“Vi o jogo pela primeira vez agora há pouco tempo e o nosso final não foi assim tão mau como sempre esteve presente na minha cabeça ao longo destes anos. Mas foi marcado por um menor equilíbrio emocional, menor tranquilidade, um estado de ansiedade e de descontrolo. Para mim, mais do que pelo que estava a acontecer, isso foi determinado pelo resultado quatro dias antes. A derrota na Luz, para além de nos ter tirado um título – porque um empate bastava-nos, ficava a faltar-nos um jogo em casa -, deixou-nos uma auréola negativa”, diz o então treinador dos ‘leões’ à agência Lusa.
E se, para o atual selecionador da Venezuela, esse ‘fantasma’ não se mostrou até ao empate dos russos, aos 57 minutos, “fez-se sentir depois disso”.
“Passar da ideia de podermos ganhar tudo a podermos não ganhar nada pesou muito. Só sentir que podíamos ganhar a Liga dava-nos conforto. A gestão do empate não foi bem feita precisamente por isso. Vendo agora à distância, a derrota na Luz marcou-nos”, considera.
Apenas quatro dias após ter perdido em casa do grande rival (1-0), com um golo já na fase final da partida que ainda hoje divide opiniões – “há falta [de Luisão] sobre Ricardo”, defende Peseiro – e, com isso, ter sido ultrapassado no primeiro lugar a uma jornada do fim, o Sporting disputava diante dos russos do CSKA Moscovo, em pleno Estádio José Alvalade, em 18 de maio de 2005, a sua segunda final europeia de futebol, depois da conquista da Taça das Taças, em 1964.
Rogério colocou os ‘leões’ na frente a meio da primeira parte, com um grande remate de fora da área, e a euforia instalou-se nos cerca de 50 mil adeptos sportinguistas. Contudo, já no segundo tempo, o CSKA Moscovo deu a volta ao marcador em apenas oito minutos e sentenciou-o pouco depois, ‘gelando’ as bancadas ‘verde e brancas’.
Quinze anos depois (a ‘efeméride’ assinala-se na segunda-feira), “a primeira coisa” que vem à cabeça de José Peseiro quando recorda esse jogo é “uma bola que bate na perna do Rogério, vai ao poste e vai ter ao guarda-redes, que dava o 2-2″. “No contra-ataque, o CSKA ‘matou’ a partida com o 3-1, por Vagner Love”, lembra.
“Mas também me lembro da grande festa de estarmos pela segunda vez na história do Sporting numa final europeia, que começou numa meia-final extremamente emotiva [contra os holandeses do AZ Alkmaar]. Lembro-me da grande emoção que foi jogarmos essa final, o trajeto desde a academia, a emoção no estádio, que estava cheio, a forma como fomos recebidos, o golo extraordinário [de Rogério] que nos colocou na frente, o controle praticamente total que tivemos do jogo até aos 60 minutos”, conta à Lusa.
Depois, veio o empate na sequência de um livre lateral que “a equipa sentiu muito” e, com ele, “a pressa” de querer chegar ao 2-1. “Fizemos as coisas com pressa a mais, com menos discernimento”, recorda, dando o exemplo de como nasceu o segundo golo russo.
Ainda assim, o Sporting podia ter empatado no tal lance de Rogério, “que desafia todas as leis da gravidade, a um metro da baliza, em que o mais difícil era fazer aquilo, a bola ir ao poste e ir parar às mãos do guarda-redes”, o internacional russo Akinfeev, ainda hoje jogador do CSKA e então com apenas 19 anos.
“No contra-ataque, o Enakarhire pode cortar a bola, não corta porque também está com pressa de fazer o 2-2, tudo isso são ações que estão suportadas no aspeto negativo no empate que não conseguimos na Luz, quando tudo indicaria que não perderíamos aquele jogo pela forma como perdemos. Aquele empate marcou-nos muito, numa época de muito sacrifício”, reforça.
“Se tivéssemos feito esse 2-2, éramos nós que estávamos por cima e podíamos ter ganho a Taça UEFA, mas isso não esconde a época extraordinária que fizemos. Gostaríamos de ter vencido e acho que, eu e os jogadores, merecíamos. Jogando em casa, perante o nosso público e dadas as expectativas que criámos, era o momento de vencer, mas não conseguimos”, concluiu.
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