Um porta-voz da delegação confirmou à EFE que a operação de evacuação na antiga sede da empresa ferroviária estatal SNCF, ocupada desde maio de 2021, começou às 7h30 locais (6h30 de Lisboa) e terminou ao início da tarde, tendo contado com 250 elementos da polícia.
No comunicado divulgado após a evacuação desta que era a maior ocupação em França, o departamento calculou que o número de ocupantes expulsos correspondia a 400, contrariando os 450 migrantes divulgados pela organização não-governamental Migrantes Unidos, presente no terreno.
Jhila Prentis, uma voluntária dos Migrantes Unidos, disse que o despejo decorreu sem problemas e que os ocupantes, a grande maioria com estatuto legal em França, foram “sempre colaborantes”.
A ativista criticou o facto do Estado francês não ter dado uma “solução permanente” aos imigrantes após o despejo, referindo o caso de uma mãe refugiada com um bebé de 10 meses a quem foram dadas apenas duas semanas de alojamento, e previu que “muitas das pessoas retiradas hoje serão em breve obrigadas a viver na rua”.
O departamento governamental divulgou que cerca de 90 pessoas com estatuto de refugiado serão provisoriamente alojadas em centros de acolhimento ou em centros administrativos de curta duração (CAES, sigla em francês) na região parisiense e cerca de 100 pessoas em situação “vulnerável” foram realojadas em “alojamentos adaptados”.
“Foi dada uma atenção especial às famílias com crianças”, informou o departamento.
De acordo com o município de Vitry, havia quatro menores a viver na ocupação que frequentavam a escola na cidade.
Os serviços do Estado francês acrescentaram que “cerca de uma centena de pessoas” tinham sido deslocadas para Bordéus e para a região central do Loire, sem fornecer pormenores.
Muitos dos ocupantes expulsos hoje foram afetados por anteriores expulsões no epicentro dos Jogos Olímpicos de Paris, que se realizarão entre julho e agosto de 2024.
A ocupação de Vitry, que se encontrava num edifício abandonado há anos e ocupado desde maio de 2021, duplicou a sua população devido à expulsão de imigrantes de outras ocupações, como a de Île-de-Saint-Denis, a norte de Paris, no coração dos Jogos Olímpicos de Paris, e devido ao encerramento de numerosos abrigos para pessoas em situação precária na cidade.
O coletivo Reverso da Medalha, que reúne 80 organizações não-governamentais (ONGs) que se opõem aos impactos negativos dos Jogos Olímpicos, denuncia há meses “uma limpeza social” de Paris e dos seus arredores para esconder “a miséria, a mendicidade e a solidariedade”.
Segundo as autoridades, a região parisiense de Île-de-France comprou o atual local da ocupação para um projeto de habitação social no âmbito do projeto de transportes da Grande Paris, que deveria ter começado a ser construído em outubro de 2023, uma versão que as ONGs desmentem, defendendo que ainda não existe uma licença de construção.
Em 2023, as autoridades francesas evacuaram a antiga sede de uma empresa especializada em betão em Île-Saint-Denis, perto da futura aldeia dos atletas olímpicos, onde viviam 500 imigrantes.
Em julho deste ano, 150 outras pessoas que se tinham refugiado num local abandonado em Thiais, a sul da capital, foram também despejadas.
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