Maryna e Vladyslava cresceram em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, hoje localizada quase na linha de frente. Apesar dos alertas aéreos, dos bombardeamentos e do medo que marcam o seu quotidiano, estas irmãs, de 23 anos, conseguiram classificar-se para os Jogos Olímpicos de Paris em fevereiro, graças ao seu desempenho no Mundial de Doha.
Na capital francesa, onde vão nadar em frente às câmeras do mundo inteiro, sentem que têm "a responsabilidade" de representar o seu país da melhor forma possível.
"É uma grande honra para nós e para toda a Ucrânia, neste momento, representar o nosso país nos Jogos Olímpicos, especialmente em tempos de guerra. Para nós, é uma grande responsabilidade mostrar ao mundo que a Ucrânia pode participar", explicou Vladyslava, que costuma ser tratada por Vlada, em tom sério, numa entrevista concedida à AFP há alguns meses em Paris, durante a sua estadia para participar numa etapa do Mundial de natação artística.
"Já é um grande objetivo estar presente nos Jogos. Fazemos tudo o que podemos para representar o nosso país no mais alto nível", acrescentou.
As dificuldades que as duas atletas, de sorrisos radiantes, tiveram de superar para treinar durante estes dois anos de guerra, em que foram obrigadas a fugir da sua cidade e sobreviver aos bombardeamentos, ampliaram os seus limites e multiplicaram a sua determinação.
Durante meses, tiveram de treinar em Kharkiv, numa piscina sem azulejos destruída durante um ataque de mísseis em 2022, e até mesmo sem um gerador para aquecer a água da piscina quando ocorreram cortes de energia.
"Tudo foi bombardeado: a piscina onde começamos a treinar, a nossa escola, o centro da cidade", disse Maryna, uma jovem de pele clara, olhos acinzentados e longos cabelos castanhos claros, como a sua irmã.
Desde o Mundial, as gémeas tiveram de deixar a cidade para treinar em Kiev. "Entendemos que não poderíamos ter uma boa preparação em Kharkiv, devido às explosões, entre cinco a dez por dia", explicou Maryna.
Mas "temos medo pela família que ficou lá. Fica perto da fronteira com a Rússia, e hoje em Kharkiv não são rockets, são bombas. Muitas coisas foram destruídas. Recentemente, destruíram um ginásio em Kharkiv onde treinam jovens judocas, e vários ficaram feridos", contou ela.
A poucos dias do encerramento dos Jogos de Paris-2024, a Ucrânia acumula oito medalhas, entre elas as de ouro conquistadas por Oleksandr Khyzhniak no boxe, por Yaroslava Mahuchikh no salto em altura e pela equipa feminina de sabre.
Cada vez que um atleta ucraniano sobe ao pódio, o seu país em guerra está presente nos seus pensamentos. No último domingo, Mahuchikh dedicou o título olímpico aos cerca de 500 atletas e treinadores que morreram desde que a Rússia invadiu o país.
As irmãs Aleksiiva, que vão nadar nesta sexta-feira e sábado na piscina do Centro Aquático de Saint-Denis, esperam poder ter igual destino, embora considerem que tiveram de se preparar para a prova olímpica em "condições desiguais" em relação às concorrentes.
Todas as dificuldades, porém, devem ficar fora da água, já que, na natação artística, o sorriso é obrigatório — e isso não mudou nem mesmo durante os treinos sob intensos bombardeamentos.
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