“Às vezes, nem uma participação nos Jogos Olímpicos deixa um atleta conhecido, mas no futebol, como sabemos, e não é por provocação, basta ser-se suplente para se ser mundialmente conhecido. Aliás, há várias injustiças. Eu digo, a título de humor, que no futebol o hino até toca antes de jogar e nós no atletismo para ouvirmos o hino nacional temos de ir ao pódio e ser o primeiro”, ironizou Jorge Vieira.
Menos de duas semanas depois de ter deixado a liderança federativa, Jorge Vieira aceitou fazer um balanço dos seus três mandatos à agência Lusa, na pista de atletismo do Centro Desportivo Nacional do Jamor (CDNJ), do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ).
Evocando Mário Moniz Pereira, o agora candidato à presidência do Comité Olímpico de Portugal (COP) reconhece que os talentos portugueses são aparentemente menos desperdiçados no futebol, apesar de reconhecer, de forma indiscutível, que há em Portugal um desporto a duas velocidades.
“Não é preciso ser dirigente desportivo, nem muito conhecedor do desporto português, para saber que temos uma modalidade dominadora, em número de praticantes, condições para a prática e naquilo que é o poder, a capacidade financeira e organizativa […]. Eu tenho aqui uma inveja muito positiva do futebol, por isso mesmo digo muitas vezes que se nós dizemos que o futebol é o desporto rei, eu afirmo que o atletismo é a modalidade rainha”, vincou.
Jorge Vieira equipara a sua modalidade ao ciclismo na popularidade, e Cristiano Ronaldo às grandes referências do atletismo na captação de novos atletas, mas também na representação diplomática.
Nesse sentido, recordou o esforço para juntar os até agora campeões olímpicos portugueses Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Nelson Évora e Pedro Pichardo: “Tentei, mas sabemos que não foi fácil, em determinadas alturas, esse objetivo, mas temos fotografias com eles em que eles estão todos reunidos”.
Mais fácil, mas também mais discreta, foi a gestão do processo de filiação de Pichardo, devido ao diferendo com o Benfica, sem que, contudo, tivessem sobrado dúvidas sobre a sua participação em Paris2024, nos Jogos em que conquistou a medalha de prata, a dois centímetros do campeão Jordan Díaz.
“Eu mantive sempre um acompanhamento desta questão de uma forma muito reservada. Tentei o mais possível que estas questões ficassem reservadas à própria federação […]. O que eu posso afirmar é que nunca houve a dúvida de que o Pedro Pichardo era um atleta filiado, porque, de acordo com os nossos regulamentos, um atleta que tem um contrato plurianual estabelecido, assinado com o seu clube e que esse contrato está depositado na federação, esse contrato serve como prova de filiação”, rematou, assegurando ter mantido sempre o diálogo com o atleta e com o Benfica.
Em março, o conselho da World Athletics, após recomendação da Unidade de Integridade do Atletismo (AIU), exigiu aos portugueses controlos antidoping mais estritos fora de competição para serem elegíveis para os Jogos Olímpicos Paris2024, tal como atletas de Brasil, Equador e Peru.
Uma ‘ameaça’ também ela resolvida discretamente, mas despertando um sentimento diferente a Jorge Vieira.
“Sempre foi com um grande sentido de injustiça que nós vimos esta exigência relativamente aos números de testes realizados. Em primeiro lugar, porque a definição dos testes e a marcação dos testes antidopagem não dependem da federação, dependem, sobretudo, da ADoP [Autoridade Antidopagem de Portugal] e própria ADoP participou neste diálogo intenso com a Unidade de Integridade no Atletismo (AIU)”, recordou, assegurando, no final de contas, terem sido cumpridas todas as exigências.
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