Philippe Barbarin e cinco outras pessoas são acusadas de não ter denunciado agressões sexuais do padre Bernard Preynatum a um grupo de jovens escuteiros, respondendo agora em tribunal num processo de citação direta iniciado pelas vítimas.
O julgamento começou na segunda-feira e terminou hoje.
O cardeal e arcebispo de Lyon, Philippe Barbarin, garantiu ter tido conhecimento dos abusos cometidos pelo padre Bernard Preynat penas em 2014, quando se encontrou com uma das vítimas.
Anteriormente, no ano 2000, assegurou, que teria ouvido apenas "rumores".
Mas, durante as audiências do julgamento, um dos advogados das vítimas disse estar convencido do contrário indicando que o cardeal estaria a mentir.
"Você é um mentiroso. Cardeal Barbarin, você é um mentiroso quando diz que apenas percebeu em 2014 a extensão dos danos", disse o advogado Jean Boudot.
"Uma coisa é certa, é que em 2010, sabia perfeitamente", declarou.
Segundo o advogado, o padre Preynat disse nos depoimentos à polícia que teve um encontro com o cardeal, durante o qual respondeu a perguntas o que, para o defensor das vítimas, quer dizer que sabia de tudo sobre seu passado sexual.
Para a acusação, estes factos estão, de qualquer modo, prescritos.
Na segunda-feira, dia da primeira audiência do julgamento, o cardeal francês Philippe Barbarin disse que nunca tentou encobrir o que qualifica de “factos horríveis”, antes de depor no Tribunal Criminal de Lyon.
Na quarta-feira, o Ministério Público francês alegou a prescrição de factos para não pedir a condenação do cardeal Philippe Barbarin e de cinco outros ex-membros da diocese de Lyon.
"Não tenho a pretensão de pedir a condenação porque alguns dos factos estão prescritos e aqueles que não estão não revelam uma violação", disse o procurador Charlotte Trabut.
Esta posição do procurador sugere que o resultado do processo pode acabar como terminou em 2016, quando o Ministério Público arquivou o caso, com os mesmos fundamentos invocados agora em tribunal.
No entanto, a associação criada pelas vítimas do sacerdote Preynat, a quem acusam de ter abusado de muitas crianças, não desistiu e conseguiu reabrir o caso depois de vários adiamentos de investigações judiciais.
Este caso surgiu a público a 23 de outubro de 2015, dia em que a diocese de Lyon revelou que tinha recebido queixas contra o padre Bernard Preynat por “agressão sexual a menores” cometida 25 anos antes.
A 12 de janeiro de 2016, várias vítimas criaram uma associação chamada “La parole libéreé” e a 27 de janeiro o padre Bernard Preynat, que reconhece os factos, foi acusado de agressão sexual a jovens escuteiros entre 1986 e o final de 1991.
A 04 de marco de 2016, o Ministério Público de Lyon abriu uma investigação preliminar a vários líderes da diocese, incluindo o cardeal Barbarin, por “não denúncia do crime”, mas foi arquivada meses depois por decisão da procuradoria de Lyon.
O processo foi retomado posteriormente por citação direta iniciada pelas vítimas, sendo agora o caso julgado pelo que é chamada “a justiça dos homens”, embora o cardeal tenha recentemente dito: "Só tenho um juiz que é o Senhor".
Até ao momento, dois bispos foram condenados em território francês em casos semelhantes, o ex-bispo de Bayeux-Lisieux em 2001 e o ex-bispo de Orleans em 2018.
O cardeal Barbarin, 68 anos, personifica em França a crise que a Igreja enfrenta em todo o mundo com diversos casos de abusos silenciados, um silêncio que o papa Francisco já disse que tem de ser quebrado, tendo convocado para fevereiro os presidentes de todas as conferências episcopais para uma cimeira no Vaticano sobre o assunto.
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