O primeiro embate dos comandados de Fernando Santos está marcado para o dia 24, diante do Gana. Curiosamente, o único confronto entre ambos os países, seja em embates oficiais ou particulares, foi num Campeonato do Mundo, concretamente em 2014. Foi nos Estados Unidos, também na fase de grupos, ambas as equipas estavam já afastadas da ronda seguinte, e o triunfo sorriu para Portugal, por 2-1. Samuel Kuffour, um dos mais internacionais de sempre pelo Gana, já tinha pendurado as chuteiras, pelo que não defrontou a seleção nacional nessa altura. Contudo, começa por dizer que não são jogos comparáveis.
“O primeiro jogo de uma competição é sempre o mais complicado. Esse [2014] já tinha tudo definido, são incomparáveis. Este será muito diferente, muito mais pressão, mais emoção”, disse ao SAPO24 o agora presidente do Sindicato dos Jogadores do Gana, lançando depois o confronto com a equipa de Cristiano Ronaldo e companhia.
“O selecionador do Gana [Otto Ado] disse recentemente que o grupo é muito competitivo e renhido, dando, contudo, mais favoritismo para Portugal. Considero que são todos muito equivalentes e que não há favoritos. Num jogo, em três, tudo pode acontecer, e se o Gana vencer o primeiro, que é contra Portugal, o favoritismo muda logo. Como disse, o primeiro jogo é sempre o mais complicado, mas penso que temos toda a legitimidade em pensar que podemos ganhar. Portugal é muito forte, tem uma das melhores equipas mundiais, mas num só jogo tudo pode acontecer. Portugal pode ter muitas estrelas, mas o Gana tem muita vontade, é daquelas oportunidades onde todos se podem mostrar e onde podem mostrar que o futebol africano não pode ser desvalorizado, como sempre tem sido”, salientou o ex-jogador do Bayern Munique, que, ainda assim, tem muito respeito por Portugal.
“Têm feito grandes fases finais. Ganhar só pode ganhar um, mas nos últimos anos têm sido das equipas mais fortes. Duvido que haja algum selecionador ou jogador que entre em campo super confiante frente a Portugal, não acredito mesmo. Há respeito, confiança, mas todos sabemos que do outro lado está uma grande equipa, com grandes futebolistas, dos melhores que há. Para vencermos temos de ganhar aos melhores, mas se tivesse de escolher, preferia um outro grupo. Este, com Portugal, é fortíssimo”, disse.
O antigo defesa central, agora com 46 anos, nunca jogou contra Portugal, mas mediu forças com o Uruguai, há um valente par de anos. Do outro lado da barricada estavam muitas estrelas, um deles Alvaro Recoba, avançado que se notabilizou ao serviço do Inter de Milão, entre outros. El Chino, como era conhecido, foi um dos que falou também ao SAPO24 sobre o Grupo H e, concretamente, a equipa de Fernando Santos. Cauteloso, reconhece que Portugal tem “dos melhores do mundo”, mas salienta que do lado do Uruguai há muito talento.
"Nenhuma equipa pode considerar-se favorita neste grupo. Claro que podemos olhar para Portugal e perceber que em termos individuais poderá ser a mais criativa, mais perigosa, mas isso não basta"Alvaro Recoba
“São quatro grandes equipas, Uruguai, Portugal, Gana e Coreia do Sul. São das melhores equipas nos respetivos continentes e isso diz tudo deste grupo, muito equilibrado. Portugal tem dos melhores jogadores do mundo, que estão habituados a vencer nos seus clubes. Mas em 2018, Portugal vinha com o título de campeão da Europa e perdeu contra o Uruguai, que os eliminou [2-1, nos oitavos-de-final]. Penso que nem teoricamente há um claro favorito, seja no nosso jogo, seja em qualquer outra partida do grupo”, disse Recoba, agora treinador, que, ainda assim, não pretende desvalorizar Portugal com estas palavras.
“Não, nunca. Como posso desvalorizar uma equipa que tem Cristiano Ronaldo, Pepe, Bernardo Silva, Bruno Fernandes? Apenas digo que nenhuma equipa pode considerar-se favorita neste grupo, porque há muito talento nas quatro seleções. Claro que podemos olhar para Portugal e perceber que em termos individuais poderá ser a mais criativa, mais perigosa, mas isso não basta, pois as individualidades não ganham campeonatos. Podem ganhar jogos, mas não ganham campeonatos. Portugal pode ser campeão do mundo, claro, mas para isso terá de trabalhar muito e não pode falhar, tal como o Uruguai”, salientou o uruguaio de 46 anos, destacando o velho conhecido dos portugueses Darwin Nuñez.
“É um grande talento. Fez um ano fantástico no Benfica e agora foi para o Liverpool. Vai ser muito importante para nós durante o Mundial e também no futuro da nossa seleção. Portugal conhece-o? Se o conhece sabe também que é muito difícil de travar. Se de um lado há Cristiano Ronaldo, e outros, nós também temos bons valores individuais. Darwin Nuñez e outros. Há ainda um misto de jogadores muito experientes, como Godin ou Suarez, que vão ajudar os mais jovens”, garantiu.
O que Cristiano Ronaldo poderá acrescentar
É do conhecimento dos amantes do desporto rei que Cristiano Ronaldo, um dos melhores futebolistas de sempre, não tem tido um ano fácil. Começou a temporada mais tarde que os seus colegas do Manchester United, não tendo feito a pré-época — alegadamente por querer sair dos red devils —, tem feito correr mais tinta na imprensa mais pelas polémicas em que tem estado envolvido esta época do que propriamente pelos golos que tem marcado, as suas prestações na seleção tem ficado aquém das expetativas, entre outros dados estatísticos. A questão coloca-se então: que Cristiano Ronaldo teremos no Mundial do Qatar?
"Jogámos [Bayern Munique] um torneio onde estava o Manchester United. Ele era muito jovem e muito rápido. Tive de lhe dar uns pontapés para ele sair do meu lado, nunca mais veio para o meu lado"Samuel Kuffour
Se no equilíbrio do Grupo H Samuel Kuffour e Alvaro Recoba foram unânimes, também aqui afinaram pelo mesmo diapasão. A importância do capitão português "continuará a ser fundamental, seja dentro ou fora do campo".
“Espero que continue sem marcar, pelo menos ao Gana. Mas Cristiano Ronaldo é imprevisível, pode começar a marcar de um momento para o outro. É um dos melhores de sempre, tem ainda muito a dar a Portugal. Mau momento? Todos passam por fases menos boas, mas ainda no ano passado foi o melhor no Manchester United e marcou imensos golos. Será muito importante, ninguém questiona isso. É um líder, que sabe puxar pela equipa e Portugal é a sua seleção, é o líder natural do grupo. No Manchester United poderá ser diferente, mas Portugal é o seu país”, referiu Kuffour, dando o exemplo do que aconteceu na final do Campeonato da Europa de 2016.
"Saiu e foi um líder no banco. É verdade que era uma final, ninguém fica indiferente. Mas o que transmitiu do banco para dentro de campo é de líder. Todo o mundo viu o que fez, é um enorme capitão. Portugal tem sorte em o ter e ninguém duvida que pode decidir de um momento para o outro", salientou o ex-jogador que ainda se recorda da única vez que defrontou Cristiano Ronaldo.
"Já contei esta história algumas vezes, foi em 2005, nos Estados Unidos. Jogámos [Bayern Munique] um torneio onde estava o Manchester United. Ele era muito jovem e muito rápido. Tive de lhe dar uns pontapés para ele sair do meu lado, nunca mais veio para o meu lado", disse, a rir, Kuffour.
Recoba, por sua vez, faz uma curiosa comparação entre Cristiano Ronaldo e a estrela dos uruguaios, Luis Suárez, ex-avançado de Liverpool, Barcelona, Atlético de Madrid, entre outros.
“O grande problema é que estamos habituados a grandes recordes por parte de jogadores como Cristiano Ronaldo. Basta estarem dois ou três jogos sem marcarem que há logo um problema. O Luis [Suárez] foi muito criticado o ano passado, quando marcava pouco no Atlético de Madrid e também na seleção, mas as pessoas esquecem-se o que fez para trás. Se duvidamos de jogadores como Cristiano Ronaldo, temos de duvidar de quase todos. Se não surgir bem no Mundial, será bom para os seus adversários, como o Uruguai, mas isso não é um tema. Portugal não se pode queixar se Cristiano Ronaldo não surgir bem, com tanto talento que tem no grupo. Continuará a ser fundamental, seja dentro ou fora do campo”, afirmou o ex-futebolista.
O que esperar da Coreia do Sul?
Portugal perdeu no único jogo que fez contra a Coreia do Sul. Já lá vão 20 anos, foi no Mundial de 2002, que se realizou no Japão e na Coreia, e desde então não mais mediram forças. Curiosamente nessa equipa portuguesa estava o então médio Paulo Bento, que agora está do outro lado da barricada, não fosse ele o selecionador dos coreanos.
Com Son Heung-min na liderança dos sul-coreanos, apela-se aos cuidados a ter com a equipa de Paulo Bento. "Têm sido uma das seleções mais regulares nos Mundiais [décima fase final consecutiva] e ganho muita experiência. Alguns dos seus jogadores muito criativos e determinados, como Son, e farão tudo para surpreender. Se alguém os desvalorizar, provavelmente poderão ter uma surpresa", alertou Recoba.
Refira-se que quando Paulo Bento tomou conta da equipa, em 2018, a Coreia do Sul era a 57ª colocada no ranking FIFA e quatro anos volvidos subiu ao 28º lugar, o mais alto desde 2012. Durante estes anos, a formação treinada pelo técnico português venceu os Jogos Asiáticos, em 2028, e passeou na classificação para o Mundial, perdendo apenas uma vez em 17 partidas.
O SAPO24 é a marca de informação do Portal SAPO, detido pela MEO, que neste Mundial se associou à Amnistia Internacional numa campanha pelos direitos humanos no Qatar.
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