Aos 27 anos, a internacional portuguesa, licenciada em Educação Física, que cresceu entre o futsal e o futebol, é uma das escolhidas do selecionador Francisco Neto para o Europeu de futebol feminino, começa já a projetar outra carreira.
“Tenho que começar a pensar no meu após futebol e neste momento não agencio nenhum jogador, não posso, sou atleta, mas a minha sócia é que o faz, ela é que é agente, mas o objetivo será mesmo esse, como estou na área do futebol e como o futebol feminino tem crescido o objetivo passa cada vez mais por reconhecer as equipas, as atletas, participar no desenvolvimento da modalidade e posteriormente também agenciar atletas, está tudo ligado, faz todo o sentido e por isso que é tenho investido”, contou.
Atualmente ainda são algumas as resistências das atletas na consultadoria e gestão das suas carreiras, contudo Melissa Antunes tem a convicção de que será mesmo esse o futuro, em que os femininos acompanhem a ‘normalização’ dos masculinos.
“Poder contribuir para aquilo que não tive, que fui tentando ter e que aos poucos estamos a conquistar e agora as coisas começam a aparecer, os atletas já começam a ter agentes desportivos e espero que daqui a uns anos seja a coisa mais natural do Mundo”, referiu.
É um crescimento gradual, que ainda faz Melissa multiplicar-se pelo desporto e outras atividades profissionais que desenvolve ao longo da semana, num dia a dia sem tempo para muito mais.
“Pela primeira vez estou a receber para jogar [no Sporting de Braga], claro que não é suficiente para me sustentar, também trabalho, depois do treino, das 14:00 às 19:00 desloco-me para o meu escritório e trabalho, tem que ser, caso contrário teria dificuldades”, referiu.
Duas profissões a que junta as aulas que leciona à sexta-feira na Universidade de Fafe e o lançamento do agenciamento de jogadores, num negócio ainda em fase inicial, mas em que perspetiva poder ajudar futuras jogadoras.
“Este é um sonho pelo qual a gente luta, é histórico, é a primeira vez"
“Este é um sonho pelo qual a gente luta, não de dias, mas de anos, todas nós jogamos há muitos anos e temos vindo a trabalhar para estar numa fase final, é histórico, é a primeira vez, portanto a ansiedade está cada vez maior, dia após dia”, disse a jogadora no final do primeiro dia de treinos na Holanda.
A seleção feminina portuguesa chegou no sábado à noite à localidade de Oisterwijk e hoje de manhã foi recebida por alguns adeptos holandeses na primeira sessão de treinos no campo de Oirschot Vooruit.
“Foi positivo, fomos muito bem-recebidas, as pessoas aqui são muito simpáticas, receberam-nos bem e também ficámos muito surpreendidas com a organização de todo o ‘staff’, porque desde que chegámos tivemos um autocarro com a nossa bandeira, todo equipado à Portugal, depois no hotel também estava tudo muito bem organizado, bem pensado, ficámos muito satisfeitas e sentimo-nos verdadeiramente confortáveis”, revelou a jogadora.
Melissa Antunes, que foi das poucas entre as 23 jogadoras que não fez nenhum dos dez jogos da fase de qualificação, explicou os motivos desta convocatória com a entrada em dezembro no Sporting de Braga e no regresso ao futebol 11, depois de também ser sido internacional no futsal.
“Estive fora da seleção de futebol AA durante muitos anos porque tinha mudado de modalidade, praticava futsal, obviamente que não era convocada para a seleção de futebol, em dezembro mudei-me para o Sporting de Braga, é um clube que trabalha muito bem, o meu treinador apostou em mim”, justificou.
A transição da modalidade de pavilhão para o futebol de 11 teve coisas positivas e poderá dar ao jogo na relva contributos que se tornam importantes, especialmente para uma jogadora que atue no meio-campo.
“Jogar curto, o jogar próxima, dar um toque e passar, as tabelas, por isso é que jogo no meio-campo, temos que fazer muitos passes, talvez dos jogadores que fazem mais passes, claro que isso me ajudou bastante, também a explosividade, porque num campo reduzido temos que ser mais explosivos, ser mais reativos e claro que tudo isso, joguei muitos anos futsal, e com certeza que transporto isso também para o futebol”, explicou.
A seleção feminina voltará a treinar na segunda-feira em Oirschot, antes de na terça-feira seguir para Doetinchem, cidade do primeiro jogo no Europeu, na quarta-feira diante da Espanha (18:00 locais).
A estreia portuguesa contará já com o vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Humberto Coelho, que é hoje esperado na Holanda, e terá nas bancadas o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues.
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