Num discurso feito por videoconferência durante os trabalhos da 77.ª Assembleia Geral da ONU, que decorre desde terça-feira na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, Zelensky insistiu que a Ucrânia irá sair vencedora na guerra contra a Rússia e que vai obrigar os soldados russos a deixar o país.
“Podemos voltar a hastear a bandeira ucraniana em todo o nosso território. Podemos fazer isso com a força das armas. Mas precisamos de tempo”, afirmou o Presidente ucraniano.
O decreto aprovado hoje de manhã por Putin sobre a mobilização foi escasso em pormenores. As autoridades russas, através do Ministério da Defesa, disseram que podem ser mobilizados cerca de 300.000 reservistas.
Aparentemente, refere a agência noticiosa Associated Press (AP), as medidas de Putin são um “esforço para ganhar um novo impulso para combater a contraofensiva ucraniana” que, ao longo das últimas semanas, reconquistou vastas áreas do território que o exército russo tinha tomado.
Mas a primeira convocatória do género na Rússia desde a Segunda Guerra Mundial (1939/45) também traz a luta para o próprio país, correndo-se o risco, sustenta a AP, de “atiçar a ansiedade e a antipatia domésticas em relação à guerra”.
Logo após o anúncio de Putin, lembra a AP, os voos para fora do país foram rapidamente preenchidos e centenas de pessoas foram presas em manifestações antiguerra.
Um dia antes, as partes controladas pelos russos no leste e sul da Ucrânia anunciaram planos para a realização de referendos sobre a integração na Rússia.
Os líderes ucranianos e os aliados ocidentais consideram que os referendos serão ilegais.
Zelensky não discutiu os desenvolvimentos ao pormenor, mas sugeriu que qualquer conversa russa sobre negociações é apenas uma “tática de adiamento”, em que as ações de Moscovo “falam mais alto do que as palavras”.
“Eles [russos] falam sobre negociações, mas anunciam uma mobilização militar. Eles falam sobre as negociações, mas anunciam pseudo-referendos nos territórios ocupados da Ucrânia”, sustentou.
A Rússia ainda não falou na Assembleia Geral da ONU, estando previsto que o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, discurse no próximo sábado.
O discurso de Zelensky foi marcante não apenas pelo conteúdo, mas também pelo contexto. Aconteceu após o anúncio da mobilização anunciada por Putin.
Por outro lado, foi a primeira vez que o Presidente ucraniano, trajando a habitual camisola verde, se dirigiu aos líderes mundiais desde a invasão da Rússia em fevereiro.
Zelensky defendeu que Moscovo esta a preparar as suas tropas para uma nova invasão no inverno e a preparar fortificações enquanto mobiliza mais tropas no maior conflito militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
“A Rússia quer guerra. É verdade. Mas a Rússia não será capaz de parar o curso da história”, disse Zelensky, acrescentando que “a humanidade e a lei internacional são mais fortes” do que o que considerou ser um “Estado terrorista”.
Estabelecendo várias “pré-condições para a paz” na Ucrânia, que às vezes chegam a prescrições mais amplas para melhorar a ordem global, o Presidente ucraniano pediu aos líderes mundiais que retirem à Rússia o voto nas instituições internacionais, bem como o poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, argumentando com o facto de os “agressores precisam ser punidos e isolados”.
A luta já provocou alguma movimentação contra a Rússia em vários órgãos das Nações Unidas.
Em março, a assembleia votou esmagadoramente pela condenação da agressão russa à Ucrânia, exigiu um cessar-fogo imediato e a retirada de todas as forças russas, pedindo ainda proteção para milhões de civis.
No mês seguinte, em abril, membros de um número menor, mas ainda dominante, votaram pela suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Mas, como membro permanente do principal órgão da organização, o Conselho de Segurança da ONU, a Rússia tem vetado qualquer exigência para que ponha termo ao ataque à Ucrânia.
O discurso de Zelensky foi um dos mais aguardados numa reunião que se centra este ano sobre a guerra na Ucrânia.
Mas não foi a primeira vez que o Presidente ucraniano, que cumpre o primeiro mandato, esteve no centro das atenções na reunião anual da assembleia.
Na Assembleia Geral do ano passado, Zelensky comparou a ONU a “um super-herói aposentado que há muito se esqueceu de quão grandes já foram”, ao repetir apelos para confrontar a Rússia sobre a anexação da península da Crimeia na Ucrânia, em 2014, e apoio de Moscovo aos separatistas.
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