Tim Vieira nasceu em 1975, em Joanesburgo. Cresceu numa "África do Sul muito diferente" e "num tempo feio da história", numa época onde o apartheid trouxe sanções, e também divisões. Ainda assim, recorda a alegria de viver num "país lindo" onde sempre teve a sorte "de poder ser parte da natureza e ver os animais, andar de bicicleta" e de ter muitos amigos "de todas as cores e de todas as línguas".

"Tive um crescimento incrível, mesmo mesmo incrível, e no que toca a família tive muita sorte. Consegui aprender português, não perfeito, mas ok", conta ao SAPO24. Em Moçambique, com os avós, falava português. Viajava por todo o país com o avô, que participava em corridas de pombos. "Eles dizem que são os cavalos dos pobres".

Nesse tempo, foi feliz. Tão feliz que não se lembra de ter uma única semana negativa. "Às vezes podia acontecer durante um dia ficar mais triste, por alguma razão, mas nunca por uma semana", explica. "Também tive sorte porque dos 12 anos para a frente, o meu pai teve um negócio e era um negócio para todas as cores, e para todas as línguas. Eu sempre gostei muito disso, de comunicar, e de pessoas".

"Eu só sei viver dessa maneira. Hábitos ficam para a vida, e eu acho que o hábito de ser positivo, o hábito de falar com toda a gente, de não ter classes diferentes... como eu já não era da classe de topo, podia estar com todos".

A felicidade da infância transformou-se em otimismo, que traz para Portugal. "Eu só sei viver dessa maneira", confessa. "Quando fomos para a África do Sul, obviamente tínhamos muito pouco. Ficámos algum tempo numa garagem que alguém nos deu".

Essa experiência cedo fez o empresário perceber que o importante não era um "carro bonito" nem uma "casa linda", mas ter uma família em quem confiar, e que lá está "com muito, muito amor". Salienta também o seu hábito de falar com toda a gente, que já vem da altura em que gostava de todos os desportos. Jogava futebol, que era mais com os negros, e críquete, que era mais com os ingleses e os indianos. Como "já não era da classe de topo", Tim Vieira diz que sempre se deu com todos.

E embora acredite que esta experiência de comunidade, e de dar valor à família, seja transversal, na África do Sul é ainda mais notória. "Eu acho que não é só na África do Sul, é em todo o lado. Mas acho que lá, por causa das circunstâncias que vivemos, fá-lo acontecer mais".

Já o povo português, não é tão positivo, e Tim Vieira refere a música como exemplo disso. A África do Sul "é uma música de dança e agarrar uns nos outros, tem batuques e muito mais vida". Em Portugal, diz que às vezes é difícil "estar quieto a ouvir o fado" - embora o ache lindo e, confesse, seja possível "amar as duas coisas".

"Eu tenho o meu coração em vários sítios do mundo".

Também tem coração para os dois sítios. Quando está na África do Sul, vai aos restaurantes portugueses. Quando está em Portugal, faz Boerewors, uma salsicha tradicional da culinária sul africana. "Estou cá, estou com saudades de estar lá. Quando estou lá, estou com saudades de estar aqui", diz ao SAPO24. "Eu acredito que hoje em dia uma pessoa não precisa de escolher um só sítio que ama".

A saudade é comum entre os portugueses que vivem na África do Sul. "Os filhos são parte da comunidade, e nunca se esqueceram de Portugal. Ainda lá está no coração, ainda querem vir. E muitas vezes têm mais esperança por Portugal do que os portugueses" que cá vivem, diz Tim Vieira.

Daí a importância de reconhecer esta comunidade. Não só por todo o dinheiro que a diáspora envia e investe, mas também pelos filhos que desejam vir para Portugal e, com eles, trazer talentos que podem "ajudar o país a crescer". Atrair estas pessoas "faz todo o sentido" porque pensam da mesma forma, gostam da mesma comida e, acima de tudo, trazem "Portugal no coração".

"Às vezes não os percebemos a 100%, mas a verdade é que o coração é português, a mentalidade é portuguesa, às vezes com um bocadinho mais de positividade, e isso é bom. Devíamos estar de braços abertos a querer que contribuíssem para Portugal”.

Mas a "verdade é que os portugueses fora de Portugal sentem-se esquecidos, sem dúvida, e é pena... é mesmo pena", diz Tim Vieira. "Nem conseguimos ter canais de televisão a passar por lá, jogos, tantas coisas em que somos totalmente esquecidos", como é o caso de não haver nenhum voo da TAP para a África do Sul. A ministra dos Negócios Estrangeiros, Naledi Pandor, pediu, inclusivamente, ao seu homólogo português para "interceder junto" da transportadora aérea TAP para criar uma rota direta. "Coisas assim obviamente mostram que não somos tão importantes para Portugal", conclui Tim Vieira.

Não só na África do Sul, mas por todo o mundo, destaca a marca que os portugueses deixam por onde passam. Desde Inglaterra e Alemanha, aos EUA, os portugueses que encontra têm sempre uma história que envolve batalha e luta. Mas também envolve ganhar relevância na comunidade onde estão, e no fim, tornarem-se importantes na mesma. "Ninguém diz: 'olha, um português, tem cuidado, não gostamos dos portugueses'. Amam os portugueses", sublinha.

Para o empresário, é preciso reconhecer os talentos em vez de olhar para as pessoas que regressam e "dizer 'olha, este é outro que foi para lá e agora vem a pensar que vai mudar alguma coisa'. Temos que aprender", defende.

Este é um dos motivos para se candidatar à Presidência da República em 2026: para "responder aos portugueses". Os portugueses, diz Tim, "não são a nossa política", mas as pessoas que "trabalham, são honestas, que acreditam em família, acreditam em Portugal, acreditam que podem ter um futuro melhor".

Pensa nos que emigraram, e faz uma analogia com os pássaros que vê na sua casa no Alentejo, e que já não vão embora no Inverno. "Antes eram os pássaros a voarem e a irem para outro sítio. Hoje em dia são as pessoas", diz, remetendo para a importância de criar um país atrativo para todos.

"Não quero ser parte do problema, quero ser parte da solução".

Diz que há pessoas que lhe dizem para ir para primeiro-ministro, mas acredita que é como presidente que consegue mudar  a perspetiva dos portugueses. Numa candidatura "independente", reconhece no entanto as ideias dos diversos partidos que representam Portugal.

Acredita ser capaz de mudar "um bocadinho" a mentalidade que existe, numa política de "apontar dedos uns aos outros" e onde liga a televisão, lê o jornal, vai jantar ou ao barbeiro para ouvir que está tudo mal. Para fazer isso, Tim Vieira diz que não precisa de nada do país. "Eu não quero tirar nada do país, eu quero dar e quero ajudar Portugal a ser muito, muito maior", afirma. "Não quero salário, então posso dizer que não 'estou lá para o tacho'", diz o empresário. "Não quero nenhum tacho, o meu tacho fica para o país. Não preciso de sair de onde vivo, tenho uma casa muito confortável para mim".

Ser filho de pais emigrantes tornou-o mais resiliente e com menos medo de falhar. E foram os "cabelos brancos" que o fizeram perceber que não é o dinheiro que trará felicidade. "É ter um motivo para viver, trabalhar, acordar todos os dias cedo, e conseguir ter pessoas à nossa volta que também acreditam nisso. Isso, para mim, é o que me faz feliz".

Para celebrar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas na África do Sul, Tim Vieira vai, pela décima vez, numa caminhada por volta de quatro horas e meia, e cerca de 23 km, de Cascais ao Padrão dos Descobrimentos. Juntamente com os que o acompanham, aproveita o feriado para "ver uma costa linda" e pensar sobre onde Portugal já foi e, "mais importante, para onde vai".

*Pesquisa e texto pela jornalista estagiária Raquel Almeida. Edição pela jornalista Rute Sousa Vasco