A judoca portuguesa sai da sua estreia nuns Jogos Olímpicos com o peso de uma má arbitragem, numa decisão em que foi óbvio que foi ela quem atacou e viu a arbitragem fechar os olhos à falta de combatividade da líder mundial.
Diante da cubana Idalys Ortiz, a líder do ‘ranking’ e múltipla medalhada em Jogos Olímpicos, com ouro em Londres2012, prata no Rio2016 e bronze em Pequim2008, a favorita pareceu ser Rochele Nunes, num combate em crescendo e a ganhar confiança.
Depois de uma fase de mútuo receio, com as duas judocas penalizadas com um castigo (shido) ainda antes do final do primeiro minuto, Rochele Nunes esteve sempre um passo à frente, na tentativa de levar Ortiz ao ‘tatami’.
A um tímido ataque da cubana, a portuguesa respondeu com duas iniciativas, tentando sempre a projeção, antes de o combate chegar ao ‘golden score’, o prolongamento após os quatro minutos regulamentares e com as duas já tapadas com dois shidos.
As regras determinam que uma terceira penalização dita a eliminação imediata, e perante um combate em que foi Rochele a fazer uma sucessão de ataques, com Ortiz a não correr riscos, um terceiro ‘shido’ à cubana era expectável a qualquer momento.
A selecionadora Ana Hormigo percebeu, claramente, a situação, e deu o recado: “mais um [ataque] e é teu”, num contexto em que se esperava o castigo – que nunca chegou – à passividade de Ortiz, com a complacência da arbitragem.
Após as palavras da treinadora, a judoca portuguesa ainda tentou novo desequilíbrio, e, incrédula, manteve-se na expectativa, à espera de uma decisão que nunca chegou e que penalizasse a ‘estagnação’ da líder mundial.
A injustiça avolumou-se no único movimento de Ortiz, que, como quem espera a oportunidade para ferir o oponente, rodou sobre a portuguesa, a 1.58 minutos do prolongamento e pontuou para waza-ari, consumando a eliminação de Rochele Nunes.
A estreia nuns Jogos Olímpicos fez-se de lágrimas para a luso-brasileira, que em 2019 começou a representar Portugal e que nestes Jogos, em função de muito bons resultados no circuito mundial, prometia lutar por uma medalha.
"Odeio a sensação de voltar com a mala vazia”
“É difícil falar, porque não me preparei para o discurso de derrota. A única coisa que me cabe dizer é desculpa. Desculpa a Portugal. Não sei se desiludi, porque dei o meu máximo, mas ao mesmo tempo sei quanto confiaram e investiram em mim. Só posso pedir desculpa, mas estou de consciência limpa, dei o meu melhor”, explicou, na zona mista do Nippon Budokan.
Para já, não consegue ainda “retirar coisas positivas” da participação nos Jogos, frustrada e “triste” com o resultado, porque “o preço da derrota é alto” e leva até a colocar “em dúvida” tudo o que já conquistou.
Quanto ao combate “decisivo” com Ortiz, vê-o como um de detalhes, na qual a cubana “aproveitou a oportunidade de um erro” para vencer, ficando decidido “por muito pouco”.
“Quem está aqui já é o melhor, mas quem sobe ao pódio são os melhores dos melhores. Hoje, não fui eu. Mas tenho de ter orgulho do meu caminho. (...) O judo é injusto porque perdi com uma atleta de ir ao pódio e acho que merecia tanto como ela. Odeio a sensação de voltar com a mala vazia”, desabafou.
Reforçando por várias vezes o pedido de desculpa em quem “investiu” e “acreditou” nela, lembrou os sacrifícios até chegar a este nono lugar e a vontade de crescer para novos desafios, ancorado nos ‘exemplos’ Jorge Fonseca, na quinta-feira medalha de bronze, e em Telma Monteiro, também bronze no Rio2016.
“Peço desculpa por ter falhado aqui, muita gente torcia por mim, e ninguém queria mais do que eu. Saio com a consciência tranquila, mas dói. Quem acompanhou os meus treinos sabe o quanto eu chorava de dor, tudo doía, tive dias em que pensei em desistir, mas voltava, foi uma escolha minha. Não estou a reclamar, mas é difícil”, afirmou.
Para a frente, quer “descansar e reprogramar”, até porque depois de fechar este capítulo fica “já a pensar em Paris2024”, tendo “muito incentivo” e vontade de melhorar o seu judo para voltar à discussão.
Portugal despede-se da competição de judo nos Jogos Olímpicos com a medalha de bronze de Jorge Fonseca em -100 kg, alcançada na quinta-feira, um quinto lugar de Catarina Costa em -48 kg, numa competição em que teve oito judocas em ação.
Com a maior delegação de sempre nuns Jogos Olímpicos, a par de Barcelona92, Telma Monteiro (-57 kg), que foi bronze no Rio2016, perdeu ao segundo combate, bem como Bárbara Timo (-70 kg) e Patrícia Sampaio (-78 kg), enquanto Joana Ramos (-52 kg) e Anri Egutidze (-81 kg) disputaram apenas um combate.
[Notícia atualizada às 05h10]
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