Contudo, quatro jogos em trinta e quatro não podem ser entendidos como o final da época, muito pelo contrário; estão em jogo ainda 90 pontos e a Briosa tem capacidade de recuperar dessa má entrada. Mas porquê o mau início de época? O plantel terá falta de protagonistas e/ou jogadores com experiência?
A verdade é que se isolarmos todos os factores que compõem o clube de futebol profissional da Académica de Coimbra, encontramos bons e suficientes pormenores para colocar o maior emblema da cidade de Coimbra no topo da classificação da Ledman LigaPro. Vejamos alguns dos tais detalhes que compõe esta Briosa:
Experiência a mais ou juventude em falta?
O treinador Carlos Pinto é um conhecedor das dificuldades da segunda liga e de como ultrapassar essas mesmas adversidades, como aconteceu no CD Santa Clara. Pinto moldou a forma de jogar dos açorianos e depois de duas experiências no emblema de São Miguel, garantiu a subida à divisão tão desejada.
Consigo traz uma boa capacidade de liderança, conseguindo extrair o melhor dos seus comandados, onde o tal de moldar a equipa para um futebol de posse e contra-ataque faz a diferença. Todavia, o problema é que o futebol de Carlos Pinto não parece estar a encaixar no plantel que tem ao seu serviço para 2018/2019 e essa será a montanha a subir. A realidade dos conimbricenses é muito diferente do Santa Clara, um emblema que jogou sempre no contra-ataque e na surpresa, do que ser afirmadamente um contender pelos primeiros lugares, em que se espera um bom futebol ou pelo menos de domínio expansivo dentro das quatro-linhas.
No meio deste mau arranque, há um factor importante que pode aliviar a carga de maus resultados: nas duas últimas épocas da Académica na segunda liga, o arranque tem sido sempre terrível na conquista de pontos.
4 pontos em 2016/2017 e 3 pontos em 2017/2018. Fica a sensação que a situação classificativa da Briosa melhora claramente após a fase inicial, subindo de rendimento e até ombreando pelos lugares de topo da classificação. Porém, na época passada aqueles 9 pontos iniciais perdidos podiam ter feito toda a diferença no final das contas, falhando a promoção por quatro pontos.
É uma faca de dois gumes. É que se por um lado há indícios "históricos" de uma recuperação pós início de época, também se pode assumir que a fraca entrada na segunda liga é símbolo de não-subida no final da época. Paralelamente, o futebol dos conimbricenses está longe de encantar, sendo notável a falta de consistência na comunicação entre-linhas, a ausência de preponderância no ataque (se falarmos então da ocupação da grande-área existe um claro "fosso") e a instabilidade defensiva nestes primeiros 360 minutos de Ledman LigaPro.
Observando esses três elementos, que estão a tornar a Académica numa formação pouco eficiente, há que perceber se o problema provém de um plantel de fraca qualidade ou se é uma questão de sub-rendimento.
Na baliza há Peçanha, um lendário e "antigo" guardião do futebol português, que chegou para colmatar a saída de Ricardo Ribeiro (partiu para servir o Paços de Ferreira de Vítor Oliveira). Infelizmente, não tem sido de todo um bom início de época para o brasileiro, tanto pela expulsão sofrida (levou Hugo Almeida a calçar as luvas) como pela pouca eficiência com os seus colegas da defesa.
Peçanha traz experiência ao bloco defensivo, mas até a este momento não conseguiu substituir Ricardo Ribeiro e a ausência de um guardião mais agressivo e rápido a condicionar as jogadas dos seus adversários está a fazer falta ao plantel. A defesa também não recebeu as novidades necessárias, depois das saídas de Luisinho (regressou ao Académico de Viseu), Pedro Empis (era suplente, mas ainda assim jogou mais de uma dezena de encontros), Yuri (foi relegado para os sub-23, depois de uns bons 15 jogos na época passada) e a estranha ausência de José Castro (o central não parece contar para Carlos Pinto).
A Académica de Coimbra precisava de um reforço fenomenal para a defesa, com calejo, mas sem ter uma idade demasiada avançada, com possibilidade de liderar o eixo defensivo ao lado quer de Estevam ou João Real (este está afastado da equipa tendo acabado por ser adicionado ao plantel na falta de novidades). É que William, central com passagens pelo SC Braga e Gil Vicente, ainda começou a titular mas a lesão sofrida contra o Paços de Ferreira forçou a sua retirada do onze.
A falta que Chiquinho faz em Coimbra
As laterais deixaram de ter tanta versatilidade, especialmente a da direita, onde subsistia Luisinho. (A própria dupla de centrais não parece ter a sintonia do ano passado, faltando claramente mais uma opção.) Porém, o grande do problema vai para a criação de jogo, onde morava outro "inho", de seu nome Chiquinho. Francisco Machado era quem carregava a batuta de motivar o ataque, de originar bons lances de perigo iminente, e aquele que estava sempre pronto para decidir e mudar os ritmos de jogo.
A perda do número 10 foi símbolo de perda de agilidade, velocidade e engenho no ataque, e a própria estratégia de Carlos Pinto está assente num duplo pivô com Fernando Alexandre e Guima (com Ricardo Dias no banco) como recuperadores e gestores das movimentações no "miolo". Faltando o tal 10, o técnico optou por apostar em dois extremos mais dois avançados de área, com Hugo Almeida a ser um ponta-de-lança à antiga e Djoussé mais destacado na combinação entre-linhas, assente mais num papel de velocista do que goleador de área.
Todas estas combinações resultam numa equipa que destrói medianamente bem o jogo do seu adversário, que tenta ocupar o meio-campo com eficiência, mas que denota sérios problemas na construção e criação de jogo ofensivo, para além de não conseguir perceber a utilidade de ter Djoussé e Hugo Almeida a actuar na frente do ataque.
A somar a esta falta de coordenação e coerência do 11 titular, há ainda o problema de não existirem soluções no banco de suplentes que possam garantir sucesso ou dar pelo menos uma ajuda imediata. Romário Baldé ainda não se estreou, Júnior (ex-União da Madeira) ainda não apareceu com a mesma vivacidade com que agraciou a sua antiga equipa, Diogo Ribeiro ainda não agarrou a oportunidade, entre outros.
A ida ao mercado de transferências por parte da direcção da Académica de Coimbra foi também fraca tanto nos reforços (ou, melhor, na falta deles). Para além da má leitura que se fez do plantel, a equipa reforçou-se com Carlos Pinto, um bom técnico do futebol português, mas não se garantiu contratações de qualidade para além de Hugo Almeida (traz experiência, capacidade de choque e agressividade nas disputas aéreas), Guima, Joel e Djoussé.
Os três pontos da Académica de Coimbra neste arranque de época são preocupantes para um emblema que está constantemente a adiar o seu regresso ao convívio dos maiores de Portugal, mas perante a falta de equilíbrio financeiro da SAD, os problemas estruturais do clube e o plantel curto e desajustado, pode ser que seja preciso mais um ano na segunda liga para criar outra estabilidade que garanta não só sucesso como também coesão em Coimbra.
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