O cancelamento de consultas foi precisamente o efeito mais visível da greve dos médicos no hospital e centros de saúde de Vila Real, embora muitas outras consultas tenham também decorrido com normalidade.
Ao início da manhã, o cenário na unidade de Vila Real do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) era igual ao de outros dias: parque de estacionamento cheio e salas de espera também com muitos utentes, sentados ou em pé.
Armando Felizardo Fernandes veio de propósito de Vila Pouca de Aguiar para a consulta que tinha agendada no hospital, mas ao chegar deparou-se com o facto de o seu médico ter aderido à greve.
“Não sabia de nada. Pusemo-nos a pé às 06:00 para vir a esta consulta de controlo de sangue que tenho todos os meses. Agora, ficou marcada para sexta-feira”, afirmou.
Maria do Espírito Santo Pinto veio da aldeia de Nogueira, no concelho de Vila Real, para uma consulta.
“Paguei 15 euros de carro para vir hoje, aconteceu isto e tenho que vir cá outra vez na sexta-feira. Causou muitos transtornos, sou uma mulher doente e faz-me falta o dinheiro”, contou.
Dina de Jesus acompanhou o marido ao hospital para uma consulta de cirurgia que já estava marcada desde junho. “Chegamos aqui e informaram-nos que o médico está de greve, não sei é em geral tudo ou se é só alguns. A sala de espera está cheia”, afirmou aos jornalistas.
Se soubesse que hoje era dia de greve, Dina teria ficado em casa, até porque a manhã estava “muito fria” na cidade transmontana.
Maria Isabel Basílio também teve de reagendar a consulta de oncologia. “Estava à espera de ser chamada e disseram-me para vir embora e que depois me mandariam uma carta para casa. Só lá dentro é que soube que havia greve e bem que podiam ter avisado mais cedo”, lamentou.
Já a consulta que o pai de Natália Gonçalves tinha marcada para hoje decorreu com toda a normalidade. “Fez ontem (terça-feira) uma cirurgia às cataratas e hoje tinha que ser visto. Correu tudo bem, sem atrasos nem nada”, referiu.
No centro de saúde de Mateus, em Vila Real, Manuel Catalão foi atendido pelo médico de família, na consulta e ainda levou a vacina contra a gripe.
“A mim parece-me um dia normal lá dentro”, salientou.
Já Manuel Correia lamentou não ter sido avisado da greve que levou ao adiamento da consulta que estava marcada pelo menos há meses.
“Agora, amanhã vem uma pessoa da aldeia de Fonteita outra vez atrás do médico. Isto é complicado, perde-se tempo, gasta-se gasóleo e anda-se de carra para trás e para diante.
A greve dos médicos decorre hoje em todo o país e foi convocada pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e Federação Nacional dos Médicos (FNAM) face à ausência de resposta do Governo às propostas dos sindicatos.
Os médicos reivindicam uma redução de horas extraordinárias anuais obrigatórias, as chamadas horas de qualidade (durante a noite), a redução do trabalho de urgência das 18 para as 12 horas semanais e a redução da lista de utentes por médico de família dos atuais 1.900 para os 1.500.
Comentários