A NBA vai começar e há duas perguntas que precisam de ser feitas: 1) este é mesmo um ano em que não há um claro favorito à conquista do título e 2) faz sentido investir num bom corretor de olheiras ou os fãs podem assumir os seus ares ensonados sem problema?
Não há um claro favorito ao título, embora as duas equipas de Los Angeles partam um pouco à frente das restantes no Oeste, enquanto no Este a ida às Finais deve ser decidida entre Philadelphia 76ers e Milwaukee Bucks. Numa segunda linha, e porque questões como lesões ou química (o chamado «fit») podem colocar em causa a época de uma equipa, não podemos deixar de fora do lote com aspirações de ganhar o anel formações como os Houston Rockets, os Golden State Warriors e os Utah Jazz, todos no Oeste, e os Boston Celtics, no Este. Se isto não são motivos suficientes para abastecer os stocks de café e de corretor de olheiras, não sei o que será.
Os Raptors são os campeões em título mas revalidá-lo é uma miragem, certo?
Chegar às Finais do Este já é uma miragem e daquelas muito desfocadas. O «repeat» dos canadianos é uma verdadeira utopia. Nos playoffs, uma equipa é tanto mais forte quanto mais brilha a sua estrela principal. Após a saída de Kawhi Leonard, a estrela dos Raptors é Pascal Siakam, a quem o conjunto de Toronto acaba de estender o contrato por mais quatro anos, a troco de 130 milhões de dólares. É um boa fundação a médio prazo, mas curta para o imediato.
Vamos então olhar para as conferências e para as mudanças que o verão trouxe. Na Conferência Este, a “bomba” do verão foi o primeiro triplo da carreira do Ben Simmons ou a chegada de Kyrie Irving e Kevin Durant a Brooklyn?
Kyrie e KD em Brooklyn foi, claramente, a maior bomba do verão. Uma bomba que promete explodir apenas na próxima época, quando Durant estiver totalmente recuperado das lesões que sofreu nos playoffs de junho passado. Até lá, veremos se o rastilho do treinador Kenny Atkinson não é demasiado curto para aturar o ego inflado de Kyrie.
Ainda no Este, Miami viu chegar Jimmy Butler e Kemba Walker aterrou em Boston. Qual dos dois vai ter mais impacto na equipa? E algum deles vai ser All-Star quando chegarmos a fevereiro?
Ambos terão impacto nas respectivas, embora de formas diferentes. Jimmy Butler vem preencher a lacuna de «star power» que existia em Miami e levar o seu gene «clutch» para South Beach, mas será capaz de assumir sozinho o papel de «go-to guy»? Já Kemba Walker representa, numa perspectiva meramente individual, um «downgrade» em relação ao antecessor Kyrie Irving, mas parece ser muito melhor «fit» no sistema do treinador Brad Stevens. No que diz respeito ao All-Star, Kemba deve ser vítima do estilo colectivo dos Celtics, pelo que Butler poderá estar mais perto de marcar presença no jogo das estrelas, em fevereiro.
O que é mais provável: o Vince Carter, aos 42 anos (vai fazer 43 durante a época), protagonizar um afundanço de 360 graus durante o jogo, ou os New York Knicks irem aos playoffs?
Pedir um 360 ao Vince Carter é o mesmo que pedir aos Knicks para serem campeões. Nem uma, nem outra. Mas um afundanço, sem floreados, de «Half (very old) men, half amazing» é uma hipótese.
Assim sendo, quem são os teus favoritos para ocupar os oito primeiros lugares no Este e seguir para os playoffs?
76ers, Bucks e, talvez, os Celtics vão lutar pelos lugares de topo da conferência. Os campeões Raptors descem para uma segunda linha de equipas, a par de Heat, Nets e Pacers. Sobra apenas uma vaga, que deve ser discutida entre Bulls, Pistons e Magic.
Mudemos para a Conferência Oeste. Depois do verão, qual é a equipa mais forte de Los Angeles: os Clippers de Kawhi Leonard e Paul George ou os Lakers de LeBron James e Anthony Davis?
Boa pergunta. Os Clippers sacaram duas das maiores trutas do defeso, incluindo o MVP das Finais. Juntam a dupla a uma equipa já de si coesa, que defendia bem e que é treinada por uma das mentes mais brilhantes do jogo, Doc Rivers. Do outro lado do Staples Center, o ainda-apelidado-por-muitos-de-melhor-do-mundo LeBron James e o ainda-apelidado-por-quase-todos-de-melhor-big-men-da-liga Anthony Davis uniram forças, para além de se terem juntado a mais uns quantos reforços de qualidade. Não havendo lesões (e já nem conto com o DeMarcus Cousins para esta contabilidade), julgo que os Lakers são ligeiramente mais fortes.
Quem vai ficar melhor classificado no final da temporada regular: os Golden State Warriors ou os Utah Jazz? E porquê?
Os Jazz. A equipa de Salt Lake City contratou muito e contratou bem. Perdeu Ricky Rubio para os Phoenix Suns e Derrick Favors para os Pelicans, mas adicionou o base Mike Conley e o extremo Bojan Bogdanovic. Em ambos os casos, ficou a ganhar. E também acrescentou Emmanuel Mudiay, Jeff Green e Ed Davis ao banco de suplentes. São profundos, têm qualidade, reforçaram as posições mais deficitárias e vão ser um dos conjuntos mais competentes no meio campo defensivo de toda a NBA. São, por tudo isto, candidatos ao top4 do Oeste. Os Warriors? Perderam Kevin Durant, Andre Iguodala e Shaun Livingston, e não vão contar com Klay Thompson até ao All-Star Game (fevereiro do próximo ano). São, por tudo isto, candidatos a falhar os playoffs, se Steph Curry e Draymond Green não forem capazes de segurar as pontas.
Ainda no Oeste, o furacão Zion chegou a New Orleans e as primeiras indicações na pré-época parecem mostrar que aquele que muitos dizem ser o maior prodígio a chegar à NBA desde LeBron James pode ter um impacto imediato. Os Pelicans com Zion podem chegar aos playoffs?
Com Zion, sim. Sem ele, como vão estar durante os dois primeiros meses da época, julgo que não. O calendário dos Pelicans é muito difícil no arranque de temporada e poderão ficar demasiado atrasados na corrida aos playoffs quando, e se, Zion voltar em condições de contribuir como todos esperam.
Russell Westbrook deixou Oklahoma para se juntar a James Harden em Houston. Vai ser incrível ou vai dar raia e a equipa texana vai ter de arranjar uma bola para cada um?
Vai ser incrível assistir à raia que deve dar esta história. Em Houston, a bola foi, é e vai continuar a ser de James Harden. Westbrook, que soube partilhar o protagonismo com Paul George em Oklahoma City, terá novo desafio na carreira: ser declaradamente a segunda opção do ataque e ter muito menos bola. Terá ele paciência para aguentar um ano inteiro a ver a borracha laranja colada às mãos do barbudo? Como vai o base encaixar no sistema de Mike D’Antoni se é um dos mais ineficazes lançadores de três pontos da história do jogo?
Em Dallas a Lukamania vai continuar? Quão pode crescer o jovem esloveno nuns Mavericks órfãos de Dirk Nowitzki?
A «Lukamania» vai continuar e vai subir de tom com a chegada de Porzingis. A dupla «Donzingis» precisa de outras peças à sua volta para poder competir de igual para igual com as equipas de topo do Oeste. Será um ano de desenvolvimento para o esloveno e de recuperação da melhor forma para o letão.
Bom, tendo em conta tudo isto, quem são os teus favoritos para ocupar os oito primeiros lugares no Oeste e seguir para os playoffs?
Os Lakers e os Clippers são as duas equipas mais fortes, profundas e equilibradas no Oeste, mas até é possível que os Rockets vençam mais jogos na fase regular. E os Jazz podem ficar no top4, embora Warriors e Nuggets também estejam na corrida. Para os dois lugares restantes, quatro equipas: Trailblazers, Pelicans, Spurs e Kings.
E prémios individuais? Queres deixar as tuas previsões?
MVP (e melhor marcador da liga) para Steph Curry… se Giannis Antetokounmpo não continuar a melhorar todos os seus itens estatísticos. ROY para Zion, se fizer mais de 50 jogos. Caso contrário, Ja Morant recebe o galardão. Anthony Davis rouba o DPOY a Rudy Gobert e Joel Embiid, Terry Rozier vence o MIP apesar da ameaça de Shai Gilgeous-Alexander, e Bogdan Bogdanovic interrompe a série de conquistas do 6th Man of the Year a Lou Williams. Quanto ao COY, Doc Rivers supera Quin Snyder. Notou-se muito que quis apresentar mais do que um candidato a cada prémio?
Antes de irmos embora, ajuda-me a perceber uma coisa... Durante os últimos anos, Donald Trump fez vários tweets que, de uma forma ou de outra, atacavam a China. O que aconteceu então para um tweet de Daryl Morey (General Manager dos Houston Rockets) a mostrar-se solidário com os protestos em Hong Kong provocar uma espécie de incidente diplomático?
Tenho dúvidas se não terá sido o tal triplo Ben Simmons a originar tudo. Afinal de contas, os Philadelphia 76ers defrontavam uma equipa chinesa na altura… Na verdade, o tweet de Daryl Morey teve muito impacto na China – e o impacto financeiro futuro ainda está por estimar - porque os Rockets são apenas e só a equipa que mais simpatia recolhe (e mais merchandising vende) naquele país, por força da antiga passagem do lendário poste Yao Ming pela formação do Texas. Depois, a intervenção do comissário da NBA, a favor da liberdade de expressão, também não foi muito bem acolhida em Pequim, sobretudo quando foi revelado que o governo chinês entrou directamente em contacto com Adam Silver para exigir a demissão do GM dos texanos, o que foi prontamente recusado pelo homem forte da NBA.
As conversas sobre a melhor liga de basquetebol do mundo estão de volta ao SAPO 24. As grandes contratações deste defeso, os protagonistas da época que se avizinha e as consequências do conflito entre a NBA e a China vão ser alguns dos temas abordados numa conversa marcada para esta terça-feira que contará com a presença de João Dinis, Ricardo Brito Reis e Pedro Pinto.
Transmitida no Facebook e no Twitter do SAPO24 a partir das 12h30 horas, a conversa não seria a mesma sem a participação dos nossos leitores, por isso, terá a oportunidade de se juntar ao painel e colocar, não só as suas perguntas, mas também as suas apostas para a nova temporada da NBA.
Comentários