A World Wide Fund for Nature (WWF) apresentou ontem um relatório no qual aponta um “desempenho abaixo da média” por parte de todos os países do Mediterrâneo na questão dos resíduos de plástico. Esse fracasso leva a perdas de 500 milhões de euros por ano, diz o relatório.
Num comunicado divulgado esta sexta-feira pela Associação Natureza Portugal (ANP), que em Portugal trabalha em associação com a WWF, alerta-se que apesar da proximidade o impacto dessa poluição no mediterrâneo em Portugal ainda não está avaliado e desconhecem-se os efeitos que pode vir a ter no mar e nas costas nacionais.
Ângela Morgado, da ANP/WWF, diz que a organização está a fazer essa avaliação e que “em breve apresentará um relatório sobre a poluição por plástico” na costa portuguesa.
Todos os anos, diz o comunicado, 0,57 milhões de toneladas de plástico entram nas águas do Mediterrâneo, o que é equivalente a despejar 33.800 garrafas de plástico no mar a cada minuto.
“A poluição por plástico continuará a crescer, prevendo-se que a produção na região quadruplique até 2050”, diz a organização.
O relatório da WWF, “Parar a inundação por plástico: como os países do Mediterrâneo podem salvar o seu mar”, analisa o sistema de gestão de plástico de todos os países do Mediterrâneo e avalia o seu desempenho no combate à poluição por plástico ao longo da cadeia de valor.
E deteta falhas e responsabilidades quer dos produtores, quer das autoridades, quer dos consumidores, sendo as atividades costeiras responsáveis por metade do plástico que entra no mar.
Nas contas da WWF, todos os dias cada quilómetro de costa mediterrânica acumula mais cinco quilogramas de plástico marinho.
Por zonas, segundo o documento, a Cilícia turca (região a sul da Anatólia) é a mais poluidora do Mediterrâneo. E entre os litorais mais contaminados estão destinos turísticos como Barcelona e Valência (Espanha), Telavive (Israel), Marselha (França) ou Veneza (Itália).
O lixo marinho custa ao setor de turismo, pesca e marítimo cerca de 641 milhões de euros por ano, afirma-se no comunicado.
E nele denuncia-se ainda que muitos dos países que já têm problemas com a gestão de resíduos estão também a importar grandes quantidades de resíduos, o que quer dizer, entende a WWF, que muitos dos plásticos exportados para reciclagem para esses países podem acabar em aterros, incineradoras ou lixeiras a céu aberto.
Depois de 2018, quando a China restringiu a importação de resíduos plásticos, a Turquia tornou-se um dos dez importadores mundiais de resíduos, principalmente do Reino Unido, Bélgica e Alemanha, diz a ANP/WWF.
No Mediterrâneo, acrescenta ainda, a Itália é um dos poucos países com um fluxo separado de recolha de plástico, recolhendo 38% dos seus resíduos. Na Grécia, Turquia e Tunísia estima-se que metade dos resíduos recolhidos para reciclagem está contaminada e, portanto, perdida. E os países do sul reciclam menos de 10% dos seus resíduos.
Outros dados divulgados no comunicado indicam que por ano são colocadas no mercado 38 milhões de toneladas de plástico pelas empresas mediterrânicas, que os residente e turistas, principalmente de França, Itália e Turquia, geram mais de 24 milhões de toneladas de resíduos de plástico por ano, e que mais de metade dos produtos de plástico chegam à lixeira menos de um ano após a produção.
E dizem ainda que a cada ano 2,9 milhões de toneladas de lixo são abertamente despejadas em locais não controlados, especialmente no Egito e na Turquia.
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