Esta seleção ficará forçosamente desatualizada, pois o fecho de mercado só decorre a 2 de setembro. No entanto, a bola começa já a rolar nesta sexta-feira, dando início à ronda inaugural de jogos da Primeira Liga. Antes das redes começarem a abanar, fique aqui com o que não pode perder durante esta temporada.

Os Jogadores

Enzo Zidane

Todos os anos há uma contratação surpreendente que deixa até os mais esclarecidos dos adeptos a coçar a cabeça. Se no ano passado poucos eram os que antecipavam que Jackson Martinez fosse para Portimão, este ano menos ainda acreditariam que um dos filhos de Zinedine Zidane viesse a jogar com o emblema do Clube Desportivo das Aves ao peito.

Tendo perdido grande parte do plantel que assegurou a sua manutenção na primeira liga, são já 16 as contratações do Aves para esta época, mas nenhuma tão sonante quanto a de Enzo Zidane. Formado no Real Madrid, o médio não se impôs na capital espanhola — apesar de, na única vez que foi chamado (pelo pai) à equipa principal, em 2016/17, ter marcado um golo — e tem seguido uma carreira errática. Alavés, Lausanne e Rayo Majadahonda são alguns dos clubes onde passou sem deixar grande marca pelo que, aos 24 anos, terá na Vila das Aves um local para provar o seu mérito.

É, portanto, num misto de ceticismo e curiosidade que se tem encarado a sua vinda. Não se pedem roletas, toques de habilidade ou “volleys” de meia distância, apenas que demonstre consistência para auxiliar o clube nortenho a ter uma época mais descansada — e o próprio já mostrou querer sair da sombra do pai, usando apenas o nome “Enzo” na camisola. Para fazer jus ao talento, terá Augusto Inácio como auxílio, sendo que o técnico já foi capaz de potenciar jogadores como Carlos Ponck, Luquinhas ou Rodrigo Soares

Enzo Zidane
Enzo Zidane

Guedes (Vitória de Setúbal)

Jhonder Cádiz já era. Depois de se tornar uma das grandes revelações da época 2018/19, o avançado venezuelano foi contratado pelo Benfica ao Vitória de Setúbal. Impunha-se então colmatar a lacuna, arranjar uma solução que desse garantias de golo, talvez alguém que até já estivesse confortável a vestir de verde e branco. Não, não é Bas Dost que está a ser mencionado.

De regresso a Portugal depois de uma passagem para esquecer nos Emirados Árabes Unidos, Guedes é uma das grandes apostas dos sadinos para tentar garantir alguma estabilidade na primeira liga. A motivar a escolha certamente terão estado os 29 golos em três temporadas no Rio Ave, um currículo que não precisa de técnicas de photoshop elevadas para convencer possíveis empregadores.

Tudo dependerá, porém, do seu estado físico, já que o avançado de 32 anos quase assinou na época transata pelo Paços de Ferreira, caindo o negócio apenas porque estava a enfrentar uma lesão. A 100%, será uma arma a potenciar por Sandro Mendes, ladeado pelas novas contratações Hachadi, Carlinhos ou Brian Mansilla de forma a elevar de novo o Vitória de Setúbal. Porque, apesar de todo o seu historial, “aflito” será a palavra que mais se coaduna com o clube nos últimos anos, pelo que os sadinos contarão com um dos rabos-de-cavalo mais populares do desporto-rei nacional para combater essa situação.

Nakajima

Um dos enredos preferidos das comédias românticas e dos dramas direcionados ao público infanto-juvenil consiste na tensão romântica entre duas personagens que, entre avanços e recuos, costuma responder positivamente à pergunta imemorial: “Será que vão acabar juntos?”

O enredo que emparelhou o Futebol Clube do Porto com Shoya Nakajima tinha todos os ingredientes para fazer parte de uma série de anime japonesa. Veja-se: ao chegar a Portugal em 2017 no último dia do fecho de mercado para ingressar no Portimonense de Vítor Oliveira, o criativo japonês era só mais um jogador. Mas eis que, como um patinho feio que mostra ser bem mais do que aparentava, rapidamente o criativo médio/extremo se afirmou como uma das coqueluches do campeonato com performances a “partir a louça toda”, despertando ainda nesse ano a cobiça dos dirigentes portistas. Sem sucesso. Nakajima mostrava-se inacessível. 

No ano seguinte, o Porto voltaria à carga, só que o fenómeno nipónico já tinha sido prometido aos qataris do Al Duhail, que pagaram 35 milhões pelo seu passe. Porém, no Médio Oriente, Nakajima suspirava por algo mais e, como é impossível manter um grande amor afastado, o japonês viria mesmo a vestir de azul e branco neste verão, pondo fim a uma novela de dois anos.

Para consumar o ato, o Porto desembolsou 12 milhões de euros por metade do seu passe, fazendo de Shoya a mais cara das suas contratações para esta época e uma das mais dispendiosas de sempre. Tudo para ter aqueles pézinhos a distribuir magia oriental pelo Dragão, restando saber se Sérgio Conceição preferirá encostá-lo à ala ou extrair o seu potencial ao colocá-lo junto à grande área adversária. Num defeso marcado por perdas cruciais e contratações contestadas, que esta relação seja um esteio de tranquilidade.

Nakajima
Nakajima

Ukra (Santa Clara)

De todos os jogadores que irão atuar este ano na primeira liga, é previsível que, quando se reformarem, alguns se tornem treinadores, outros até dirigentes desportivos. Apenas um, porém, terá um futuro inquestionável enquanto gestor de redes sociais: Ukra. Jogue onde jogar, o extremo de 31 anos é sempre uma figura a seguir pelos conteúdos que publica no seu Instagram, descomprometidos e divertidos.

Porém, é de bola que aqui se fala, e o jogador do Santa Clara não seria adorado se não mostrasse serviço em campo. Apesar não ter tido o tempo de jogo ou o impacto de jogadores como Rashid, Schettine ou Fábio Cardoso, Ukra foi ainda assim uma parte importante do excelente 10.º lugar que o clube açoriano obteve depois de subir à primeira liga.

A recompensa pelos préstimos acabou por surgir: os insulares acabariam por renovar o contrato com Ukra, comunicando o facto com a mesma pompa e circunstância que o jogador famalicense emprega nas suas redes sociais. Com a ajuda do seu trabalho em campo e no balneário - em conjunto com os colegas acima referidos e com reforços como Rafael Ramos e João Afonso - o clube esperará atingir o objetivo histórico de garantir a manutenção e manter-se três épocas seguidas na primeira liga.

Raúl de Tomás (Benfica)

Até há bem pouco tempo, parecia imprudente, insensato até, postular a questão: “pode uma equipa ficar órfã de um jogador de 19 anos?” Jogadores com idades acabadas em “teen” raramente são peças-chave nas equipas portuguesas, mas João Félix veio provar que o impossível não resiste à realidade. A sua venda foi um marco histórico, um motivo de orgulho, uma torrente de dinheiro. Mas também uma incógnita para o Benfica: e agora, quem ocupa o seu lugar? 

Não havia uma resposta exata, mas uma coisa era certa: o substituto não se encontrava no Benfica. Com um cheque-presente de 126 milhões de euros a pedir para ser usado, seria necessário ir ao mercado. A solução, felizmente para os encarnados, encontrava-se logo do outro lado da fronteira e dava pelo nome de uma sigla: R.D.T.

Sabendo que casos como o de Félix são resultado de um firmamento perfeito, os responsáveis do Benfica optaram por atacar a época com um jogador feito e não com um talento a brotar. Caso de um produto em bruto que o Real Madrid não soube aproveitar, Raúl de Tomás fez a formação com os blancos para mais tarde espalhar o caos pelo país vizinho, quer na segunda, quer na primeira divisão, onde assinou 14 golos pelo Rayo Vallecano na última temporada.

Chegado à Luz fruto de uma operação financeira choruda — 20 milhões de euros —, de Tomás mostrou, mais do que o seu penteado impecável, poder oferecer lustro ao ataque benfiquista, sendo o novo parceiro de Seferovic na frente de ataque. Entrosamento precisa-se, mas as várias experiências na pré-época demonstraram que R.D.T é um segundo-avançado nato e, mais do que isso, um jogador com uma bravata incomum. Imaginem fazer um túnel intencional ao melhor jogador da equipa adversária durante uma final enquanto este vos faz um carrinho e ainda terem a lata de vos dizer que são um jogador normal.

Raul de Tomás
Raul de Tomás

Ricardo Costa (Boavista)

Na cultura anglo-saxónica, existe um termo para o jogador de futebol cuja carreira é definida por curtas estadias em vários clubes: “Journeyman”. Tal termo pode ser definido para futebolistas que colheram enorme sucesso por onde passaram — de Zlatan Ibrahimovic a Christian Vieri — como para aqueles que nunca se impuseram em nenhum clube, andando numa longa deriva à procura de se relançarem — saltam à memória nomes como Freddy Adu ou Fábio Paim. Algures no meio estará Ricardo Costa, que ao assinar com o Boavista juntou-se ao décimo clube da sua carreira.

Valência, PAOK ou Wolfsburgo são apenas alguns dos clubes que o central defendeu. No entanto, aos 38 anos, Ricardo Costa optou por voltar à cidade que o viu nascer desportivamente, juntando-se aos axadrezados depois de emprestar toda a sua experiência ao Tondela nas duas últimas épocas.

A sua contratação para a turma de Lito Vidigal foi um dos trunfos para almejar os lugares europeus da tabela e voltar a fazer do Bessa uma fortaleza inexpugnável, pelo que o seu futuro passará por fazer dupla quer com Neris, um dos pilares do ano passado, quer com o retornado Tagliapietra. De resto, não se sabe quando é que Ricardo Costa irá parar de impor respeito aos atacantes contrários, mas será apenas no momento certo. Porque os melhores viajantes sabem quando parar.

Vietto (Sporting)

“Ou sim ou sopas”. O ditado é português e não se sabe se terá tradução ou sequer equivalência para a língua castelhana, mas de certo que o seu significado já terá passado pela cabeça de Luciano Vietto. Aos 25 anos, o argentino tarda em mostrar o que levou tanto clube a apostar nele. Em Alvalade, terá oportunidade de prová-lo finalmente.

Desejo antigo de Jorge Jesus, Vietto foi sendo equacionado nos últimos dois anos, mas foi apenas este verão que o jogador veio para o Sporting, numa troca controversa com o Atlético de Madrid. Até à data, esta é a mais sonante das operações dos leões no defeso, mas explicar porque é que a sua vinda não reúne consenso é complicado.

Jóia do Racing da Argentina, Vietto veio para a Europa em 2014 jogar no Villarreal, onde marcou 20 golos em 38 jogos. Tais números — até agora, inigualados — aguçaram o apetite do Atlético Madrid, que comprou o seu passe, mas Vietto nunca caiu no goto de Diego Simeone. Como resultado, depois de uma primeira época com tempo de jogo mas parca concretização, o argentino foi somando empréstimos pouco conseguidos no Sevilha (ainda assim, o melhor dos três), Valência e Fulham. 

A sua jornada de redenção passa agora pelo Sporting, onde, se voltar a acender a chama, causará sérios estragos, até porque a liga portuguesa é pródiga em recuperar carreiras em queda livre. As primeiras impressões na pré-época, todavia, não foram animadoras e Marcel Keizer ainda não sabe o que fazer com Vietto, se usá-lo na ala, se a segundo avançado, tanto que nem o colocou em campo na hecatombe da Supertaça frente ao Benfica. O tempo não espera por Vietto e caberá ao argentino provar que não foi uma contratação fora de prazo.

Vietto
Vietto

Os Treinadores

Vítor Campelos (Moreirense)

Expectativa. Se fosse possível entrar na cabeça dos adeptos dos Moreirense, seria esta a palavra a aparecer em letras garrafais. Depois de um histórico sexto lugar na primeira liga, o mais alto de sempre para o clube, dar continuidade a este trabalho o que se impõe.

Contudo, o clube enfrenta uma nova provação. Tanto o treinador obreiro deste feito — Ivo Vieira —, como boa parte da equipa — de Chiquinho a Ivanildo Fernandes, passando por Jhonatan, Heriberto Tavares e Rúben Lima — abandonaram Moreira de Cónegos. A direção passou então a batuta a Vítor Campelos, que se estreia assim no mais alto escalão do futebol português.

Não que a Campelos falte experiência. Depois de ser adjunto de António Conceição em equipas do Médio Oriente durante vários anos e de assumir a equipa B dos húngaros do Videoton, liderou depois a equipa B do Vitória de Guimarães entre 2015 e 2018, num trabalho que levantou alguns sobrolhos pela qualidade de jogo que a sua turma evidenciou.

Só que a primeira liga não é a segunda e o treinador de 44 anos precisará de se aplicar para não defraudar adeptos. Para tal conta com Fábio Pacheco e João Aurélio — jogadores que resistiram à debandada —, assim como com a experiência de reforços como Steven Vitória, Rosić, Djavan, Luís Machado e do talento dos irmãos Filipe e Alex Soares. A eliminação frente ao Setúbal na Taça da Liga foi um passo em falso, pelo que há muito trabalho pela frente.

Sá Pinto (SC Braga)

“Ricardo Coração de Leão” junta-se aos “Guerreiros”. A frase casa tão bem que era inevitável que um dia Ricardo Sá Pinto viesse treinar o Sporting Clube de Braga. Com a abrupta saída de Abel Ferreira, que acabou mesmo por “ir embora” para o PAOK, coube a António Salvador escolher uma alternativa que mantivesse o clube bracarense a procurar intrometer-se nos primeiros três lugares. A opção acabou por recair em Sá Pinto, que faz o seu regresso a Portugal.

Antiga figura do Sporting, Sá Pinto mostrou-se ao mundo nos leões, ficando para a memória a forma como a sua equipa conseguiu eliminar o Manchester City na Liga Europa em 2011/2012. Contudo, um péssimo arranque na temporada seguinte ditou o seu exílio, rumando de clube em clube sem grande sucesso. Contudo, uma temporada bem sucedida no Standard de Liége (que incluiu uma taça da Bélgica) devolveu-lhe crédito e, mesmo não replicando o mesmo sucesso no clube seguinte, o Légia de Varsóvia (da Polónia), Sá Pinto regressa agora a Portugal com outro crédito.

Ignorando-se todo o potencial mediático que a sua forte personalidade é capaz de proporcionar, Sá Pinto merecerá ser seguido este ano pela forma como procurará revigorar o Braga. Certo que é um treinador mais conhecido pelo perfil motivacional — “aperta com eles, Sá Pinto”, lembram-se? — do que pelo rigor tático, mas isso o próprio reconhece, dando mais primazia às transições e às dinâmicas de equipa do que à solidez dos sistemas. Em terra de guerreiros, será praticado um futebol de ataque.

Mantendo o núcleo defensivo (à exceção de Marcelo Goiano, que saiu para o Sivasspor, mas que tem em Caju o seu substituto) e contando com as contratações de Diogo Viana, André Horta, o veteraníssimo Eduardo à baliza e o reforço-bomba Galeno, Sá Pinto tem tudo para fazer uma época de nível com o Braga, esperando também que esta seja a época de afirmação de Trincão e Xadas. A única incógnita é na posição de ponta de lança: com a saída de Dyego Sousa para a China, a posição ficou algo desfalcada, com nenhum dos substitutos a oferecer segurança. Possivelmente será necessário ir ao mercado, se bem que, se pudesse, o próprio Sá Pinto iria para dentro de campo mostrar como se faz.

Sá Pinto
Sá Pinto

Filó (Paços de Ferreira)

Intensidade, frontalidade e constante intervenção dentro da área técnica: Filó é um treinador à antiga, a começar pela alcunha e a acabar no seu rosto fechado e compenetrado. De seu nome Filipe Rocha, o técnico de 47 anos foi o escolhido pela direção do Paços de Ferreira para ocupar o lugar a Vítor Oliveira, responsável pela subida do clube.

Bem se sabe que subir um clube da segunda para a primeira divisão não é a mesma coisa que mantê-lo lá, mas Filó já demonstra ter currículo para lidar com a tarefa. Apesar de ser um homem da casa — jogou no Paços entre 2001 e 2004 —, foi o seu trabalho no Sporting da Covilhã, levando o clube da Serra da Estrela do penúltimo para o quinto lugar da segunda liga, que lhe garantiu um lugar mais confortável na Capital do Móvel.

O treinador terá como esteios jogadores responsáveis pela subida como Luiz Carlos, Pedrinho ou Ricardo Ribeiro, assim como trunfos como o ex-Benfica Bernardo Martins e jovem Diogo Almeida, produto da formação. Contudo, durante a pré-época, o técnico avisou a direção que faltava poder de fogo na frente para complementar Douglas Tanque, pelo que nas últimas semanas chegaram jogadores como Getúlio, Murilo ou Renat Dadashov, extremo azeri cujas atuações pelo Estoril Praia no ano passado levaram à sua contratação pelo Wolverhampton Wanderers, estando no clube pacense na condição de emprestado.

Filó já prometeu que o Paços não vai ser uma equipa que joga para o empate, uma postura altamente ambiciosa quando a manutenção é o objetivo. O plantel não é abundante e a época será de grande esforço, sendo cada jogo uma conquista. A primeira já foi conseguida, com a eliminação do Estoril na Taça da Liga. Seguem-se todas as outras.

Silas (Belenenses)

O mundo podia estar a acabar que Jorge Manuel Rebelo Fernandes, mais conhecido por Silas, nem pestanejaria. Talvez não se soubesse ao certo em janeiro de 2018, mas substituir Domingos Paciência pelo ex-médio foi a melhor decisão que a direção do Belenenses SAD podia ter tomado. Para guiar um clube durante uma tempestade, era preciso um capitão, que é o que o técnico de 42 anos é.

Recorde-se que Silas herdou o posto apenas seis meses depois de pendurar as botas de jogador, estando a dar os primeiros passos como treinador. Um surpreendente 12.º lugar em 2017/18 prometia coisas mais auspiciosas e na época passada tal vaticínio confirmou-se, subindo para 9.º na classificação e sendo das poucas equipas em Portugal a conseguir afirmar-se perante o campeão nacional Benfica. Tudo isto, conseguido em pleno clima de guerra civil entre SAD e Clube, que provocou a já conhecida cisão e que obrigou a sua turma a passar a jogar "em casa" noutro locais que não o Restelo.

Habituado a fazer omeletes sem ovos, este ano Silas não vai poder contar com algumas pedras basilares da equipa da época passada, como o guarda-redes Muriel, o central Sasso, o extremo Diogo Viana ou o médio Eduardo Henrique, que se mudou para o Sporting. Nada de novo para um treinador que já no ano anterior tinha ficado sem Florent Hanin ou Maurides, e no mercado de Inverno da passada temporada perdera Reinildo Mandava e Fredy.

Sob os seus comandos, o Belenenses SAD tem vindo a recuperar consistência e a tornar-se um adversário de respeito, sendo os lugares europeus uma meta. Para tal, o treinador contará com a experiência de jogadores que ajudou a recuperar, como Licá e André Santos, e com os préstimos de reforços como o médio Imad Faraj e o guarda-redes Hervé Koffi (ambos provenientes do Lille), assim com os regressos de André Sousa e de André Moreira.

Silas
Silas

Natxo Gonzalez (Tondela)

Corre um perfume espanhol para os lados de Tondela. O clube beirão, após sobreviver a mais uma época na primeira liga (e, para não variar, atingindo a manutenção na última jornada), pôs fim à ligação com o arquiteto das suas sucessivas salvações, Pepa. Em seu lugar, chega agora Natxo Gonzalez, treinador que fala a mesma língua que o presidente da SAD, David Belenguer.

Gonzalez quererá certamente contrapor o feio ditado “de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento”, mas o treinador de 52 anos terá vários fatores a jogar contra si. Em primeiro lugar, o facto dos seus conterrâneos - de Quique Flores a Lopetegui, passando por Velásquez — raramente terem tido sucesso em Portugal. A isto junta-se a sua falta de experiência com a realidade portuguesa e com campeonatos de elite, fazendo uma carreira sobretudo nos escalões inferiores do futebol espanhol.

Mas pior do que a sua falta de experiência ou possível intolerância à sua naturalidade, o maior problema que o técnico enfrenta é o contexto. Depois de um final de época duro, com acusações à mistura, o Tondela perdeu muitas das suas referências. David Bruno, Joãozinho, Ricardo Costa e Tomané, possivelmente a maior referência atual do clube (a par do guarda-redes Cláudio Ramos), foram testar outros relvados, ao passo que os empréstimos de Cristián Arango, Pablo Sabbag, Jorge Fernandes, Sergio Peña e Juan Delgado (este dois últimos as perdas mais duras)

Para conduzir o Tondela a uma época que se deseja amena, o técnico espanhol já fez chegar jogadores da sua escolha, como os hondurenhos Rubilio Castillo, e Jonathan Toro, assim como Pepelu e Manu Sánchez. No entanto, a renovação não se ficou por aqui, havendo novo empréstimo de João Pedro para fortalecer o meio-campo, assim como as vindas de jogadores com experiência de primeira liga como João Vigário, Yohan Tavares, Filipe Ferreira e Philipe Sampaio para a defesa. Seguem-se agora tempos de luta.

Nuno Manta Santos (Marítimo)

Diga-se o que se disser do seu percurso, Nuno Manta Santos não é avesso a desafios. Depois de um longo percurso em que começou a comandar os juniores do Feirense e que chegou a colocar a equipa de Santa Maria da Feira próxima aos lugares europeus na primeira liga, o técnico fogaceiro muda-se agora para a Madeira para assumir um Marítimo em busca de regressar à metade superior da tabela.

Habituado a fazer omeletes sem ovos, o técnico de 40 anos já disse que pretende ir à Europa e que quer uma equipa mais ofensiva. A questão é que à sua frente tem uma turma ainda a refazer-se do erro de casting que foi Cláudio Braga, tendo Petit, técnico que defende ainda ter mais um ano de contrato depois de (como já vem sendo habitual) ter vindo auxiliar o clube insular e impedir males maiores, alcançando o 11.º lugar. 

A seu favor tem o facto de grande parte da equipa se manter inalterada, mantendo jogadores nucleares como Charles, Grolli, Bebeto, Vukovic, Jorge Correa e, claro, o capitão Edgar Costa. Trabalhando com este conjunto talentoso, o técnico pode almejar voos maiores. Contudo, houve algumas saídas de registo, como as de Jean Cléber, Ricardo Valente e do goleador Joel Tagueu, cujos problemas cardíacos ditaram o fim do empréstimo e retorno ao Cruzeiro, no Brasil.

Para ter aquele fator extra que separa as equipas competentes das boas, Nuno Manta Santos conta com alguns reforços para fazer do conjunto dos Barreiros uma máquina bem oleada. Para além de Erivaldo Ferreira, extremo brasileiro com quem já trabalhou em Santa Maria da Feira, o treinador vai ter à sua opção o extremo brasileiro Marcelinho, o central sérvio Dejan Kerkez, o trinco francês Bambock e, talvez mais surpreendentemente, o avançado japonês Daizen Maeda, que esteve na passada Copa América pela sua seleção. 

As Equipas

Vitória de Guimarães

Vivem-se tempos de mudança no Estádio Dom Afonso Henriques. Com a demissão do presidente Júlio Mendes e a saída do treinador Luís Castro para os ucranianos do Shakhtar Donetsk, o emblema vimaranense chegou ao verão com uma nuvem negra a pairar no seu futuro. Saltitando entre lugares europeus e posições de meio da tabela, consistência é o que tem faltado aos conquistadores.

Antes de ser substituído por Miguel Pinto Lisboa na direção, Júlio Mendes nomeou o novo treinador do clube, escolhendo um dos técnicos que mais se destacou na época passada: Ivo Vieira, alquimista responsável por levar os vizinhos do Moreirense a um extraordinário sexto lugar.

Subindo o patamar de responsabilidade — estando incumbido de apurar o Vitória à fase de grupos da Liga Europa, passando duas eliminatórias — o treinador madeirense viu-se também perante uma casa desarrumada e com uma pré-época a meio. Tozé, Dodô, Mattheus Oliveira e Osório foram alguns dos titularíssimos a abandonar Guimarães, havendo também necessidade de colocar vários excedentários.

Até à data, Ivo Vieira tem sido bem sucedido. Apesar de ter recebido poucos reforços — o guarda-redes Jhonatan, que o acompanhou do Moreirense, Mikel Agu e André Pereira, ambos provenientes do FC Porto, e Valeriy Bondarenko, central que vem por empréstimo do Shakthar Donetsk, são os mais importantes — o técnico viu na equipa B vários jogadores com potencial, com dois deles a assumir desde já a titularidade.

O médio líbio Al Musrati e o central burquinense Edmond Tapsoba — que tem mostrado veia goleadora — têm sido os principais destaques num arranque de temporada em que o Vitória já despachou o Jeunesse Esch por 5-0 no agregado dos dois jogos da 2.ª eliminatória da Liga Europa e derrotou também o Feirense no âmbito da Taça da Liga. Fazendo uso destes valores, em conjunto com elementos que se mantém no plantel como Sacko, Joseph, Rochinha, Rafa Soares, Davidson Pedro Henrique e Pêpê Rodrigues (que se desvinculou do Benfica), o clube da cidade berço tem tudo para fazer uma boa época.

Vitória de Guimarães
Vitória de Guimarães

Rio Ave

Desde que voltou à primeira liga, em 2007, o Rio Ave não mais voltou a olhar para trás. Nos últimos anos, a sua competitividade sofreu um incremento, lutando sempre por lugares europeus e, dos pequenos aos grandes, ir jogar a Vila do Conde passou a ser uma dor de cabeça. Tal não foi exceção na temporada passada, ficando o clube perto de ir à Liga Europa, no 7.º lugar.

Porém, apesar do bom trabalho que Daniel Ramos fez na segunda metade da época, a direção entendeu que o técnico para atacar esta edição deveria ser outro. Depois de uma estadia agridoce em Inglaterra — onde vibrou com o Sheffield Wednesday mas sofreu no Swansea — Carlos Carvalhal voltou a Portugal. Para além de se querer perceber o que é que aprendeu com o futebol inglês, será curioso ver os jogos em que se baterá com o seu aprendiz, nada mais, nada menos que Bruno Lage.

Do ano passado para este, foram várias as perdas significativas que a equipa sofreu, apesar de manter o núcleo. A mais notória será a de Léo Jardim, novo guarda-redes sensação, ou não fosse essa uma das imagens de marca do Rio Ave (Oblak e Ederson, lembram-se?). De mencionar que Fábio Coentrão desvinculou-se, Rúben Semedo, depois de uma época de redenção, saiu para o Olympiacos e findaram os empréstimos de Galeno e Gelson Dala.

Como tal, para poucas (mas importantes) saídas, resultaram poucas (mas importantes) chegadas. Mehdi Taremi é um dos reforços de maior craveira, sendo um avançado internacional pelo Irão. Outro é Carlos Mané, extremo que sai do Sporting para dar outro rumo à carreira. O guardião Kieszek regressa a Portugal, Pedro Amaral mudou-se para Vila da Conde para assumir a lateral esquerda e o clube mantém a aposta no talento croata, contratando o avançado Tomislav Štrkalj, que se junta aos compatriotas Jambor e Borevkovic. Para além disso, espera-se que Nuno Santos, depois da lesão, finalmente desponte, e que jovens valores como Costinha e Vitó se destaquem. Depois de uma pré-época carente de animação, o clube cilindrou o Oliveirense por 6-1 na Taça da Liga. Se for assim em todos os jogos a valer, espera-se uma temporada feliz.

Gil Vicente

É o final de uma saga que já dura há 13 anos. Findado o caso Mateus, o Gil Vicente voltou à primeira liga. Despromovido em 2006 devido ao infame processo, o clube de Barcelos até conseguiu voltar à elite do futebol português em 2012, mas não se aguentou e afundou-se em 2015. Agora, por decisão administrativa, está na hora do regresso.

Tendo passado o ano transato a jogar no Campeonato Nacional de Seniores sabendo que a subida era iminente, tem havido muita expectativa em relação ao regresso. Terá o Gil Vicente estofo para este salto de gigante? Não se sabe, mas o clube muniu-se do maior milagreiro do futebol português, Vítor Oliveira, acabado de subir o Paços de Ferreira, para garantir que permanece no topo.

Para tal, sabendo que era necessário apetrechar o plantel para os padrões da nova competição, os gilistas fizeram um estonteante esforço ao contratar 20 (!) jogadores para esta temporada, grande parte chegando por transferências livres ou empréstimos. Bozhidar Kraev, internacional búlgaro e jovem médio criativo do Midtjylland, Zakaria Naidji, avançado argelino do Paradou AC e Lourency, vindo da Chapecoense do Brasil, são alguns dos mais sonantes nomes internacionais

Mas Vítor Oliveira sabe que será imprudente atacar a época com um batalhão de jogadores desconhecedores da realidade nacional, tendo também garantido caras conhecidas. O central Rúben Fernandes, o médio defensivo Claude Gonçalves e Alex Pinto, lateral direito emprestado pelo Benfica B, são alguns dos atletas que reuniram a confiança do “rei das subidas”. Para já os prenúncios são bons, tendo eliminado o Desportivo das Aves por 3-2 em jogo da segunda fase da Taça da Liga. Mas a época é longa e será um teste de fogo à fibra da nação gilista.

Famalicão

Uma entrada pela porta grande. É assim que o Famalicão quer anunciar o seu regresso ao escalão principal do futebol, 25 anos depois de abandonar a primeira divisão. Do tombo dado até às distritais, em 2008, até à subida operada por Sérgio Vieira e depois Carlos Pinto, o emblema famalicense ergueu-se como uma fénix das cinzas e está finalmente de volta.

Mas quase que se pode dizer que a equipa que conseguiu o feito de regressar não é a mesma que vai disputar a primeira liga. 2019 separa duas encarnações do Famalicão. A começar pelo treinador. Com Carlos Pinto fora de cena, João Pedro Sousa, profissional que até agora fora adjunto de Marco Silva desde os tempos do Estoril Praia, vai ter a sua primeira experiência enquanto treinador principal. Mas as mudanças não se ficam por aqui.

Depois de 51% da sua SAD terem sido comprados pela empresa Quantum Pacific Group, o Famalicão passou a ser encarado como um projeto de grande ambição e com foco no imediato, com muitos jogadores a entrarem para darem um boost de competitividade à equipa. Ao todo, já saíram 24 atletas do clube e entraram outros 18, numa estratégia que tem assentado em trazer muitas jovens promessas por empréstimo. Das quase duas dezenas de jogadores a vestirem azul e branco, chegaram do Atlético Madrid Nicolás Schiappacasse e Nehuén Pérez e do Valência Alex Centelles e Uros Racic, o Stoke emprestou o lateral esquerdo John Tymon e Toni Martínez, avançado espanhol que esteve no West Ham, assinou a título definitivo. Para além deste contingente internacional, entram também talentos portugueses, como Diogo Gonçalves, cedido pelo Benfica, bem como João Caiado e Pedro Gonçalves, jogadores que abandonam assim o Wolves para vir para a cidade minhota.

Perante este manancial de juventude, o clube optou também por injetar alguma experiência na equipa, contratando Lionn, defesa direito que rescindiu com o Chaves, Rúben Lameiras, extremo português que estava no Plymouth Argyle, e Fábio Martins, que depois de uma época apagada pelo Braga, chega por empréstimo.

Tem havido, porém, dores de crescimento, com o Famalicão a preterir alguns dos jogadores responsáveis pela subida, como o avançado Fabrício e o extremo Feliz Vaz. O segundo, considerado um dos melhores jogadores da Liga LedmanPro no ano passado e que estava no clube desde 2014, tendo se afirmado como uma das referências do plantel (foi mesmo capitão), acabou por sair para o Feirense por não fazer parte dos planos deste novo Famalicão. A reação dos adeptos não se fez esperar.

Com novo treinador e uma equipa quase inteiramente construída de raíz — em que muitos jogadores estão a prazo —, o Famalicão entra nesta temporada num “all-in” extremamente arriscado que pode trazer grandes frutos ou então resultar num falhanço estrondoso. A época começou logo com um pesado dissabor, com a equipa a perder por 2-0 frente ao Sporting da Covilhã na Taça da Liga. O resto, o tempo dirá.

Famalicão
Famalicão

Portimonense

Desde que regressou à primeira liga, em 2017, poucas equipas têm apresentado um registo tão sui generis quanto o Portimonense. Capaz do melhor e do pior, o emblema algarvio tem conseguido manter-se no topo, fruto de uma política de contratações invulgar e um futebol de forte matriz ofensivo.

Tanto com Vítor Oliveira como com António Folha, o clube algarvio tem apresentado um forte pendor atacante — no ano de subida teve o 5.º melhor ataque da liga com 52 golos, o ano passado ficou-se pelos 44 tentos —, mas também um péssimo registo defensivo — em ambas as épocas teve a terceira pior defesa, sofrendo 60 e 59 golos, respetivamente. No final, os extremos cancelaram-se, ficando o clube próximo do centro da tabela classificativa. No meio é onde está a virtude, dizem.

De novo com Folha ao leme — o técnico gaiense renovou até 2024 e com uma choruda cláusula de rescisão de 40 milhões de euros — o rumo não parece ser muito diferente do de outros anos. Apesar de perder alguns elementos importantes, especialmente na defesa — Vítor Tormena e Rúben Fernandes, mas também o médio emprestado Lucas Fernandes —, o destino do clube depende da capacidade de segurar pérolas como Paulinho, Bruno Tabata e a incógnita Jackson Martínez, que à data deste texto ainda não se sabe se vai continuar em Portimão.

Para privilegiar o futebol de ataque do Portimonense, chegaram vários reforços que prometem dar que falar. Emprestado pelo Manchester City (e, a certa altura, apontado para o Sporting), o avançado colombiano Marlos Moreno muda-se para o Algarve numa nova tentativa de singrar na Europa. A acompanhá-lo estão jogadores como o internacional equatoriano José Cevallos e, mantendo o gosto por contratar craques japoneses, lateral esquerdo Koki Anzai, que foi vencedor da Liga dos Campeões asiática pelo Kashima Antlers. Seja qual for o destino do clube, golos estão prometidos.