Se em Portugal há miúdos nas escolinhas de futebol a não querer ser avançados como Lionel Messi, extremos como Cristiano Ronaldo ou pontas-de-lança como Luis Suárez, a culpa também é de Bruno Fernandes.
O médio do Sporting CP, que ocupa uma posição que para muitos se quer despercebida, de mera ligação entre setores, é o espelho vivo de que o futebol moderno não pode continuar a ser visto só pelos golos. Até lá chegar, existe todo um caminho que não pode ser ignorado e cujos intervenientes não devem ser descurados.
Se a temporada passada, na qual Bruno Fernandes foi eleito o melhor jogador a atuar na Liga NOS, o médio leonino ficou com a tarefa da construção e deixou a finalização para Bas Dost, numa época aquém do esperado do holandês e perante uma equipa fragilizada depois de um dos capítulos mais negros da história ter ocorrido, e de quezílias presidenciais internas, o internacional português teve de assumir todo o caminho em direção à baliza.
A expressão “levar a equipa às costas” por vezes confunde-se com um inconseguimento, por um contraste de qualidade dentro da equipa onde um talento maior é reduzido a meia dúzia de momentos ao longo da época. Bruno leva a expressão no sentido mais literal possível.
Esta temporada, no campeonato, o médio participou em quase metade dos golos dos leões. Fez abanar as redes em 20 ocasiões e assistiu 12 vezes para que um colega de equipa o fizesse. As estatísticas de bastidores mostram também que ninguém tenta tanto como o português: Bruno Fernandes é o jogador que mais vezes rematou (122), o que mais rematou na direção da baliza (37) e o que soma mais tentativas de golo (47).
Os números são fantásticos, talvez não condizentes com a posição em que a turma de Alvalade termina a época. Mas tão ou mais importante do que os números, Fernandes merece ser distinguido como a figura da época pela prestação como capitão. Depois do ataque à Academia de Alcochete por parte de um grupo de adeptos, Bruno aceitou voltar e foi-lhe oferecida a braçadeira de capitão, ao mesmo tempo que era criticado pelo público leonino como tendo apenas regressado por ter recebido aumento substancial do ordenado. O médio ouviu, jogou e fez a melhor época da carreira, uma temporada em que ultrapassou Frank Lampard como médio a fazer mais golos numa época nos principais campeonatos europeus. Calou os críticos, mostrou que voltou para fazer mais e melhor.
No final da temporada era recorrente, em Alvalade, ouvir-se o público a gritar com a equipa “ajudem-no”, “ele não pode continuar a jogar sozinho”. É assim que nascem os ídolos.
*por Tomás Albino Gomes
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