Homem inspirador para todos os que com ele privaram, com profundo sentido de missão - ‘esperou’ pelo fim da mais bem-sucedida participação de sempre em Jogos Olímpicos para ‘partir’ -, e um brilhantismo intelectual inegável, batalhou contra a doença sem nunca se render, recusando-se a parar mesmo nos momentos mais difíceis (e foram vários).
Nos sucessivos internamentos, manteve-se sempre atento, participativo, na defesa do desporto, a sua grande paixão.
Eleito como sucessor de Vicente Moura em março de 2013, então com 62 anos, o antigo líder do Instituto de Desporto de Portugal, que viria a anteceder o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), e da Confederação de Desporto de Portugal (CDP) estava prestes a finalizar o terceiro e último mandato no organismo, no qual alcançou o auge de quatro décadas como dirigente e testemunhou as melhores Missões nacionais em Jogos.
Primeiro licenciado em Educação Física (1975) a liderar o COP, Constantino era um dos grandes pensadores do desporto no país, editando mesmo livros e artigos sobre o tema, intercalados com experiências na docência básica e universitária e em funções diretivas.
O seu primeiro projeto de âmbito nacional chegou em 2000, ao assumir a presidência da CDP, após uma passagem como assessor pela Federação Portuguesa de Halterofilismo (1986-1990), que precedeu a estreia como secretário técnico do Algés e Dafundo (1985).
A transição para a chefia do IDP dois anos depois pontuou uma carreira em permanente ascensão, que passou pela administração pública e pela esfera autárquica a caminho da missão charneira, a de governar os destinos da entidade máxima do desporto português.
Preocupado em valorizar socialmente o setor como um desígnio nacional e intensificar a capacidade organizativa das federações, Constantino fez do COP um ponto de equilíbrio entre sucessivos Governos e um movimento desportivo com progressivas melhorias de competitividade, conservando uma franqueza desarmante nessas relações institucionais.
Com sensibilidade no trato humano, lançou as bases para a emancipação de uma nova fornada de atletas, com os quais estabeleceu uma relação de proximidade, tal como foi visível na receção da Missão nacional a Paris2024 no Palácio de Belém, em 08 de julho.
Vários deles quiseram tirar fotos ao seu lado, sendo até mais solicitado do que o próprio Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, numa altura em que lutava contra a doença que o vitimou, mas sem nunca desistir perante vários momentos de adversidade.
Apesar de sucessivos internamentos, manteve-se atento e participativo na defesa da sua paixão de sempre, com a qual tentou ‘acertar’ contas com o passado e até com o futuro nos derradeiros meses à frente do COP, ao pedir mais apoio financeiro e atenção para o setor, por entre críticas à ausência de cultura desportiva do Governo e da sociedade civil.
Como defendeu quando recebeu o título de Doutor ‘Honoris Causa’ pela Universidade de Lisboa, o desporto enfrenta “um futuro com elevado grau de complexidade”, pontificando desafios como a demografia e “o défice de dados, informação e investigação atualizada”.
“Os problemas de literacia motora e desportiva, expressos na situação nacional, expõem uma necessidade de construir uma matriz conceptual para o desporto em Portugal. Um desporto [que possa ser] entendido como um bem público, cujos enormes benefícios se estendem bem para além do indivíduo que pratica”, disse então, em novembro de 2023.
Nascido em Santarém em 21 de maio de 1950, José Manuel Constantino fez coincidir o sonho de uma vida com os melhores anos do desporto olímpico luso, vertidos na conquista de nove medalhas desde o Rio2016, primeiro de três Jogos vividos na presidência do COP.
Os inéditos quatro pódios alcançados em Tóquio2020 - numa edição realizada em 2021, devido à pandemia de covid-19 -, seriam repetidos em Paris2024, mas com ‘cores’ mais importantes, rumo à mais proveitosa das 26 participações nacionais no principal evento multidesportivo planetário, horas antes da morte de um dos seus reputados pensadores.
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