Quando soou o apito para o intervalo na Friends Arena, em Estocolmo, o jogo já se adivinhava resolvido. Estava apenas 1-0, mas o passado escrevia o futuro. José Mourinho, que disputava a quarta final europeia da sua carreira, tinha chegado ao intervalo a vencer precisamente por uma bola a zero nas outras três ocasiões. Todas elas tiveram também o mesmo desfecho: a vitória.
No entanto, o treinador português confidenciou no final do jogo que bem antes já sabia que a vitória não lhe fugia. “Foi uma exibição perfeita. Desde o primeiro minuto que ficámos com a sensação que estávamos no jogo e que o íamos levar para onde queríamos levar. Sabíamos onde éramos mais fortes do que o adversário. Acho que estivemos sempre por cima do jogo. Foi uma noite tranquila, uma final controlada desde o princípio”, disse Mourinho numa altura em que a festa já tinha sido feita com o staff e jogadores no relvado.
Aquele que foi um marco histórico para o treinador e para o clube inglês, ganha uma dimensão maior pelo momento. Afinal de contas, a vitória sobre o Ajax e a conquista da Liga Europa, que deram ao Manchester a qualificação direta para a Liga dos Campeões na próxima época, foram o coroar de uma época que mostrou que o técnico português nunca deixou de ser ‘especial’.
Desde a saída do Inter de Milão que a vida de José Mourinho nunca mais foi a mesma. Ora numa época brilhava, como só ele sabia, ora noutra era ofuscado, ou pelo seu insucesso, ou pelas conquistas dos seus adversários diretos. A sua passagem pelo Real Madrid foi isso mesmo. Embora tenha conquistado todos os títulos possíveis em Espanha (até esta época, de resto, o último campeonato dos merengues tinha sido conquistado com Mourinho ao leme), falhou a ‘La Décima’, o troféu, na altura, mais desejado pelos adeptos madrilenos. Com o curriculum internacional de Mou, e com Pep Guardiola na Catalunha a exibir o triplete aos adeptos blaugrana, tal era imperdoável.
Procurou o regresso triunfal a Inglaterra, país onde consagrou a sua carreira e se apresentou como um dos melhores após as conquistas em Portugal. Lá viria a fazer duas épocas antes de ser despedido, a primeira de grande nível, a segunda irreconhecível.
Fora das quatro linhas o português teve tempo para entender o melhor clube para ressurgir no futebol e o Manchester United, clube que desde a saída de Alex Ferguson ‘namorava’ Mourinho, foi o destino natural.
De repente, em Old Trafford, juntavam-se um clube e um treinador com sede de glória e, sobretudo, de mostrar que o lugar, tanto do clube como do técnico, é entre a elite europeia. A relação ainda é fresca, mas não é fresco dizer que o namoro já vai de vento em popa, e os números falam por si:
3
O treinador português conquistou três troféus na sua época de estreia pelo Manchester United — Supertaça Inglesa, Taça da Liga e Liga Europa. Um recorde na primeira época de qualquer timoneiro em Old Trafford.
8
Há oito anos, desde 2008/09, ano em que Alex Ferguson conquistou quatro títulos e chegou à final da Liga dos Campeões, que o clube de Manchester não tinha uma temporada tão titulada. É a melhor temporada da década dos diabos vermelhos.
1
José Mourinho conquistou o único título que que faltava ao vasto palmarés da equipa inglesa. O português não só conquistou a sua segunda Liga Europa (a primeira no atual formato, já que a conquistada com o FC Porto, há 14 anos, ainda tinha a denominação de Taça UEFA), como levou a sua equipa ao primeiro título de sempre na competição
64
Pode dizer-se que esta época foi bastante dura. Nenhuma outra equipa, nos principais campeonatos europeus, fez tantos jogos esta temporada como o Manchester United. O número foi crescendo à medida que o clube inglês foi avançando até às últimas fases de todas as competições em que se encontrava envolvido desde o início da época — Supertaça (vencedor), Premier League (sexto lugar), Taça de Inglaterra (quartos-de-final), Taça da Liga (vencedor) e Liga Europa (vencedor). Talvez tenha sido por isso que Mourinho, após vencer a Liga Europa, tenha dito que até 8 de julho não queria ouvir mais falar de futebol. “Nunca estive tão cansado, quero descansar porque nunca tive uma época tão desgastante”, disse o português.
37
Este foi o número total de vitórias, distribuído por todas as competições, que alavancaram o técnico português para o sucesso na sua época de estreia no United.
4
O troféu conquistado com o Manchester United na quarta-feira, é o quarto título europeu da carreira de Mourinho. Antes já tinha conquistado a Taça UEFA e a Liga dos Campeões no FC Porto e, mais tarde, a Liga dos Campeões no Inter de Milão.
2
É o segundo treinador a somar mais títulos europeus de clubes, em igualdade com Paisley e Ferguson, e apenas atrás de Trapattoni.
6
O português tornou-se assim, também, o sexto técnico a entrar para a curta listagem de treinador que venceram a segunda competição europeia de clubes mais importante da UEFA por mais do que uma ocasião.
3
É o primeiro treinador a receber as medalhas do título de três presidentes da UEFA diferentes: Lennart Johansson, Michel Platini e Aleksander Ceferin".
25
Com a conquista de mais um título europeu, José Mourinho soma agora um total de 25 títulos distribuídos por 17 anos de carreira e 4 países diferentes.
54
“Só tenho 54 anos. Ainda quero vencer mais algumas [medalhas]”, disse Mourinho na flash interview no final do encontro frente ao Ajax. A verdade é que, mesmo já sendo treinador há 17 anos, o treinador português continua a considerar-se "novo" para o cargo que ocupa. A idade somada ao curriculum evidenciam uma carreira de um dos melhores técnicos da história do futebol que ainda parece estar longe do fim.
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