O jogador, que esta época está emprestado ao Sporting de Braga, foi ouvido na 13.ª sessão do julgamento da invasão à academia ‘leonina’, em 15 de maio de 2018, com 44 arguidos, incluindo o ex-presidente Bruno de Carvalho, que decorre no Tribunal de Monsanto, em Lisboa.
O médio identificou dois dos elementos, que agiram de cara destapada, um deles tinha um “dente de ouro” (arguido Leandro Almeida) e deu uma “chapada” a Fredy Montero. Quando o agressor se preparava para dar mais uma chapada no jogador colombiano, João Palhinha interveio e disse que “aquilo era escusado e desnecessário”, cessando as agressões.
Alguns elementos do Sporting ainda tentaram fechar a porta do balneário, mas não conseguiram impedir a entrada dos invasores.
“Desataram aos socos a alguns dos meus colegas e ameaçaram. Foi tudo muito rápido e bastante intensa a maneira como foram aqueles momentos. A maneira como entraram, estavam obviamente chateados e desataram aos socos e aos pontapés. O Fredy Montero estava ao meu lado e levou uma chamada na cara. Também o Battaglia e o Acuna levaram uns socos. Vi o Rui Patrício e o William Carvalho a levarem socos”, descreveu o futebolista.
A testemunha acredita que Montero “não era dos principais alvos e que levou por tabela”, sublinhando, no entanto, que, da maneira como os invasores entraram no balneário, “quem encontrassem primeiro, levava”.
Para João Palhinha, os invasores, entre 40 a 50 que foram entrando e saindo do vestiário, tinham quatro “alvos principais”.
“Dirigiram-se mais para o Rui [Patrício], o William, o Acuña e o Battaglia. Eram os principais alvos. Estavam três ou quatro indivíduos de volta do Acuña e do Battaglia a tentar derrubá-los. Quanto ao Rui e ao William, era só um individuo que deu um soco no peito do Rui e do William”, relatou.
Acuña e Battaglia eram um alvo pelos incidentes ocorridos no domingo anterior, 13 de maio, após a derrota com o Marítimo, na Madeira, primeiro no Estádio e depois no aeroporto, com troca de palavras entre adeptos e os jogadores. No caso de Rui Patrício e de William Carvalho, eram alvos por serem os capitães de equipa, acredita Palhinha.
O atleta esteve na reunião de 14 de maio de 2018, véspera do ataque, entre o plantel e o então presidente do clube Bruno de Carvalho, na qual estiveram presentes outros elementos do conselho de administração.
Nessa reunião, segundo João Palhinha, Bruno de Carvalho censurou o comportamento dos jogadores Acuña e Battaglia, na Madeira, acrescentando que o então presidente do clube disse que os atletas “não sabiam com quem se tinham metido”, aludindo a “um dos principais elementos da claque” Juventude Leonina.
O médio da formação do Sporting disse ainda que os elementos que atacaram a academia afirmaram que, caso não vencessem no domingo seguinte a final da Taça de Portugal, contra o Desportivo das Aves, “iriam voltar”.
Além disso, Palhinha ouviu palavras dirigidas a Rui Patrício e a William Carvalho, dizendo-lhes que “eram uma vergonha, que só queriam dinheiro e sair do clube à força toda”.
“Os elementos da claque gritaram ainda: o Sporting somos nós”, salientou, enquanto um dos elementos virou-se para si e ordenou-lhe que despisse o equipamento do Sporting, acrescentando nunca ter ouvido nenhum dos invasores tentar “evitar o que se estava a passar”.
O médio referiu que alguns dos elementos ficaram à porta do balneário a impedir a saída dos jogadores.
“Colocaram-se na porta, a obstruir a saída [do balneário]. Naquele momento estava estupefacto, num estado de nervos e fiquei parado como os meus colegas. Foi uma situação completamente inesperada e ficamos sem reação, ficamos todos parados a olhar para o que estava a acontecer”, relatou João Palhinha.
A testemunha viu um dos elementos com um cinto e a serem lançadas duas tochas, que acionaram o alarme de incêndio, uma das quais atingiu na barriga do então preparador físico Mário Monteiro, relatando que “por pouco não o atingiu na cara”.
Após o ataque e já no exterior do edifício da ala profissional, o médio centro viu o treinador Jorge Jesus com sangue no nariz.
Quanto ao holandês Bas Dost, o único jogador do plantel que estava fora do balneário, o médio afirmou que o viu “magoado e a chorar por ter sido atingido na cabeça”.
Após o ataque, João Palhinha desabafou ao pai que “não queria voltar mais à academia” e que só queria “ir embora” do clube. Hoje, em tribunal, revelou que o episódio o marcou.
“Os primeiros tempos não foram fáceis. Tive pesadelos por causa desse ataque, mas agora está completamente ultrapassado. Mas esse ataque à academia retirou um pouco da segurança que tinha dentro daquele clube. Fica-se com receio que as coisas voltem a acontecer”, assumiu.
(Notícia atualizada às 17h44)
Comentários