“97% de Portugal é mar”. A percentagem foi relembrada por Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, ao estender a leitura até ao limite máximo da Zona Económica Exclusiva (ZEE), com 1,7 milhões de km2 de dimensão marítima comparados com os 91 mil km2 da extensão terrestre.

Por essa razão, “é impossível não pensar no oceano e não estar na linha da frente para o proteger”, sustentou o homem forte do Turismo de Portugal durante o “Let’s Sea: The Waves for The Future”, um side-event oficial da Conferência dos Oceanos, que decorreu no Parque das Nações.

“A economia azul (60% do turismo) tem um enorme potencial para o país. Pode trazer a investigação e o conhecimento atrelados, bem como o usufruto dos oceanos de uma maneira responsável e esse é o nosso propósito”, afirmou Araújo ao SAPO24 à margem do evento, que juntou responsáveis da MEO, EDP, World Surf League (Liga Mundial de Surf) e o surfista Garrett McNamara, o “senhor Nazaré”.

Para Luís Araújo, a economia azul “terá um papel ainda mais importante” nos próximos tempos e deverá funcionar como uma espécie de hub, ao juntar à sua volta, num ecossistema, “empresas, parceiros, organizações e governos”, assinalou.

“Temos de perceber que começamos a estabilizar objetivos. E que há parcerias fortes para estabilizar estes objetivos”, assegurou. “Temos de jogar em várias frentes. É uma questão de regulamentação por parte dos governos, mas também de atitude, responsabilidade individual (opções de consumo e comportamentos) e coletiva, e é bom ver empresas e organismos a assumirem este compromisso”, assinalou.

O responsável por “vender” o país nos mercados externos deixou, no entanto, um lamento: “vivemos muito de costas voltadas para o mar, o nosso ADN, a nossa maneira de ser, seja em Portugal ou noutro qualquer país”, sublinhou.

A contrabalançar realçou a “importância do surf”, que diz ser “uma atividade com olhos postos no mar, lúdica, mas pode trazer muito mais, e por isso estamos envolvidos”, comentou.

“Queremos elevar a questão a outro nível. Que o mar seja usufruído a nível turístico, mas que possa trazer grandes benefícios para o país e para o planeta. E já traz do ponto vista ambiental, económico e lúdico”, garantiu.

Luís Araújo quer ainda aproveitar a visibilidade conquistada pelo turismo nacional ao longo dos últimos anos para gerar mais consciencialização sobre o tema, juntando outros stakeholders à luta pela proteção dos oceanos. “A nossa grande responsabilidade é proteger e promover os nossos oceanos”, finalizou.

Let’s Sea: The Waves for The Future
créditos: DR

Pranchas sustentáveis até 2028

2028. Este será o ano da terceira presença do Surf como modalidade olímpica (depois de Tóquio e Paris). E será também uma meta colocada pela MEO à Liga Mundial de Surf para aceitar o compromisso de que todas as pranchas em competição sejam sustentáveis até esse ano, passando a ser feitas a partir “não só do plástico” recomendou Ana Figueiredo, presidente Executiva da Altice Portugal na sua intervenção neste evento.

A empresa tecnológica tem como portfólio na matéria o projeto “The Unwanted Shapes” – baseando-se na construção de pranchas de surf de alta-performance sustentáveis, cuja primeira edição decorreu em 2019.

Um documentário em 10 episódios para mudar a atitude das novas gerações

Preparar jovens talentos para a competição enquanto se mostra a importância dos oceanos e a necessidade de uma nova atitude e cultura em relação ao planeta água. Este é o propósito do “Surf for Tomorrow”, projeto apresentado por Vera Pinto Pereira, administradora da EDP.

Embora aos novos talentos sejam dadas oportunidades formativas, de treino e competição em eventos mundiais, a energética vira, no caso em concreto, a bússola para a cultura do surf e para a mudança de hábitos e comportamentos. “Não é só treinar miúdos” ou dar oportunidade aos talentos para “competir em eventos mundiais”. É, acima de tudo, “contar a história do oceano em 10 episódios”, disse.

“O oceano é o nosso estádio” 

Emily Hofer, diretora de sustentabilidade da World Surf League, presente no painel de oradores, foi clara na sua intervenção: “o oceano é o nosso estádio”, o palco do qual os surfistas profissionais dependem. Por essa razão, o futuro da modalidade está indexado ao estado de “saúde” e preservação dos oceanos.

“Mais que eventos”, a estrutura governativa do surf mundial quer “inspirar os nossos fãs a tomarem ações”, sustentou. Alertou não existir diálogo suficiente sobre a proteção dos oceanos e destacou o peso dos surfistas como formadores de opinião e influenciadores. “Os atletas são a chave”, atirou. “São heróis e os fãs querem saber o que comem e o que fazem. Se ele estiverem preocupados com algo, os fãs também vão querer saber”, anotou.

Garrett McNamara, o americano que apresentou o "Canhão na Nazaré" ao mundo, apanha a mesma onda da responsável da WSL. “Ligar as histórias de surfistas à sustentabilidade faz a diferença e inspira”, frisou.

O surfista que a meta de 2028 “está ao alcance”, mas “espera aprender um pouco mais sobre estas pranchas”, informou em declarações ao SAPO24. McNamara classificou como “refrescante todos (empresas, WSL e Turismo de Portugal) juntarem forças e estarem alinhados para tomarem as melhores decisões no que concerne o planeta”, referiu ainda.

“Cabe a cada um de nós ser um exemplo e pensar nas ações mais sustentáveis e responsáveis”, avisou. “Optamos, por vezes, pelo mais fácil, mais conveniente, mas não sustentável”, comentou. “Não sou perfeito, mas há opções simples: não usar garrafas de plástico e usar uma garrafa reutilizável. Mas para tal, todas as empresas devem ter um dispositivo, uma estação, onde possa encher essa garrafa e aí resolvíamos esse problema do plástico”, finalizou.