Profissionalmente, Hulk jogou apenas duas partidas no Brasil. Ainda no Vitória, aos 18 anos, sendo a primeira como lateral esquerdo. Construiu a sua carreira toda além-fronteiras e, por isso, teve sempre dificuldade em conquistar a exigente torcida brasileira com a camisola da Seleção. Não tem vínculo emocional com nenhum clube no país e esse factor pesou sempre contra.
Esta temporada "flertou" com o Palmeiras, alegada equipa do coração, mas optou pelo Atlético Mineiro — reforçado pelo poder financeiro dos mecenas. Escolheu o dinheiro, apesar de ser uma equipa que vai lutar pelo topo da tabela, como sempre fez na sua carreira. Não é errado, mas coloca um pouco mais de pressão neste seu regresso a casa.
O Atlético passa por uma mudança de estilo após a saída de Sampaoli para o Marselha. O treinador argentino veio encabeçar um projeto ambicioso de investidores-adeptos que querem alçar o clube ao topo do continente, mas teve um primeiro ano um pouco frustrante, mesmo com o terceiro lugar no Brasileirão. O Galo investiu muito, trouxe praticamente todas as contratações exigidas pelo treinador. No fim, acabou por ficar distante da briga pelo título.
Cuca, experiente treinador brasileiro campeão da Libertadores em 2013, com este Atlético, foi por isso chamado de volta. Mas tem um estilo bastante diferente de jogo e esta transição tem um preço. A equipa ainda não mostra um futebol convincente e os adeptos pressionam. A expectativa é a mãe da decepção. É neste turbilhão que Hulk retorna.
Voltar da China nunca é fácil. Todos os que regressaram mostraram alguma dificuldade em retomar o ritmo de jogo e de treinos do atribulado calendário brasileiro. Sampaoli até podia ter planos para Hulk, mas Cuca chegou e não se sabe se é uma contratação de que gostaria. Não se sabe, aliás, se Hulk valerá o camião de dinheiro nele investido — por ter 34 anos e já não ser aquele jogador, tão potente fisicamente, que se destacou no futebol europeu.
Cuca é, ainda, um treinador com personalidade forte. Sabidamente supersticioso – nunca permite que os autocarros das equipas façam marcha atrás com os jogadores lá dentro – costuma ser amado ou odiado pelos seus plantéis. E Hulk já o confrontou nos primeiros dias, tendo pedido, publicamente, uma sequência de jogos para se adaptar.
Entre alguns percalços em jogos mais fáceis e uma derrota perante o principal rival, o Cruzeiro, que está na segunda divisão e a viver uma situação financeira terrível, Hulk recebeu oportunidades mas o lance de maior destaque tinha sido um "jogo de corpo" que quase tirou o adversário do ecrã.
Contudo, Hulk recebeu os minutos pedidos. Marcou, vindo do banco, os dois golos da vitória sobre o América de Cali, importantíssima na fase de grupos da Libertadores, e o tento final da vitória por 3-0 sobre o Tombense na meia-final do Campeonato Mineiro.
Nesta terça, o Atlético Mineiro recebe o Cerro Porteño para alcançar a liderança do grupo e Hulk deve ter outra oportunidade para mostrar a sua força. Com o Galo ainda a não dar confiança ao adepto, estes esperam ver em Hulk o herói que ele foi contratado para ser.
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