“Um recrudescimento dos combates no leste da República Democrática do Congo [RDCongo] forçou pelo menos 11.000 pessoas a fugir para a fronteira ugandesa desde domingo à noite”, disse uma porta-voz do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Shabia Mantoo, numa conferência de imprensa em Genebra.
“Trata-se do mais importante afluxo de refugiados num só dia no país desde há mais de um ano”, acrescentou.
Segundo Mantoo, citada pela agência France-Presse, a grande maioria dos refugiados são mulheres e crianças.
Homens armados não identificados atacaram e ocuparam, na noite de domingo para segunda-feira, quatro localidades controladas pelo exército da RDCongo na zona de Bunagana, um importante posto aduaneiro situado a 80 quilómetros de Goma, capital da província de Kivu Norte, no leste da RDCongo, junto à fronteira com o Uganda.
O exército responsabilizou os antigos rebeldes do Movimento 23 de Março (M23), mas a direção do grupo armado negou ter estado na origem dos ataques.
Ao final do dia de segunda-feira, o exército congolês anunciou ter recuperado todas as suas posições.
“Já não restam combatentes do M23 em Rutshuru. Temos o controlo total da situação”, disse o porta-voz adjunto das Forças Armadas da RDCongo, Sylvain Ekenge, aos ‘media’ locais.
Citado pela EFE, Ekenge disse que os presumíveis rebeldes do M23 que atacaram as posições militares congolesas procediam do Ruanda e regressaram a esse país após os ataques, acusação já hoje rejeitada pelas autoridades ruandesas.
“Este ataque teve origem no Uganda e os rebeldes retiraram-se para lá”, assegurou o exército do Ruanda, citado pela agência espanhola.
“Qualquer informação que diga que os rebeldes procediam ou se retiraram para o Ruanda é propaganda dirigida a minar as boas relações entre o Ruanda e a RDCongo”, acrescentou.
O M23 surgiu como grupo rebelde em inícios de 2012, constituído sobretudo por soldados que haviam desertado do exército congolês em protesto contra o Governo.
O grupo foi derrotado pelo exército da RDCongo e pelos capacetes azuis da missão da ONU no país (Monusco) em 2013, após 18 meses de guerrilha e a tomada da cidade de Goma no final de 2012.
O leste da RDCongo é cenário há mais de 20 anos de um conflito alimentado por milícias rebeldes e ataques do exército governamental, apesar da presença da Monusco, que mantém cerca de 14 mil “capacetes azuis” na região.
A falta de alternativas e garantias de estabilidade e subsistência levaram milhares de cidadãos da RDCongo a pegar em armas e, segundo a ferramenta de acompanhamento da segurança Kivu Security Tracker, a região é agora campo de batalha de pelo menos 122 grupos rebeldes.
As autoridades congolesas mantêm as províncias de Kivu Norte e de Ituri em estado de sítio desde 06 de maio para combaterem os grupos armados que aterrorizam as populações civis.
O Presidente Félix Tshisekedi substituiu as autoridades civis por oficiais do exército e da polícia.
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