Dez candidatos ouvidos pela Lusa (há 16 concorrentes) concordam com a decisão, recordando que o português é, a par do tétum, uma das línguas oficiais do país e que o Presidente deve dominar as duas línguas.
A maior oposição à ideia tem sido vincada por dirigentes do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), partido que apoia a candidatura da atual vice-primeira-ministra, Berta dos Santos, que evidencia algumas dificuldades a falar português.
“Não há regras, procedimentos legais que exijam que o candidato tem que falar português”, afirmou à Lusa Antonio Tilman, dirigente e deputado do KHUNTO.
“O debate é um meio de os candidatos darem a conhecer as suas políticas à população em geral, que não compreende bem português”, afirmou.
Questionado sobre se a postura do partido tem a ver com o facto da sua candidata ter dificuldades em português), Tilman insiste que o debate não é sobre a “capacidade de falar ou não” português.
Contra a decisão manifestou-se igualmente o secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), Mari Alkatiri.
“Sou defensor da língua portuguesa. Mas neste caso a mensagem deve ser entendida pelos eleitores. 90% dos eleitores não vão absorver nada das mensagens”, disse à Lusa.
Além da oposição pública da candidatura de Berta dos Santos, para já nenhum outro candidato criticou publicamente a decisão, anunciada pelo presidente da CNE, José Belo.
José Ramos-Horta, candidato presidencial, disse à Lusa que concorda totalmente com o uso das duas línguas oficiais durante o debate.
“Como é possível imaginar-se um chefe de Estado timorense que não domine as duas línguas oficiais de Timor-Leste, sendo Timor-Leste membro da CPLP?” (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), disse Ramos-Horta, que ocupou a presidência entre 2007 e 2012.
Outro candidato, Constâncio Pinto, disse à Lusa concordar “perfeitamente com o uso da língua portuguesa no debate da CNE porque a língua portuguesa é uma das línguas oficiais de Timor-Leste”.
“Porque é que temos medo no uso da capacidade de falar em português?”, questionou Martinho Gusmão, padre e candidato presidencial.
Lere Anan Timur, general e candidato à presidência, recorda que foi decisão dos timorenses na sua constituição “optar pelo português com o tétum como línguas oficiais” e que por isso o Presidente do país deve defender as duas línguas.
Opinião idêntica tem a candidata Milena Pires, que disse à Lusa que “sendo o tétum e o português línguas oficiais de Timor-Leste, consagradas na Constituição da República, é natural que ambas sejam usadas no debate presidencial promovido pela CNE”.
Opinião idêntica têm Isabel Ferreira, Milena Pires e Virgilio Guterres, candidatos que disseram à Lusa que as línguas estão constitucionalmente consagradas e que por isso devem ser usadas no debate.
Ainda assim, Virgilio Guterres reconheceu que “uma percentagem significativa dos eleitores ainda não domina a língua portuguesa”.
O candidato Mariano Assanami Sabino vinca mesmo que “o Presidente tem papel guardião da constituição e é necessário também usar o português”.
Outro candidato, Felizberto Duarte lembrou que as leis "a serem promulgadas pelo presidente são escritas em português. Domínio de português dos candidatos para o cargo de presidente é um requisito essencial de competência”, disse à Lusa.
A utilização da língua portuguesa no debate já devia ter acontecido em eleições anteriores, defendeu o candidato Anacleto Ferreira. "Só espero não esteja a ser usada esta obrigação como uma arma política”, disse à Lusa.
O debate da CNE está marcado para 8 de março e a primeira volta das eleições ocorre a 19 de março.
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