Em entrevista à Lusa na sequência do anúncio de que tinha sido distinguido com o Prémio Pessoa 2019, o encenador destacou o Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII), onde trabalha e onde partilha os dias com uma equipa que “dá muitas vezes sentido ao trabalho” que faz, sinalizando por isso que é um prémio que recebe “com a consciência muito clara de que pertence a muitas pessoas e também ao teatro português, num momento em que o teatro português precisa que haja afirmações públicas da sua qualidade, da sua importância, da sua diversidade, porque ainda enfrenta obstáculos muito difíceis”.
“Ainda vemos muitos artistas a trabalhar em condições que não são dignas e por isso espero que aquilo que tem sido o esforço, em que também me tenho empenhado, de melhorar as condições em que os artistas trabalham em Portugal, que possa beneficiar deste prémio, que permita uma reflexão, tanto do poder político como da sociedade civil em geral, acerca da tremenda importância que eu acredito que o teatro tem e pode ter na nossa sociedade, sobretudo quando temos artistas com tanta qualidade no teatro português”, sublinhou.
Tiago Rodrigues manifestou ainda “alegria” e “surpresa” pelo Prémio Pessoa que hoje lhe foi atribuído, e frisou que este é um prémio para várias pessoas e para o Teatro.
“Foi um noticia que recebi com muita alegria, mas também surpresa, e que imediatamente considerei um Prémio Pessoa para várias pessoas, que recebo com a consciência de que nenhum caminho se faz sozinho, mas que, sobretudo em teatro, todos os caminhos se fazem em grupo, em coletivo e, portanto, é um prémio que vem celebrar o trabalho de muita gente, de muitos artistas, de muitos técnicos que ao longo dos anos perfilharam um percurso comigo, de teatros também”, disse à Lusa Tiago Rodrigues, a partir do Reino Unido, onde está a trabalhar com atores da Royal Shakespeare Company numa adaptação de José Saramago.
Para o diretor artístico do TNDMII, este é também “um prémio que recorda o país de que há muito apoio por dar a um teatro português que já tem feito muito pelo país e pela sociedade”.
Questionado sobre o facto de o júri ter considerado também, na escolha do nome de Tiago Rodrigues, a consagração de uma “carreira de excecional projeção dentro e fora do país”, o galardoado considerou que a “criação artística tem fronteiras diferentes das administrativas e geográficas”, embora admita que o “reconhecimento internacional muitas vezes é uma alavanca para o reconhecimento dentro de portas em Portugal para muitos artistas”.
“Mas eu entendo o teatro como um momento de comunidade e liberdade artística em comunidade que pode acontecer em qualquer lugar”, afirmou.
Para exemplificar, contou um episódio sucedido na quinta-feira, dia de eleições no Reino Unido.
“Estávamos a ler capítulos do ‘Ensaio sobre a lucidez’ que fala das eleições, de um dia de chuva em eleições, e subitamente todos aqueles atores que estavam a ler Saramago em voz alta, a pensar no espetáculo que vamos criar no próximo verão se sentiram tocados por José Saramago, como se tivesse escrito para eles”.
Para Tiago Rodrigues, este é um bom exemplo de “como a arte é já um gesto sem fronteiras, um gesto internacional.”
“Claro que em termos práticos, a questão da internacionalização do teatro português não é uma questão de vaidade, prestígio ou sequer de prémios, é uma necessidade num país onde ainda há muito pouco apoio, muito pouco financiamento, muito pouco reconhecimento da [sua] qualidade imensa, é uma necessidade de trabalhar no plano internacional, para haver mais condições de trabalho e para que este reconhecimento possa ser uma regra, para que corresponda ao que o teatro português merece”, frisou.
O ator, encenador e diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II foi hoje anunciado como o vencedor do Prémio Pessoa 2019.
“Ao atribuir-lhe o Prémio Pessoa 2019, o júri consagra uma carreira de excecional projeção dentro e fora do país, mas também reconhece um contributo notável para o desenvolvimento do campo das Artes Performativas portuguesas”, afirmou hoje o presidente do júri, Francisco Pinto Balsemão, citando a ata da reunião dos jurados deste ano.
Tiago Rodrigues é o 33.º Prémio Pessoa e o segundo mais novo de sempre.
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