Uma sondagem do instituto Datafolha, divulgada no final de abril, mostrou que Michel Temer é avaliado como "ruim" ou "péssimo" por 61% dos brasileiros, considerado "regular" por 28% e apoiado sem reservas por apenas 9%.
O sociólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Rafael Araújo, explicou à Lusa que a ascensão e manutenção de Michel Temer - um político que nunca foi eleito para nenhum cargo executivo pelo voto - no posto mais importante da República brasileira é fruto da vitória de um projeto político.
"Michel Temer não precisa de popularidade. Ele surgiu de um consenso parlamentar de representantes da elite económica e se mantém exclusivamente por conta disto. Alguém tinha que fazer o serviço sujo das reformas defendidas por esta elite. Ele aceitou fazer e tivemos o 'impeachment' [destituição] da [Presidente] Dilma Rousseff", afirmou o professor da PUC-SP.
"Com as denúncias de corrupção, Michel Temer está enfraquecido, mas isto não faz a menor diferença para o Governo porque ele já disse que não tem pretensões eleitorais", completou.
Designado Presidente depois de Dilma Rousseff ser condenada por crimes fiscais, Michel Temer e os seus principais aliados foram recentemente citados por delatores da construtora Odebrecht como recetores de subornos nas investigações dos crimes na Petrobras e em outros órgãos públicos.
Estas denúncias, porém, não abalaram a governabilidade e o Presidente brasileiro avança com um amplo conjunto de reformas polémicas como a redução dos gastos públicos, mudanças no sistema de pensões e das leis laborais, propostas amplamente rejeitadas pela população.
Quando foram avaliadas as reformas propostas pelo Governo, a mesma sondagem da Datafolha sobre a popularidade do Presidente indicou que sete em cada dez brasileiros (71%) são contra mudanças no sistema de pagamento de pensões.
Já as alterações da legislação laboral foram consideradas mais benéficas para os empresários do que para os trabalhadores por 64% dos entrevistados.
Este dado comprova a perceção dos brasileiros de que o projeto do Governo não os favorece.
Na análise do professor de Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Marcus Vinicius de Freitas, as impressões negativas sobre o Governo brasileiro não se restringem as fronteiras do país.
"O Governo [de Michel Temer] ficou com as vestes de golpista porque não soube se comunicar e cometeu um equívoco enorme ao nomear ministros envolvidos com denúncias de corrupção", considerou.
"Ele [Michel Temer] não soube comunicar ao mundo que o Congresso do Brasil sempre teve um DNA parlamentarista. Assim, o discurso propagado pela esquerda brasileira fixou a imagem de que houve um 'golpe' em grande parte do mundo, mesmo que isto não seja verdade", concluiu.
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