Autoridades atualizam o plano de vacinação
A diretora-geral da Saúde anuncia a entrada na "fase da abundância" de vacinas, permitindo alterar o plano de vacinação. "Uma mudança muito importante é a vacinação rápida por faixas etárias decrescentes", diz Graça Freitas. "O principal objetivo da nossa campanha de vacinação é salvar vidas", sublinha.
Nesta fase da vacinação serão ainda incluídos nos grupos prioritários as pessoas com doença oncológica ativa (a fazer quimioterapia ou radioterapia), pessoas com situação de transplantação, pessoas com imunossupressão, doenças neurológicas, doença mental (por exemplo esquizofrenia), obesidade (acima dos 35% de massa corporal) e diabéticos.
Graça Freitas especificou que grande maioria dos diabéticos serão vacinados pela sua faixa etária, no entanto, abaixo dos 60 há diabéticos tipo 1 ou 2 que podem ter doença grave e que integrarão os grupos prioritários.
Assim, "a estratégia será feita por faixa etária e por doenças graves", havendo a possibilidade de estas últimas serem definidas pelos médicos, já que nem todas estão previstas na norma.
O anúncio, feito em conferência de imprensa, conta com a presença da ministra da Saúde, Marta Temido, da diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, do presidente do Infarmed, Rui Ivo, e do coordenador do grupo de trabalho para a vacinação, Henrique Gouveia e Melo.
Gouveia e Melo destaca que hoje estamos "numa fase de transição", caracterizada pela possibilidade de acelerar o plano de vacinação. "O plano está a adaptar-se à realidade", disse o militar, adiantando que deverá ser possível vacinar cerca de 100 mil pessoas todos os dias, durante quatro meses.
"Todas as experiências e toda a preparação indicam que vamos ter sucesso nesse desígnio, confirmando-se a chegada das vacinas previstas".
AsraZeneca e Janssen: Estamos a avaliar em maior detalhe toda a informação recebida
Sobre a vacina do laboratório AstraZeneca, o presidente do Infarmed referiu que as informações recebidas estão a ser avaliadas em maior detalhe. Rui Ivo diz que esta avaliação deve permitir perceber com mais detalhe a utilização desta vacina.
Já sobre a vacina da Janssen, que ainda não está a ser administrada em Portugal, Rui Ivo sublinhou que os casos de coágulos sanguíneos são "muito raros", e frisa o benefício-risco positivo. Para as quatro vacinas cuja utilização foi aprovada na União Europeia existem, assim "condições para a sua utilização", sublinha o presidente do Infarmed.
Marta Temido diz que Portugal vai seguir a recomendação da Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês), aguardando que as agências nacionais dos países europeus decidam, em uniformidade, se é necessário haver critérios etários para a administração da vacina da Janssen (Johnson & Johnson).
"A decisão já existe: o regulador europeu do medicamento já disse que a avaliação risco-benefício permanece positiva, é maior a vantagem na administração da vacina do que os riscos", sublinha.
"Em relação à Janssen, aquilo que as nossas autoridades nacionais vão fazer é analisar os documentos da EMA e fazer uma tradução desta regra para a nossa realidade nacional", frisando que neste momento não há qualquer restrição ao uso da vacina no grupo etário que está agora a ser vacinado com maior ênfase — pessoas acima dos 70 anos.
“O Plano de vacinação é focado nos mais de 70 anos. Neste momento não há qualquer restrição desta vacina neste grupo etário”, disse Marta Temido em conferência de imprensa.
Na terça-feira, a Agência Europeia do Medicamento concluiu que há uma possível relação entre a formação de coágulos sanguíneos e a vacina da Janssen, na sequência de terem sido registados oito casos de pessoas que desenvolveram coágulos sanguíneos em quase sete milhões de pessoas vacinadas nos EUA.
Estes casos dizem respeito a mulheres com idades entre os 18 e os 49 anos, um dos quais fatais, e foram reportados cerca de três semanas após serem vacinadas. Ainda assim, o regulador europeu garantiu que os benefícios gerais da administração da vacina norte-americana continuam a superar os riscos.
Em resposta aos jornalistas, a ministra disse que "a comissão técnica de vacinação contra a covid-19 está ainda a analisar e a rever as decisões da EMA para verificar se há ajustamentos a fazer na aplicação da vacina no nosso país".
Marta Temido insiste que a EMA voltou a dizer que apesar das reações conhecidas, a relação risco-beneficio é vantajosa, acrescentando que os oito casos raros aconteceram nos Estados Unidos maioritariamente em mulheres com menos de 60 anos.
A ministra adiantou que foi pedida uma avaliação mais apurada relativamente aos grupos etários e também para decidir a propósito da segunda toma dos que levaram a primeira dose da Astrazeneca e têm menos de 60 anos.
Esta informação pedida pelas autoridades portuguesas deverá ser conhecida até ao final da semana.
“Estamos dependentes destas decisões”, frisou Marta Temido.
Rio Ivo acrescenta que "dispomos de um sistema de monitorização muito robusto, bem articulado com as autoridades de outros países", sublinhando a confiança nesta estrutura. "Todas as vacinas [aprovadas na UE] têm um benefício risco claramente positivo; nos eventos raros verificados, não se estabeleceu uma ligação, há uma possível ligação." Ainda esta semana deverão ser anunciadas mais informações sobre os critérios de administração destas vacinas, nomeadamente a estratificação por escalões etários e a segunda dose.
Até lá, nem o presidente do Infarmed, nem a ministra da Saúde esclareceram se a vacina da Janssen vai efetivamente ser já usada e se as pessoas com menos de 60 anos a quem esteja prevista a vacinação nesta fase poderão, ou não, ser vacinadas com doses deste laboratório.
Há uma semana Portugal recebeu as primeiras 31.200 doses da vacina da Janssen, que ficaram armazenadas a aguardar decisão do regulador europeu numa primeira fase, mas que o país vai incluí-las "com a maior brevidade possível" no plano de vacinação, disse Marta Temido.
O presidente do Infarmed disse ainda que haverá uma aceleração nas entregas das vacinas da BioNtech/Pfizer e Moderna que estavam previstas para o quarto trimestre, embora na Moderna sejam quantidades mais reduzidas.
O responsável adiantou no caso da Janssen haverá um aumento das entregas, explicando que até final de abril serão entregues mais de 100.000 vacinas e até final de junho 1,7 milhões.
Sobre a utilização da vacina da Janssen em Portugal, o coordenador da ‘task force’ adiantou antes desta conferência apenas que a decisão da Agência Europeia do Medicamento estava a ser analisada pelas autoridades de saúde nacionais.
A Johnson & Johnson anunciou na terça-feira que vai retomar o envio de vacinas para a União Europeia, Noruega e Islândia, no seguimento de recomendação positiva da Agência Europeia do Medicamento.
Portugal já recebeu 2,9 milhões de doses de vacinas
No total das vacinas dos vários laboratórios, Portugal já recebeu cerca de 2,9 milhões de doses de vacinas, disse hoje Marta Temido. Cerca de 2,7 milhões destas doses foram já administradas, acrescentou ainda a ministra da Saúde. "Cerca de 20% da população portuguesa tem já algum tipo de imunidade" — 7% da população já tem as duas doses. Para além disso, 91% das pessoas com mais de 80 de anos de idade têm uma dose feita e que 58% tem as duas doses.
Marta Temido disse ainda que 96% dos óbitos de covid-19 registados aconteceram em pessoas com mais de 60 anos.
"Se conseguirmos a sua vacinação até ao final de maio ou terceira semana de maio, teremos esse grupo protegido e isso é um aspeto importante para a segurança de todos", frisou.
Para o futuro, a ministra da Saúde adianta que "vamos agora entrar numa fase de maior disponibilidade de vacinas", ultrapassado já "um problema de escassez". "O principal desafio é o da fluidez, o da celeridade do processo de administração de vacinas".
Determinante para este processo será o agendamento, assegura Marta Temido, bem como a capacidade de os centros de vacinação realizarem a sua missão.
O teste do passado fim de semana mostrou que as estruturas "parecem estar à altura dos desafios que enfrentamos", garante a ministra, salientando o "enorme esforço de adaptação" das várias instituições ligadas ao processo. "Mas não posso deixar de sublinhar que nenhuma destas estruturas teriam conseguido estes resultados sem a colaboração de outros ministérios — como o da Defesa Nacional, da Administração Interna, mas também o da Educação e da Modernização Administrativa — mas também as autarquias", destaca.
Portal para o auto-agendamento da vacina disponível na próxima semana
A ministra da Saúde anunciou que o portal para o auto-agendamento da vacinação contra a covid-19 estará a funcionar na próxima semana.
“Pensávamos que [o portal] pudesse estar já a funcionar, mas houve necessidade de readaptar a agenda de trabalho em função do que foi a alocação de recurso ao processo de vacinação em massa de docentes e não docentes”, afirmou Marta Temido.
A ministra lembrou ainda que o portal do Serviço Nacional de Saúde, no espaço para a vacinação covid-19, “tem vindo a progredir”, permitindo o uso de um simulador para os utentes verificarem se estão na lista das inscrições para cada uma das fases de vacinação. Permite ainda a quem é seguido no setor privado inscrever-se para vacinação, através do médico que o segue.
A governante disse ainda que as funcionalidades desta ferramenta serão reforçadas, com a possibilidade de optar pela vacinação em local diferente do da residência.
Recuperados há mais de seis meses serão vacinados a partir do fim de maio
A diretora-geral da Saúde anunciou ainda que quem recuperou da covid-19 há mais de seis meses começará a ser vacinado no final de maio, assim que terminar a vacinação das pessoas com mais de 60 anos. Graça Freitas sublinhou que as pessoas que recuperaram da doença “nunca foram esquecidas”, frisando que a escassez de vacinas levou as autoridades a tomar a opção de não as vacinar, até porque a infeção confere alguma imunidade.
“Foi uma opção, tendo em conta a escassez de vacinas, não administrar vacinas a pessoas já com alguma imunidade natural [da infeção] quando tínhamos população sem qualquer imunidade”, afirmou.
Adiantou ainda que após estarem vacinadas as pessoas com mais de 60 anos, o que se prevê aconteça no final de maio, serão vacinados os recuperados que tenham tido a doença há mais de seis meses, a contar da data da cura.
"Nesses seis meses há evidência científica de que a imunidade é muito boa, será até melhor do que a da própria vacina. Por isso, também apenas terão uma primeira dose, porque já tem imunidade natural e depois ser-lhes-á conferida imunidade artificial", afirmou.
Num comunicado conjunto, a Ordem dos Médicos, o Sindicato Independente dos Médicos e a Federação Nacional dos Médicos defenderam hoje que estes profissionais, por estarem na linha da frente, mesmo que tenham tido a doença devem ser vacinados, pois a imunidade não permanece ao longo do tempo.
Segundo Graça Freitas, em Portugal são cerca de 900.000 as pessoas que já tiveram a doença e não foram até hoje vacinadas.
Problemas numa operação desta dimensão irão sempre acontecer
Questionado sobre a inutilização de cerca de 2.400 doses de vacinas esta quarta-feira em Famalicão, Gouveia e Melo admite que irá sempre haver problemas — "é virtualmente impossível, o que temos de fazer é evitar incidentes ao máximo e investigar os incidentes e corrigir as causas ou atribuir as consequências necessárias a quem teve o ato de negligência ou de dolo". "Apesar de tudo, é uma percentagem ínfima", sublinha.
Uma falha elétrica durante a madrugada de hoje no centro de vacinação de Famalicão provocou a inutilização de vacinas contra a covid-19, afirmou a autarquia. Contactado pela Lusa, o gabinete de comunicação da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, no distrito de Braga, confirmou a ocorrência de uma falha elétrica, não detetada, durante a madrugada de hoje no centro de vacinação, que terá provocado a inutilização de vacinas contra a covid-19.
(Artigo atualizado às 15:01)
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