão numa posição central do atlântico. O anticiclone dos Açores, que tanto beneficiou a era dos descobrimentos, agora traz todos os poluentes, nomeadamente os gases com efeito de estufa”, concluiu.
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