Chão do Rio, uma quinta de oito hectares na aldeia de Travancinha, no sopé e com vista para a Serra da Estrela, fica no município de Seia, no distrito da Guarda. Não fossem as curvas próprias de estradas de montanha e, em linha reta, o limite do distrito de Coimbra ficaria a pouco mais de um quilómetro e o de Viseu a sete.
É neste território antigo, onde sobressaem rochas milenares e vestígios de uma calçada romana, e de onde a vista alcança, a noroeste, à distância e em dias mais limpos, a serra do Caramulo, que o casal Catarina e Rodolfo sonhou, e concretizou, um projeto turístico, que faz do respeito pelos valores naturais o seu desígnio.
“A nossa grande preocupação foi a de não agredir o que tínhamos aqui, e, pelo contrário, procurar que o nosso projeto ajudasse a tornar o espaço um bocadinho melhor. Hoje, fala-se muito em turismo regenerativo e a lógica é um bocadinho essa”, disse à agência Lusa Catarina Vieira.
O Chão do Rio pretende ser “mais do que uma unidade de alojamento”, antes um espaço “que permita às pessoas sentir o território, sentir uma vivência mais ligada à cultura pastoril, que é uma cultura que tem muito para ensinar, essencialmente como viver em ligação e em harmonia com a natureza”, argumentou a proprietária.
Tudo começou no prado da propriedade, que é tratado e cuidado: “No Chão do Rio não existem jardins, não temos um jardim que foi criado para ser bonito. Temos um prado, já cá estava, mantém-se, e as pessoas andam à vontade. Não é uma unidade que tenha um conceito mais sofisticado, não queremos nada disso. Aqui o que nos importa é que as pessoas se sintam bem naturalmente, é um conceito extremamente simples”, observou.
A dois passos de um pequeno bosque de carvalhos, existe um galinheiro que ‘dá’ ovos frescos, e uma horta, também com funções pedagógicas — muito destinada a quem, vindo da grande cidade, procura conhecer a ruralidade do interior do país — pensada para uso das crianças e das suas famílias, que ali podem colher alfaces, couves ou tomates, entre outros produtos, dependendo da época do ano.
Aliás, a quem chega, é entregue um pequeno balde azul, no qual adultos e crianças podem recolher restos de preparação de comida e, com eles, alimentar os animais da quinta, o burro Luar e as ovelhas Mel e Amora.
Há também uma piscina biológica, onde os eventuais banhistas coexistem com aves, plantas e pequenos animais anfíbios, já que, no conceito do Chão do Rio, “não teria sentido uma piscina convencional”.
“O que pretendemos, mais uma vez, é melhorar, não agredir. Uma piscina biológica é um centro de biodiversidade, para além de ser um espaço onde podemos tomar banho. Também tem o seu papel no ecossistema”, advogou Catarina Vieira.
Depois, as cinco casas que ficam à entrada do espaço — a que se juntam outras duas, maiores, uma em formato duplo, que permite receber famílias mais numerosas — e que têm uma cobertura vegetal por cima dos telhados, são uma espécie de “imagem de marca” do aldeamento turístico.
“Não são mais do que uma homenagem à tal cultura pastoril e, também aí, temos o conceito da economia circular. Numa zona de perigosidade de incêndio, usamos giestas para decorar os telhados e também fomentar o isolamento térmico das casas. Vamos aos campos, colhemos as giestas e, assim, limpamos os terrenos, até porque os telhados têm de ser mudados periodicamente”, explicou.
Uma tarefa que fica a cargo de Henrique, marido de Emília, dois dos oito colaboradores do Chão do Rio, seis dos quais são da aldeia de Travancinha. Catarina Vieira definiu Henrique como um “verdadeiro relações-públicas” do empreendimento turístico, ele que contacta os proprietários dos terrenos em redor, seus vizinhos, para poder levar a cabo a função.
De resto, todos ali são tratados pelo nome próprio — espelho de uma “genuidade” e “autenticidade” com que as pessoas de Travancinha recebem os visitantes, muitos dos quais, incluindo os funcionários, já fazem parte da “família” do Chão do Rio.
Em Castelo Branco, o centro comercial Fórum aliou-se à Xico’s, uma empresa de entregas oriunda da Covilhã, para combater o desperdício alimentar em restaurantes, propondo fazer chegar ao domicílio dos clientes refeições e produtos alimentares que, de outra forma, ficariam por vender.
“Este desafio nasceu de uma preocupação interna relativamente ao desperdício alimentar, em particular ao final do dia”, disse à Lusa Nuno Costa, diretor do Fórum Castelo Branco.
A ideia inicial foi pensada para que os colaboradores e lojistas, muitos dos quais saem de funções a horas tardias, pudessem aceder a sobras dos restaurantes ali localizados. Como o Fórum não possui uma solução tecnológica e de faturação para o fazer, encontrou na Xico’s o parceiro ideal.
O projeto, que irá ser lançado no início de dezembro, arranca com cinco restaurantes, todos do centro comercial.
“O que vamos fazer é um projeto que combata o desperdício alimentar, através de vendas, a preços muito mais acessíveis do que os valores originais dos produtos, mas com qualidade de final de dia. O cliente tanto pode fazer a compra para recolha no restaurante, como para entrega ao domicílio, que é uma das vantagens que temos em relação a outros serviços que existem”, explicou João Rodolfo, gerente da Xico’s.
À disposição dos interessados estarão propostas diversas, todas resultantes de sobras: “O cliente, se encomenda, é porque o produto foi disponibilizado e existe, e poderá escolher entre gamas diferentes, com preços diferentes”, indicou.
Denominado “Indatábom”, o projeto propõe “produtos totalmente aleatórios, disponibilizados numa caixa 100% surpresa, que terá um preço extremamente reduzido”, uma caixa com indicação do que contém, também a preço módico, mas mais elevado do que a anterior, ou acompanhamentos, sopas e sobremesas.
Tudo isto será operacionalizado através de uma aplicação para telemóvel e da página internet da Xico’s, que, caso o projeto vingue, pensa vir a estendê-lo a outros restaurantes, noutros locais, já que atualmente trabalha com mais de 500 parceiros em 14 locais.
“Inicialmente serão cinco [restaurantes] e, quem sabe, no futuro, teremos uma expansão completa para os mais de 500 parceiros que já temos”, enfatizou João Rodolfo.
(Reportagem por José Luís Sousa, Paulo Novais e Hugo Fragata, da agência Lusa)
Comentários