Como economista, Julia Cagé começou por querer trabalhar em projetos ligados ao desenvolvimento. E foi por causa disso que cedo tomou consciência do impacto dos media e do trabalho dos jornalistas. Nas suas palavras, porque “rapidamente se apercebeu que para esta ajuda ser eficiente – em vez de ser capturada pelos governos e usada para corrupção – era preciso que os cidadãos estivessem informados e exigissem que os governos prestassem contas pelo uso do dinheiro”. E como, na sua perspetiva, os media são a melhor forma de manter os cidadãos informados, Julia decidiu então tentar perceber como funcionam.
“O meu primeiro trabalho foi neste contexto e, em concreto, no setor dos media na África subsaariana, mas enfrentei imensas dificuldades para aceder a informação relevante nos relatórios e contas dos meios de comunicação social, nomeadamente o número de jornalistas, a audiência”, conta. E foi assim que decidiu estudar primeiro os media em países onde pudesse ter dados sobre a sua evolução ao longo do tempo e o seu funcionamento na atualidade, como é o caso da Europa e dos Estados Unidos.
É este o ponto de partida para o doutoramento que acabaria por concluir em Harvard com foco na economia dos media. A primeira parte da investigação focou-se no efeito da competição nos media, na qualidade da informação produzida e na participação política. “Fiz muita pesquisa para este projeto, mas os principais resultados foram artigos técnicos dirigidos a um público científico e apercebi-me que existiam implicações importantes nas políticas públicas”, recorda.
Decide então escrever o livro “Salvar os Media” com o propósito de levar o tema ao público em geral, “porque o estado dos media deve preocupar todos os cidadãos que se preocupam como está a funcionar a democracia”. Além de propor um novo modelo de propriedade e de gestão para os media, o livro de Julia Cagé “Salvar os Media” propõe também uma viagem ao universo das empresas que produzem informação, por um lado, e por outro, à atuação de jornalistas e de leitores num mundo a explodir de conteúdo pelas costuras. Uma das premissas do livro é que mais conteúdo não significa melhor conteúdo. Dir-se-á que não é preciso ser economista ou especialista em media para dar conta dessa evidência, mas a verdade é que os números ajudam.
Julia Cagé tem 32 anos e é casada com o economista Thomas Piketty, autor do livro "O capital no século XXI", e que também assina o prefácio do seu livro de estreia.
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