A ideia de implementar o ‘Pedalar Sem Idade’ na cidade do Porto partiu de Sílvia Freitas, a atual coordenadora do projeto, que depois de ouvir Ole Kassow, fundador do ‘Cycling Without Age’ na Dinamarca, não hesitou em juntar os colegas do Rotary Club Porto Portucale e dar início à “luta pelo direito ao vento nos cabelos”.
Sílvia ambicionava tirar os idosos dos lares, levá-los para a rua e mostrar-lhes que ainda pertencem à cidade onde cresceram, trabalharam e viveram. Assim o fez. Em conjunto com a equipa do Rotary, mobilizou esforços e conseguiu, em novembro de 2018, levar a bicicleta adaptada para o Porto.
Desde então, a ‘ventoleta’, como a apelidam, e que transporta dois passageiros por viagem, já conseguiu transformar os passeios e romper com a rotina de 180 passageiros, desde idosos a crianças com necessidades educativas especiais.
“A bicicleta não tem a carga negativa que tem uma cadeira de rodas. Quando vamos passear em bicicleta, as pessoas acreditam que há mais vida para além da casa onde estão isoladas ou do lar onde estão institucionalizadas”, contou, em entrevista à Lusa, Sílvia Freitas.
Cada viagem demora em média 45 minutos “sem pressas” e parte do Edifício Transparente para um passeio à beira mar ou junto à natureza do Parque da Cidade. Sempre que necessário, a bicicleta para, quer seja para falar com surfistas e pescadores quer para dar comida aos patos.
A este projeto, que proporciona “a liberdade que vem da infância”, já se associaram oito instituições e 12 pilotos voluntários, sendo o mais velho Manuel Jerónimo, que, com 78 anos, passeia todas as quintas-feiras durante duas horas.
“Isto também demonstra o impacto do projeto nos pilotos. Se calhar é um bocadinho descurado o efeito positivo e de bem-estar que tem neles”, frisou a coordenadora.
Ana Rodrigues e Cândida Bessa decidiram passar a tarde à boleia da ‘ventoleta’. Se para Cândida o passeio não era novidade, para Ana foi fundamental para perceber o quanto toda a equipa se esforça a “pôr os outros a sorrir e proporcionar-lhes experiências diferentes”.
“Gostei muito do convívio, de falar com o guia, sobre a vida dele, o que o levou a aceitar este voluntariado e, no fundo, conhecer outras vidas. Acho isso muito importante”, afirmou.
Também Maria da Luz e Jorge Tavares, que partilharam uma ‘ventoleta’, consideraram o projeto uma “ideia muito bem pensada”, ao proporcionar um “misto de mar, verdura, animais e natureza”, afirmando em consonância e, sem hesitações, que voltariam a repetir a viagem.
Foi também sem hesitações que Sílvia confessou à Lusa, o quanto gostava que a cidade reunisse “mais condições” para pedalar. Queria conseguir entrar nos lares com a bicicleta vazia e sair com ela carregada de “gente a sorrir”, tal como acontece noutros países, como na Dinamarca, onde existem cerca de 600 bicicletas em funcionamento.
“Numa cidade como a do Porto, em que o fenómeno do envelhecimento é particularmente expressivo, esta missão é ainda mais importante”, frisou.
Neste momento, a equipa que lidera o projeto encontra-se, juntamente com a Domus Social, à procura de “novos percursos” perto dos 16 bairros sociais da cidade, onde, segundo Silvia “há 2.500 idosos em situação de isolamento”.
“Quando conheci o fundador ele disse-me algo que nunca mais me esqueci: imagina-te velha, numa casa que não conheces, com pessoas que não conheces e com as quais não podes partilhar algo em comum da tua vida”, recordou, acrescentando que apesar do trabalho de sinalização e mapeamento de idosos que estão em situações de isolamento no Porto ter sido feito, “faltam ações que possam dar uma resposta de integração eficiente”.
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