Três listas concorrem às eleições dos órgãos sociais da Confederação do Desporto de Portugal (CDP) cujo ato eleitoral está marcado para hoje, 13 de novembro, entre as 12h30 e as 18h30, na sede da CDP em Algés, Lisboa.
Carlos Paula Cardoso, de 76 anos, esteve 21 anos e cinco mandatos à frente da CDP. Sucedeu, em outubro de 2002, a José Manuel Constantino, atual presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), que, dois anos após tomar posse demitiu-se do cargo para liderar o Instituto Nacional de Desporto, antecessor do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Tinha, por sua vez, sucedido a José Santos (1993-2000), o primeiro, desde a fundação, na liderança desta organização privada de federações desportivas.
Daniel Monteiro, ex-presidente da Federação Académica do Desporto Universitário (FADU), Filipa Godinho, pró-reitora para o Desporto na Universidade de Coimbra e Ricardo José, ex-presidente da Federação Portuguesa de Atividades Subaquáticas, encabeçam as respetivas listas e candidatam-se à sucessão de Carlos Paula Cardoso.
O presidente cessante integra uma das listas candidatas, um dos candidatos repete a ida a sufrágio e outro estreia-se ao escrutínio das 52 federações habilitadas a votar na Assembleia-Geral Eleitoral para eleger os órgãos sociais para o quadriénio 2023-2027.
O SAPO 24 abre espaço ao último tempo de antena a quem encabeça a lista aos órgãos sociais da Confederação do Desporto de Portugal.
“O desporto tem que beneficiar de um espaço próprio na grelha da televisão pública”
Daniel Monteiro volta a apresentar-se a sufrágio à liderança da Confederação do Desporto de Portugal depois de ter perdido por apenas um voto contra Carlos Paula Cardoso, em 2019.
O ex-presidente da Federação Académica de Desporto Universitário, antigo membro do Conselho Nacional do Desporto (2015 e 2019), é acompanhado por Miguel Teixeira, (Mesa da Assembleia Geral), Luís Ferreira (Conselho Fiscal) e Luís Paulo Relógio (Conselho Jurídico), especialista em Direito Desportivo.
Aos 32 anos, Daniel Monteiro vinca o propósito da segunda ida às urnas. "Implementar um projeto de reforço institucional e político para a Confederação do Desporto de Portugal, que resulte no fim do vazio político que existe no desporto nacional”, assume em tom crítico para o status quo vigente. Um vazio existente “porque a CDP não se tem dedicado a uma presença institucional forte, mediática e reivindicativa”, reforça.
Prossegue nas críticas. “São as famílias que pagam o desporto nacional através dos jogos de sorte ou azar e pelo que investem para que os seus filhos acedam à prática do desporto”, aponta. “O Estado central não investe um euro do seu próprio orçamento no desporto”, refere. “E a CDP não tem uma palavra para isso”, lamenta.
Fecha o livro das reclamações, abre o capítulo das propostas. Apresenta a construção do “Atlas do Desporto Nacional”, que mais não é que “uma radiografia completa do desporto nacional, município a município ao qual qualquer cidadão possa aceder”, indica.
Deseja igualmente a criação de uma “Academia do Desporto” dedicada à “formação e à disponibilização da investigação científica desportiva”, bem como a criação do “Balcão das Federações”, para “modernizar a gestão do desporto nacional numa lógica de serviços partilhados facilitando o dia-a-dia das federações desportivas”, anota.
Daniel Monteiro considera ainda “fundamental que a CDP esteja envolvida na negociação do contrato de concessão da Rádio e Televisão Pública portuguesa”, assume. “O desporto tem de beneficiar de um espaço próprio na grelha da televisão pública e a CDP tem de conseguir que as modalidades cheguem a todas as televisões”, dispara.
Transformar o desporto português no “grande motor de desenvolvimento social e comunitário que pode e deve ser”
Filipa Godinho, 34 anos, doutorada em Ciências do Desporto, membro do Conselho Nacional do Desporto e vice-presidente da European Non-Governmental Sport Organisation (ENGSO), integrou a Direção da Confederação nos últimos oito anos. Terá a seu lado o atual presidente da CDP, Carlos Paula Cardoso, na presidência da AG, Anabela Reis (Conselho Fiscal) e Sofia Silva e Sousa (Conselho Jurídico).
“Apesar do Desporto ser um motor fundamental da sociedade e impulsionador de setores tão importantes como a educação, a saúde, a cultura, a inclusão, o turismo ou a economia”, no fim do dia, “recebe cerca de 60% menos que a média dos países europeus”, compara Filipa Godinho.
“[O desporto] Não é devidamente considerado nos documentos produzidos pelo governo que sinalizam as prioridades de desenvolvimento do país, que não está, à sua dimensão e importância, espelhado no Orçamento do Estado, fatores que o impossibilitam de gerar os resultados que lhe são devidos por falta de recursos – financeiros, técnicos ou infraestruturais”, assinala. A Confederação, deve, por isso, nos próximos 4 anos, “comprometer-se com um plano estratégico de ação e valorização do desporto português num contexto de grande eficácia e efetividade”, contrapôs.
Realçando a vocação central da Confederação do Desporto de “representar e reivindicar junto da tutela por melhores políticas públicas” para o desporto, propõe-se transformá-lo no “grande motor de desenvolvimento social e comunitário que pode e deve ser”.
Antiga líder da FADU, Filipa Godinho, destaca ainda quatro pontos estratégicos do seu programa. Dois da área financeira e fiscal, outro jurídico e o último, digital.
“Batalhar por um novo framework de financiamento num quadro temporal mais alargado que dê estabilidade financeira às federações e lhes permita planear a sua atividade a médio e longo prazo, e apresentando uma solução de fundo solidário direcionado a todas as federações”, refere.
Deseja um regime tributário que atribua ao desporto “uma discriminação positiva em termos de impostos, reconhecendo o papel social benévolo e fundamental que este tem para a construção de um país mais saudável”, sublinha. Na esfera do enquadramento legal e destaca a necessidade do reconhecimento da figura do Dirigente Desportivo benévolo. Defende, no caso concreto, “a atribuição de um benefício fiscal às dezenas de milhares de pessoas que voluntariamente se entregam ao desporto, sem salário, e que merecem o devido reconhecimento”, destaca.
Por fim, Filipa Godinho quer modernizar a CDP “dando resposta às alterações climáticas e à necessária transformação digital – Data Analytics & Business Intelligence – através do Observatório do Desporto”. Esta estrutura terá como “vocação recolher, tratar e analisar dados que ilustrem o real valor do setor e o seu impacto na sociedade”, finaliza a candidata que encabeça a Lista B.
“É fundamental termos na Confederação uma entidade com capacidade de representar, negociar, influenciar, sugerir, reivindicar”
Ricardo José, 48 anos, é um homem do mar. Licenciado em Educação Física e Desporto e doutorando em Sociologia e Gestão Desporto, antigo presidente da Federação Portuguesa de Atividades Subaquáticas é elemento da direção da Agência Independente do Desporto e do Mar.
Na Lista C cabe Alexandre Miguel Mestre, antigo Secretário de Estado do Desporto e Juventude, Adélio Costa (Conselho Fiscal) e José Fanha Vieira, ex-vice-presidente do Instituto do Desporto de Portugal (Conselho Jurídico).
O peso e a voz política, à imagem do que também defende Daniel Monteiro, é crucial para Ricardo José, antigo membro da Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas e atual vice-presidente da União Ibero-Americana de Atividades Subaquáticas. “É fundamental termos na Confederação uma entidade com capacidade de representar, negociar, influenciar, sugerir, reivindicar”, enumera.
O antigo atleta (natação) é claro. Para além dos stakeholders do sector desportivo, desportistas e federações, a própria CDP deve adotar uma atitude “proativa, construtiva, de marcar a discussão”, realça Ricardo José que destaca o papel social e político do desporto como um dos pontos-chave da sua candidatura".
A Confederação do Desporto não se pode limitar a ter um papel meramente contemplativo, ou no limite, reativo, perante a realidade em que está inserida”, sustenta. “É imperioso que a CDP seja uma estrutura viva, que represente as federações desportivas nacionais e tenha uma ação proativa, não só de apoio pontual às suas associadas, mas sim de ajuda na criação de soluções que ajudem na transformação, para melhor, de toda a estrutura do desporto nacional”, reforça.
A alteração do status quo, do qual é crítico, só é alterado “com uma verdadeira a valorização política e social do desporto”, frisa. A valorização “só será efetiva quando o Estado, a sociedade, todos nós, o reconheçam devidamente”, atira. “Não podemos, enquanto sociedade, enquanto Estado, termos como meta o aumento da taxa de prática desportiva, a promoção de um estilo de vida ativa e saudável, e depois não alocarmos verbas do Orçamento Geral do Estado para o desporto”, alerta.
Acena a bandeira do financiamento por via dos Jogos Sociais. “Temos um desporto em que o Estado tem transferido para os jogos sociais via Santa Casa o papel de principal financiador. É precisamente este paradigma, esta lógica, este modelo de financiamento que importa transformar”. Uma alteração que passa pela necessidade fulcral de “alocar verbas do Orçamento Geral do Estado para o desporto”, foca Ricardo José.
Por fim, o apoio às federações e ao desporto nacional, a Lista C quer implementar a criação de “Gabinetes Operacionais de apoio às federações”, para potenciar o efeito multiplicador do desporto na sociedade”, explica, gabinetes, esses, que devem apoiar candidaturas a Fundos Europeus, Desporto para Todos e Desporto Escolar, apoio jurídico, contabilístico e financeiro e, por fim, comunicação e marketing.
As federações têm agora a palavra. Caso nenhuma das listas obtenha a maioria dos votos expressos na Assembleia-Geral Eleitoral, haverá uma segunda volta com os dois candidatos mais votados.
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