O ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, exigiu hoje um pedido de desculpas do ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, um dia depois de este ter afirmado que a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, era “incapaz de resolver os problemas migratórios para os quais foi eleita”.

“É um insulto gratuito e vulgar dirigido a um país amigo, aliado, [e] quando alguém ofende gratuitamente outra pessoa, o mínimo é que apresente um pedido de desculpas”, defendeu Antonio Tajani, numa entrevista ao diário italiano Corriere della Sera, depois de ter cancelado na quinta-feira à noite a sua primeira visita a Paris enquanto titular do cargo.

Hoje questionada pela imprensa sobre esse pedido de desculpas, a chefe do executivo francês, Élisabeth Borne, respondeu de forma indireta.

“Gostaria de repetir que Itália é um parceiro essencial para França, que a nossa relação assenta no respeito mútuo e que vamos privilegiar a concertação e um diálogo calmo para continuar a trabalhar em conjunto”, sustentou.

A primeira-ministra recordou também que a ministra dos Negócios Estrangeiros francesa, Catherine Colonna, conseguiu falar com o seu homólogo italiano.

“Catherine Colonna telefonou-me duas vezes, para me dizer que lamentava, foi muito cordial”, disse também Antonio Tajani, embora reiterando que as explicações de Paris foram “insuficientes”.

“Tratou-se de um ataque a frio, uma facada nas costas por parte de um membro de primeiro plano do Governo francês. Há coisas que não se podem ignorar. O resto do executivo [do Presidente da República francês, Emmanuel] Macron, contudo, certamente não pensa como Darmanin”, insistiu o MNE italiano.

Contactado pela agência de notícias francesa AFP, o Ministério do Interior francês escusou-se a comentar os apelos para um pedido de desculpas emitido pelo Governo italiano. Do lado de Roma, Giorgia Meloni ainda não reagiu.

A imigração é, há anos, um assunto muito sensível nas relações franco-italianas.

Em novembro, registou-se uma escalada de tensão entre os dois países quando o Governo de Meloni, acabado de chegar ao poder, se recusou a deixar atracar um navio humanitário da organização não-governamental SOS Mediterrâneo, que acabou por ser acolhido por França em Toulon, no sul do país, com mais de 200 migrantes a bordo.

O episódio irritou Paris, que convocou um encontro europeu para que esse cenário inédito não se repetisse.

Desde então, as travessias clandestinas de migrantes em embarcações precárias aumentaram, com a abertura de um novo corredor marítimo entre a Tunísia e Itália, país que se encontra na linha da frente para a entrada na Europa.

Segundo o Ministério do Interior italiano, mais de 42.000 pessoas chegaram a Itália pelo Mediterrâneo este ano, em contraste com cerca de 11.000 no mesmo período do ano passado.

No entanto, quase metade deles procede de países francófonos (Costa do Marfim, Guiné-Conacri, Tunísia, Camarões, Burkina Faso, Mali), de acordo com os dados do Ministério do Interior italiano.

“É por isso que as tensões entre os dois países são fortes”, analisou hoje o diretor do Gabinete Francês da Imigração e da Integração (Ofii), Didier Leschi.

Inquirido sobre essa crispação franco-italiana à margem de uma deslocação a Florença, Itália, o Alto-Representante da União Europeia (UE) para a Política Externa, Josep Borrell, recordou que a questão dos fluxos migratórios é “um problema comum” aos países da UE que deve ser gerido “com o máximo de unidade”.

“Estou certo de que as dificuldades serão ultrapassadas”, afirmou o chefe da diplomacia europeia.

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