A última etapa da 106.ª edição do Tour consagrou Bernal, que terminou à frente do britânico Geraint Thomas, colega de equipa na INEOS e campeão no ano passado, e do holandês Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma), pelos quais estará acompanhado no pódio final.
Aos 22 anos e seis meses, Bernal é o terceiro mais jovem a vencer a 'Grande Boucle', depois do francês Maurice Garin, em 1904, e do luxemburguês François Faber, em 1909, assumindo-se como o maior protagonista de uma prova que contou com os portugueses Rui Costa (UAE Emirates), Nelson Oliveira (Movistar) e José Gonçalves (Katusha-Alpecin).
Na etapa final, Ewan impôs-se sobre a meta, nos Campos Elísios, ao holandês Dylan Groenewegen (Jumbo-Visma) e ao italiano Niccolò Bonifazio (Total Direct Energie), segundo e terceiro classificados, respetivamente, concluindo em 03:04.08 horas os 128 quilómetros da tirada entre Rambouillet e Paris.
Tradição colombiana perdura na Volta a França
A consagração de Egan Bernal nos Campos Elísios é o momento mais alto do ciclismo colombiano, uma tradição que tem quase 40 anos e que começou por espantar todos, pela forma pujante como então apareceu na Volta a França.
Antes de Bernal ou sequer Nairo Quintana terem nascido, já uma 'grande volta' tinha sido conquistada por um colombiano - a Vuelta de 1987, que consagrou Lucho Herrera.
O agora cinquentão também estreou as vitórias em etapas de colombianos no Tour, em 1985, abrindo um trilho de sucesso por onde também passou Fabio Parra, o outro 'grande' dessa década.
Depois, muitos outros de boa qualidade se têm destacado no pelotão, que chegou a ter uma equipa no pelotão internacional. Atualmente sem equipas na elite, a Colômbia conta com uma vintena de atletas em ação, nas melhores equipas mundiais.
As raízes de uma tradição que contrasta fortemente com os principais vizinhos continentais, como o Brasil ou a Argentina, chegam à opção política de apostar na bicicleta como meio de transporte e lazer. Ainda nos anos 70, já havia 'massa' para se lançar uma Volta à Colômbia e nos anos 80 para aglutinar os melhores numa equipa forte.
Amadores de início, todos brilharam na Volta a França do Futuro e receberem o primeiro convite do Tour quando este abriu as portas a não profissionais. E para espanto de todos, foi mesmo um amador, Herrera, a ganhar a mítica subida de Alpe d'Huez em 1984.
Em pouco tempo, o ciclismo ia tornar-se a modalidade desportiva mais popular do país, com grande acompanhamento de rádio e televisão nas provas na Europa - são 'lendários' os relatos da Radio Caracol.
Café de Colombia foi o nome que a equipa adotou, com aquele patrocínio a ser completado com o das pilhas Varta. Depois ainda apareceu uma segunda equipa, a Manzana Postobon.
Muitos bons na montanha, os colombianos não o eram tanto nas etapas em linha ou nos contrarrelógios. O seu campo de eleição era mesmo as duras etapas dos Alpes ou dos Pirenéus, onde Herrera conseguiu ser melhor do que todos em 1987 e consagrar-se em Madrid.
Logo no ano seguinte, Fábio Parra fez segundo no Tour, o que permaneceu como o melhor registo final na 'Grande Boucle' até ao segundo lugar de Quintana, em 2013, um ano antes de triunfar no Giro.
De Herrera a Bernal, a lista de campeões colombianos é extensa e até se foi diversificando, em termos de especialistas, a ponto de ter tido um campeão do mundo de contrarrelógio, Santiago Botero, e contar com um dos melhores especialistas do 'sprint', como é Fernando Gaviria.
Mas é mesmo nas rampas acentuadas e longas, na alta montanha, que o legado de Herrera e Parra e do Café de Colombia melhor perdura, como se viu agora com Bernal.
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