Roger Federer deixa cair o pano num percurso na alta-roda iniciado em 1998 e cumpre hoje o último jogo da sua carreira profissional ao longo de 24 anos. Antigo campeão mundial de juniores, medalha olímpica em Pequim 2008 e prata em Londres 2012, fá-lo-á ao lado de Rafael Nadal, com quem formará par na despedida.
Os dois estarão no mesmo lado do court, e não separados por uma rede, e farão parte da mesma equipa no torneio por si criado, o Lavers Cup, na cidade (e país), Londres, Inglaterra, onde ganhou o maior dos 20 Grand Slam conquistados (8 deles em Wimbledon, recordista e mais um que Peter Sampras) e não em Basileia, a sua cidade natal, conforme seria o desejo natural do tenista suíço, no ATP 500, este mês.
Nadal será, assim, a mão esquerda que embala a última vez da poderosa direita de Federer. Lesionado desde a edição de 2021 do mais antigo torneio do mundo realizado na relva do All England Lawn Tennis and Croquet Club, piso no qual se estreou na primeira final e arrebatou a primeira vitória dos quatro maiores torneios do ATP, o maior tenista de todos os tempos, aconselhado pelos médicos, despede-se no único encontro (pares) em que participará na 5.ª edição do Laver Cup (19h00, transmissão Eurosport).
A europa domina torneio de homenagem a um australiano
Criado em 2017, o evento é disputado entre duas equipas, Europa e Resto do Mundo, esta composta por jogadores de países não-europeus. Seis jogadores de cada lado (e um suplente) e uma lenda do ténis como capitão, Bjorn Borg e John Macenroe.
Vestidos com a camisola da Europa estão Roger Federer, Rafael Nadal, Novak Djokovic, Andy Murray, Casper Ruud e Stefanos Tsitsipas. Matteo Berrettini será reserva. Thomas Enqvist será o vice-capitão.
Perfilham na equipa Mundo, Félix Auger-Alissime, Taylor Fritz, Denis Schwartzman, Jack Sock, Alex De Minaur e Frances Tiafoe. Tommy Paul será reserva e Patrick McEnroe, o vice-capitão:
O nome do torneio é uma homenagem ao australiano Rod Laver, dono de 20 títulos de Grand Slam (11 em singular, 6 em pares e 3 em duplas mistas).
A Europa venceu todas as edições. Roger Federer participou consecutivamente entre 2017 e 2019, com seis vitórias e nenhuma derrota em singulares e duas vitórias e três derrotas e, pares.
Cinco anos separam os dois tenistas hoje integrados na seleção Europa vs Resto do Mundo. Federer, suíço de 41 anos, e Nadal, espanhol de 36, defrontam-se no jogo 4, o último do primeiro dia, os americanos Francis Tiafoe e Jack Sock. Jogam três sets, como os jogos de singular, e, em caso de empate, o último jogo será até 10 pontos, como um tiebreak.
Rafa Nadal carrega o número 3 da hierarquia mundial. Por sua vez, o “dono” do torneio sobe ao court sem número. E isto porque o ranking se baseia na pontuação das últimas 52 semanas e Federer, que entrou em 1997 como 803.º lugar e ocupava a 97.ª posição da tabela antes do início do torneio de Wimbledon, em 2021, está sem competir desde então.
40 jogos entre os eternos rivais. 24 vitórias de Nadal, 16 de Federer
Não é no histórico de confrontos contra o outro lado da rede que os holofotes centram atenções esta noite no 02 Arena. O foco nestas horas da despedida está na estatística do bate bolas entre os dois que hoje batem lado a lado.
Os dois tenistas defrontaram-se 40 vezes ao longo da carreira. O maiorquino venceu em 24 ocasiões. Já o tenista nascido na capital cultural helvética triunfou 16 vezes.
Tudo começou em 2004. No ATP Masters 1000 Miami, na Flórida, piso duro, Rafael Nadal venceu pelos parciais 6-3, 6-3 na ronda 32. Um ano depois, no mesmo local, Roger Federer ganha a primeira final (em 24) entre ambos (2-6; 6-7; 7-6; 6-3 e 6-1). Os dois rivais realizaram o último duelo na relva de Wimbledon, semi-final deste Grand Slam ganha pelo suíço (3-1 em sets).
A última final entre a mais antiga e duradoura rivalidade do ténis (e atrevemo-nos a dizer, do desporto) remonta ao Masters 1000 de Shanghai, na China, em 2017. Nesse ano, Federer foi quem ganhou o direito a atirar bolas de jogo ao público, num ano em que repetiu a dose em mais dois torneios, Miami 1000 e Open da Austrália (Grand Slam).
Das 24 finais em que se defrontaram, 9 foram em torneios de Grand Slam. A vantagem nesse campo ficou do lado de Rafa Nadal. 6 contra 3. Quatro dessas vitórias foram conquistadas no território preferido do espanhol: Roland Garros, onde elevou o troféu 14 vezes e o transformou no rei do pó de Tijolo.
Roger Federer, 103 títulos, 1251/275 no deve e haver de vitórias e derrotas, diga-se, participou em 31 finais de Grand Slam, tendo, como se sabe, ganho 20 e perdido 11. Foi o primeiro tenista a bater a barreira dos 20.
Nadal soma 21 conquistas, mais um que o tenista natural de Basileia e Novak Djokovic (faz parte da equipa Europa na Laver Cup). O sérvio entra ao barulho, e pode continuar com o espanhol, completando o triângulo dourado. Os três, somaram 62 dos últimos 75 Grand Slam. Os três representam ainda uma rivalidade que permite concluir que nenhum deles seria o que é se não fossem os outros dois, com enfoque especial no espanhol e no suíço.
A dupla “Fedal” lado a lado por causas
A rivalidade em campo não impediu que ambos, Rafa e Roger, hoje unidos como a dupla “Fedal”, orientassem ao longo do percurso o jogo para as mesmas causas. Por exemplo, a 22 de dezembro de 2010, em Madrid, Nadal, então n.º um mundial, chamou o rival com quem disputava a liderança no ténis para participar num jogo de beneficência organizado pela Fundação Nadal (2007) e cuja receita reverteu para apoiar a Special Olympics e a Fundação Vicente Ferrer. No total, 1 milhão de euros angariados.
Se Roger Federer angariou 132 milhões de euros em prémios nos torneios jogados, a Fundação que leva o seu nome, criada há 18 anos, gerou igualmente milhões ao longo do tempo.
Uma postura fora de campo que permanecerá e ajudará a catalogá-lo como o GOAT a ser recordado muito para além do adeus. Ou não tivesse conseguido estar no top-3 de todas as métricas possíveis: títulos de Gran Slam, torneios ganhos, semanas como número 1 mundial e muitas outras ao longo dos 24 anos de carreira.
Das 31 finais de Grand Slam, venceu 20 – 8 em Wimbledon, 6 no Australian Open, 5 no US Open e um em Roland Garros. Acrescem as semi-finais (46) e quartos de final (58) em 81 torneios. Ostenta ainda o record na Era Open de 81 Majors, dos quais resultaram 369 triunfos.
O tenista suíço esteve 310 semanas como n.º1. Embora seja abaixo de Djokovic (373), dessas 310 semanas, 237 foram seguidas. Isto é mais de quatro anos e meio no topo do mundo do ténis. Um mundo que deixará a partir de hoje.
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