“Sou o marido de Jill Biden”. É desta forma que Joe Biden, candidato democrata às presidenciais norte-americanas, se apresenta muitas vezes nos seus discursos. E é até essa a descrição que usa na sua conta oficial do Twitter - além, claro, de Presidente eleito dos EUA, que adicionou há uma semana quando venceu as eleições, derrotando Donald Trump.
Jill Biden, apesar de discreta publicamente - mais discreta no passado, com mais intervenção ultimamente -, tem uma forte influência pessoal, mas também política, no marido. É sua conselheira, confidente e ajuda-o a tomar decisões tão importantes como a escolha de Kamala Harris para a vice-presidência.
Agora que o Joe Biden chegou à Casa Branca, Jill Biden está prestes a destacar-se ela própria.
A nova primeira-dama pode vir a fazer história, se mantiver o seu emprego a tempo inteiro de professora de Inglês na universidade. Esta é a vontade que tem vindo a expressar.
Se tal acontecer, Jill Biden "mudará para sempre as expectativas e limitações” deste papel, acredita Kate Andersen Brower, autora de um livro sobre a história das primeiras-damas americanas, citada pela agência France-Presse (AFP).
Como Jill Biden chegou até aqui
Jill Tracy Jacobs nasceu em 1951, tem 69 anos, e vem de uma família de classe média com raízes na Pensilvânia. O pai trabalhava num banco e a mãe era doméstica. É a mais velha de cinco irmãs.
Jill e Joe Biden conheceram-se em 1975 com a ajuda do irmão de Joe Biden, Frank. No dia do primeiro encontro, Joe foi buscá-la a casa, Jill olhou para ele, de fato e mocassins, e pensou “Ainda bem que é só um encontro”, conta o The New York Times.
No final, acabou por ser supreendida e quando chegou a casa telefonou entusiasmada à mãe a dizer que tinha finalmente conhecido um “cavalheiro”, descreve a Vogue.
Ainda assim, foram precisos cinco pedidos de casamento para que Joe recebesse um “sim”.
Jill já tinha sido casada, aos 20 anos, com um antigo jogador de futebol americano universitário. Mas o casamento durou apenas quatro anos.
Além disso, o casamento com Joe Biden implicaria assumir o papel de cuidadora dos seus dois filhos também.
Joe Biden também já tinha sido casado, mas em 1972 a sua família viveu uma tragédia. Poucas semanas depois de ter sido eleito senador por Delaware, a sua mulher, Neilia Hunter, e a filha de um ano morreram num grave acidente de carro. Os outros dois filhos, Beau e Hunter, ficaram feridos mas sobreviveram.
Cinco anos depois, os filhos, com oito e nove anos, deram total apoio ao relacionamento entre o pai e Jill. ”Ela devolveu-me a vida", escreveu Joe no seu livro de memórias, citado pela AFP. Beau e Hunter passaram a tratar Jill por mãe.
Em 1981, o casal teve uma filha, Ashley. Entretanto a família foi crescendo, os filhos casaram, e Joe e Jill têm hoje cinco netos.
Mas em 2015 a família viveu um novo momento de luto. Beau Biden morreu com cancro, aos 46 anos. Beau foi advogado, procurador-geral no estado do Delaware e cumpriu serviço militar no Iraque.
Nessa altura, Jill teve um papel essencial na recuperação de Joe Biden, passando a assumir o papel de confidente que Beau ocupava até aí, revelaram ao Washington Post alguns amigos.
“Ser professora não é só o que eu faço, é o que eu sou”
Conhecida como Dr. Jill Biden - esse é, aliás, o nome que usa na sua conta oficial do Twitter -, a agora primeira-dama tem uma licenciatura, dois mestrados e um doutoramento na área da Educação.
Jill Biden tem mais de 40 anos de experiência como professora. Já deu aulas em escolas secundárias, num hospital psiquiátrico para adolescentes e numa universidade em Delaware.
“Ser professora não é só o que eu faço, é o que eu sou”, escreveu num livro de memórias. Só fez uma pausa de dois anos na carreira quando foi mãe, em 1981, tendo ficado em casa a tomar conta dos filhos.
Enquanto Joe Biden foi vice-presidente de Barack Obama, entre 2009 e 2017, Jill ocupava o lugar de “segunda-dama”, como lhe chamam os norte-americanos. Dela era esperado que acompanhasse o marido em viagens oficiais e que tivesse um papel ativo nalgumas causas, juntamente com a primeira-dama.
Jill foi cumprindo essa função. Trabalhou na sensibilização para a prevenção do cancro da mama, dedicou-se às questões da educação e criou, com Michelle Obama, a Joining Forces, uma organização de apoio às famílias dos militares norte-americanos.
No entanto, já nessa altura fez história, tendo sido a primeira mulher de um vice-presidente a manter o seu emprego a tempo inteiro - neste caso, enquanto professora.
Michelle Obama e alguns elementos da equipa da Administração de Obama recordam Jill Biden como trazendo sempre consigo trabalhos dos alunos para corrigir, incluindo nas viagens de avião para as visitas oficiais ao estrangeiro, conta o Washington Post.
O jornal lembra ainda um episódio em que Jill terá pedido ao reitor da universidade onde dava aulas para sair mais cedo porque Joe Biden estava à sua espera no Air Force Two (avião de transporte do vice-presidente) para uma viagem à América Latina. “Bem, tendo em conta que o avião está pronto na pista e a gastar combustível, vá lá”, conta Jim McClellan.
A primeira paragem desde 1981
“Como se une uma família desfeita? Da mesma forma que se une uma nação. Com amor e compreensão. E com pequenos atos de compaixão. Com coragem. Com uma fé inabalável”. Esta foi uma das declarações mais fortes de Jill Biden no seu depoimento de apoio à confirmação de Joe Biden como candidato democrata às presidenciais, na convenção nacional do partido, a 18 de agosto deste ano.
“Dá para entender porque é que ela é o amor da minha vida e o pilar da nossa família”, disse de seguida o então candidato. "Ela é a pessoa mais forte que conheço".
Esta é a primeira vez que faz uma interrupção no emprego desde 1981. Segundo o colega de universidade Jim McClellan, Jill Biden disse que “se arrependeria de não ter feito mais, se não desse o seu melhor e o resultado das eleições acabasse por não ser favorável para o marido”.
Nestas eleições, Jill Biden assumiu um papel muito mais ativo do que nas duas vezes anteriores que o agora Presidente eleito se tinha candidatado à presidência, em 1988 e em 2008: envolveu-se desde as primárias, representou Joe Biden em ações de campanha pelo país e teve influência na escolha de Kamala Harris para o lugar de vice-presidente.
Conhecida pelo seu perfil empático e diplomático, é até elogiada nalgumas ocasiões pelos adversários. Lindsey Graham, senador republicano e aliado de Donald Trump, por exemplo, destacou publicamente o discurso de Jill Biden na Convenção Nacional Democrata: “É uma pessoa notável que leva uma vida muito significativa”.
Também Jane Sanders, mulher de Bernie Sanders, adversário de Joe Biden nas primárias democratas, tem demostrado a sua admiração por Jill Biden.
“Para mim ela é um ser humano muito bom e uma pessoa que vive de acordo com o princípio ‘trata os outros como queres ser tratada’”, afirmou Jane Sanders, citada pelo Washington Post. A mulher de Bernie Sanders, também ela ligada à área da educação, tem esperança de poder vir a trabalhar com Jill Biden em temas como as pesadas dívidas que os estudantes têm de contrair para tirar um curso superior nos EUA.
“Sabes”, disse Jane Sanders um dia ao marido, “Eu votaria em ti para Presidente, mas acho que votaria na Jill para primeira-dama, se houvesse essa opção”, conta o Washington Post.
Uma primeira-dama do século XXI: O que esperar de Jill Biden na Casa Branca
Jill Biden será a primeira-dama a continuar a sua carreira profissional enquanto o marido se senta na cadeira de presidente.
Apesar de não ser a primeira primeira-dama ligada ao mundo da educação, é a primeira a manifestar o desejo de manter o seu emprego e de continuar a dar aulas.
Jill Biden dá aulas de Inglês na Northern Virginia Community College, uma universidade no norte da Virgínia, perto de Washington.
Além da sua carreira no ensino, é expectável que Jill Biden venha a ter um papel mais ativo a nível político do que Melania Trump, mulher de Donald Trump, Presidente nos últimos quatro anos.
A nova primeira-dama já disse que pretende dar continuidade ao trabalho que desenvolveu quando o marido era vice-presidente. Quer dedicar-se às causas da educação, à sensibilização para a prevenção do cancro da mama e ao trabalho com as famílias dos militares, na organização Joining Forces.
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