Esta é a primeira vez que um antigo chefe de Estado norte-americano é considerado culpado por um crime em tribunal em que se tinha declarado inocente.
O juiz do tribunal de Manhattan Juan Merchan, que presidiu a este julgamento sem precedentes contra um ex-presidente dos Estados Unidos, ordenou que o júri de 12 pessoas - sete homens e cinco mulheres - se retirasse à porta fechada para deliberar sobre um caso em que Trump é acusado de 34 falsificações de documentos contabilísticos.
Na quarta-feira, 29 de maio, os jurados debateram durante mais de quatro horas, sem chegar a uma decisão, algo que só aconteceu hoje, levando a que Trump fosse considerado culpado em todas as 34 acusações.
A leitura da sentença ficou agendada para dia 11 de julho.
Trump esteve no centro de um caso que envolveu o encobrimento de pagamentos com para comprar o silêncio de uma estrela pornográfica em dias anteriores às eleições de 2016.
Quando as revelações de Stormy Daniels sobre uma ligação sexual com Donald Trump ameaçaram derrubar a campanha presidencial, o antigo governante instruiu o seu advogado, que agora está contra ele, a pagar-lhe 130.000 dólares ((cerca de 110 mil euros). O pagamento fez desaparecer a história na campanha de 2016 e Trump foi eleito o 45.º presidente dos Estados Unidos.
Mas o caso acabou mesmo por chegar a tribunal, tendo o julgamento, que teve hoje veredicto, durado seis semanas. Foi dominado por histórias de sexo, dinheiro e política e a decisão do tribunal pode ter consequências desconhecidas para a campanha eleitoral das presidenciais de 05 de novembro, em que Trump defrontará o democrata e presidente em exercício, Joe Biden.
Durante este julgamento, foram ouvidas mais de 20 testemunhas, entre elas a própria Stormy Daniels e Michael Cohen, antigo advogado pessoal de Trump tornado inimigo, que assegurou ter sido o responsável por garantir o pagamento por ordem do seu cliente.
A atriz de filmes pornográficos Stormy Daniels foi também ouvida e detalhou de forma pormenorizada a relação sexual que teve com o ex-presidente.
Trump negou sempre ter tido qualquer relação sexual com Stormy Daniels e apresentou-se como vítima de uma cabala política, tendo recusado fazer qualquer depoimento durante o julgamento.
O ex-presidente e atual candidato chegou mesmo a dizer que o juiz que presidiu ao julgamento era “corrupto” e defendeu que “este processo nunca deveria ter acontecido”, sendo uma manobra política orquestrada pela Casa Branca do seu rival Biden.
Ao longo do julgamento, a defesa de Trump procurou ainda questionar a credibilidade da principal testemunha de acusação, Michael Cohen, o antigo advogado de Donald Trump, para semear dúvidas no júri, que apenas poderia condenar o ex-presidente havendo uma decisão unânime.
Os procuradores do Ministério Público insistiram que através deste pagamento - que compararam a uma despesa oculta de campanha - Donald Trump corrompeu a eleição de 2016, ao comprar o silêncio da atriz sobre essa relação sexual, que ela afirma ter ocorrido em 2006, quando este já era casado com Melania.
Contudo, o júri não decidiu sobre a existência deste caso sexual, mas sobre se Trump era culpado de 34 falsificações de documentos contabilísticos para ocultar o reembolso do pagamento a Michael Cohen, ao longo de 2017.
O que vai acontecer?
O crime de que Trump foi considerado culpado é uma violação da lei eleitoral do estado de Nova Iorque, que proíbe a promoção de uma candidatura por meios ilegais.
Agora, não caberá aos jurados, mas sim ao juiz, definir a sentença, dentro de algumas semanas, estando agendada para 11 de julho.
A prisão é teoricamente possível, sendo a falsificação de documentos contabilísticos punível com pena de até quatro anos de cadeia, no estado de Nova Iorque.
Contudo, na ausência de antecedentes criminais do arguido de quase 78 anos, o juiz pode aliviar a sentença, com uma pena suspensa com liberdade condicional ou serviço comunitário, bem como uma multa.
Em qualquer caso, Donald Trump poderá recorrer, com provável efeito suspensivo da sua pena, nomeadamente em caso de prisão.
Recorde-se que além deste julgamento, o ex-presidente foi indiciado duas vezes pelo procurador especial Jack Smith por acusações federais relacionadas com uma suposta interferência de Trump nas eleições de 2020 e à suposta manutenção de documentos governamentais confidenciais na sua propriedade em Mar-a-Lago.
Trump também enfrenta acusações estaduais no condado de Fulton, na Geórgia, pela suposta interferência nas eleições de 2020.
O ex-presidente também se declarou inocente destas acusações e negou qualquer irregularidade.
O que diz a Casa Branca?
A Casa Branca sublinhou que respeita o Estado de direito e que não se irá pronunciar sobre a decisão de condenação de Donald Trump que hoje foi conhecida.
“Respeitamos o Estado de Direito e não temos nenhum comentário adicional", disse Ian Sams, porta-voz da Casa Branca.
*Com Lusa e AFP
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