A Inglaterra começou esta quinta-feira, a 25 de março, a campanha de qualificação para o Campeonato do Mundo. Após enfrentar, e derrotar, a seleção de San Marino por cinco bolas a zero, os ingleses têm ainda mais dois embates pela frente até ao regresso do futebol de clubes. Esta tripla jornada, apesar de fazer parte da qualificação para o Mundial a disputar-se em 2022 no Qatar, para nós, espectadores, serve-nos para percebermos em que ponto está a equipa inglesa e o que esperar da mesma no Euro 2021, que arranca a 11 de Junho.
Antes de referir o que esperar da selecção comandada por Gareth Southgate, há que destacar o facto de o poder económico de uma liga poder jogar contra a seleção desse mesmo país. Isto porque a capacidade de compra da maioria das ligas inglesas — como prova o facto de existirem seis equipas, ou oito, se juntarmos Everton e Leicester City, a poderem competir pelas posições cimeiras — leva a que a qualidade de jogadores ingleses não esteja concentrada numa equipa ou sistema. A chegada à Premier League dos melhores praticantes europeus e mundiais, condiciona a utilização e desenvolvimento, nalguns casos, de jogadores nacionais.
Os exemplos mais marcantes são os de Alemanha e Espanha, equipas recentemente dominadoras do futebol europeu, que tiveram como base as espinhas dorsais de Barcelona e Bayern Munique, por exemplo. Este é um facto importante, uma vez que permite que a transição para o futebol de seleções seja mais suave e o rendimento de grupo leve menos tempo a ser desenvolvido. Isso não é, contudo, o único fator em causa para o rendimento das seleções. Caso o fosse, o Brasil não era pentacampeão mundial.
A fartura atacante de uma seleção à procura da glória
Com um rendimento quase imaculado — apenas uma derrota em oito jogos —, a seleção inglesa foi uma força demolidora durante toda a qualificação para o europeu. Terminando no primeiro lugar do grupo A, a Inglaterra apresentou uma diferença de golos de +31 nos oito jogos disputados. 37 foi o número total de golos marcados, sendo que o segundo classificado, a República Checa, marcou apenas treze. Uma força demolidora que, esperam os adeptos ingleses, seja o segredo de uma possível primeira conquista europeia.
O poderio atacante inglês passa por Harry Kane, Dominic Calvert-Lewin, Ollie Watkins e Jamie Vardy, sendo que este último não foi chamado para os jogos de qualificação a disputarem-se esta semana, tendo regressado de lesão há poucas semanas.
A fazer companhia a quatro avançados não só de luxo, mas todos eles diferentes, complementando-se na zona de finalização, temos Phil Foden, Raheem Sterling, Marcus Rashford, Jesse Lingard, Jadon Sancho, Jack Grealish. Outros nomes poderão surgir, mas nenhum deles estará tão perto da convocatória para o Euro 2021 como os referidos.
Em quatro pontas de lança e seis avançados, as opções e possibilidades são tremendas. Ainda assim, e recorrendo à formula acima mencionada, a ligação entre talento é mínima. Apenas duas ligações duplas em clubes — os duos Sterling-Foden do Manchester City e Grealish-Watkins no Aston Villa — são pouco para montar uma equipa já formatada e pronta a competir dentro das rotinas de clube.
O grande problema do atual futebol inglês
Sem mencionar de imediato os nomes mais prováveis na convocatória de Gareth Southgate, é necessário levantar a possibilidade de um problema sistémico. Com a formação de novos talentos, a seleção inglesa encontra-se num momento único na sua história. Provavelmente, pela primeira vez de sempre, se optasse por jogar com cinco jogadores criativos na frente, esta equipa poderia equiparar-se a qualquer outra seleção no mundo, no campo da técnica, velocidade e finalização. Contudo, o desequilíbrio entre a produção ofensiva e a segurança defensiva mantém-se enorme.
Tanto assim é que a indecisão de Gareth Southgate entre o 4x3x3 e o 3x4x3 serve um pouco de explicação para o mesmo. A evolução do atacante inglês é de tal forma superior à do defesa, que o jogo praticado por uns e por outros está a anos luz. Isto não só tem implicações técnicas, na forma de sair a jogar por exemplo, como implicações táticas e estratégicas.
Estando o eixo central da defesa potencialmente entregue a Harry Maguire, John Stone, Tyrone Mings, Eric Dier e Conor Coady, o futebol praticado esperar-se-ia ser mais de combate, de coesão defensiva e de guerra nas alturas. A discrepância não poderia ser maior. O que fazer nesta situação? A solução é difícil de encontrar, uma vez que não se poderá desaproveitar o valor dianteiro, nem se conseguirá formar defesas em três meses. Assim sendo, Gareth Southgate terá de colocar todas as suas esperanças num sistema que permita à equipa inglesa expôr os seus jogadores mais recuados o mínimo possível.
Uma das opções tentadas têm sido através de um meio campo a quatro, e atenda-se ao pormenor de que, quando o este sistema tem sido utilizado, Southgate coloca Kyle Walker como um dos três centrais, de forma a adicionar alguma velocidade para a eventualidade de bolas nas costas da defesa.
Nas laterais, os problemas e polémicas não são menores. Na esquerda, frente a San Marino, Southgate apresentou aquele que, na minha opinião, é o melhor lateral esquerdo inglês da atualidade, Ben Chilwell. Contudo, Luke Shaw parece levar vantagem sobre o concorrente direto. Na direita Trent Alexander-Arnold foi a grande surpresa desta jornada tripla. A não convocação do lateral direito do Liverpool é sinónimo de o quão irregulares as linhas defensivas inglesas estão. James Justin, agora lesionado até ao final da época, podia ser a solução perfeita. Contudo, nem essa seria suficiente para colmatar um problema que será apenas resolvido com formação.
Poderei estar enganado, mas a recusa, compreensível, em jogar um futebol mais prático, mais pragmático, protegendo assim a sua linha defensiva de estar exposta a lances com espaço nas suas costas, será o grande problema duma equipa ainda em fase de construção identitária. O processo de revolução e reestruturação do futebol inglês, que já aqui tive oportunidade de mencionar algumas vezes, continua a boa velocidade, mas ainda existem lacunas que só o tempo poderá resolver.
Esta semana no futebol inglês
Além da vitória fácil sobre San Marino, podemos ver os embates de Inglaterra fora de casa com a Albânia, no domingo, 28 de março, pelas 17:00, e na quarta-feira, a 31 pelas 19:45, defrontando a Polónia de Paulo Sousa, desta feita de volta a solo inglês.
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