“Ao carregar o andor estamos a carregar com a nossa vida, a fazer uma retrospetiva com uma esperança presente e futura e até de agradecimento”, descreveu à reportagem da agência Lusa Emanuel Cordeiro, 63 anos, natural e residente em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.
Emanuel Cordeiro pertence à Irmandade do Santo Cristo, responsável pela organização das festas, que estão a decorrer na cidade de Ponta Delgada.
Tinha 23 anos quando transportou pela primeira vez o andor com a imagem do Santo Cristo, um ritual que este ano volta a cumprir.
À Lusa Emanuel Cordeiro diz que “é uma sensação” que “só quem a vive é que sente”.
Esse cortejo realiza-se nos Açores desde 1700 e constitui o ponto alto dos festejos do Santo Cristo, que estão a decorrer até quinta-feira (9 de maio), na ilha de São Miguel.
Nessa procissão, que percorre hoje à tarde, durante várias horas, as ruas da cidade de Ponta Delgada, a imagem é transportada sobre os ombros por elementos da Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Emanuel Cordeiro pertence à Irmandade desde novo, uma “herança” na família, pois o pai já integrava a associação de fiéis, com sede no Convento da Esperança, em Ponta Delgada, assim como o avô.
Admite que o peso da imagem no andor "é muito significativo" e que se torna "mais difícil" ao longo das várias horas do percurso do cortejo, mas garante que "até parece ser leve".
“Levamos com carinho e transportamos com força”, sublinhou, garantindo que a imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres “tem um poder perante um açoriano em qualquer parte do mundo”.
E, acrescenta, “para algumas pessoas poderá ser mais uma imagem, mas para nós é diferente”.
Neste longo percurso, é preciso "acertar passos" para que a imagem do Santo Cristo seja transportada com "o máximo cuidado e carinho".
"Basta chover ou vento que a imagem fica pesadíssima", conta Emanuel Cordeiro, manifestando ter "um grande orgulho" em ajudar a transportar o andor com a imagem do Santo Cristo, busto com "centenas de anos" e "uma marca da identidade açoriana".
Pedro Melo, 53 anos, está incumbido também de carregar o andor com a imagem do Santo Cristo na procissão da tarde de hoje.
É o mais novo nesta “nobre missão”, mas partilha com os restantes elementos da Irmandade um sentimento de “grande responsabilidade”.
“Estou na Irmandade há três anos. Levei pela primeira vez o andor no ano passado é uma responsabilidade muito grande”, refere à reportagem da Lusa.
Também Pedro Melo relata o peso do andor e as dificuldades durante o trajeto da procissão, mas tudo é feito com "muita fé".
No dia da procissão há sete turnos de elementos da Irmandade que vão rodando entre si, consoante o trajeto do cortejo.
"Cada turno tem oito elementos e temos que ficar minimamente agrupados pela altura dos ombros para que o peso seja distribuído", explica Pedro Melo.
Integrando milhares de devotos, a procissão inicia-se hoje às 15:30 locais (mais uma hora em Lisboa), e a imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres passa pelos antigos conventos da cidade e algumas igrejas paroquiais.
Neste trajeto, uma multidão de homens, mulheres e muitos jovens, trajando de escuro, seguem em silêncio o andor com a imagem do Santo Cristo ao som do “Hino do Senhor”, tocado por várias bandas de música.
Para a passagem do cortejo religioso, as ruas da maior cidade açoriana são cobertas de tapetes de flores feitos pelos moradores da cidade, por comerciantes e entidades.
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