Não foi assim há tanto tempo que Lisboa foi o palco maior do futebol europeu. Na época de 2013/14, a final da Liga dos Campeões foi disputada no Estádio da Luz entre dois clubes vizinhos de Portugal - e entre si. Para conquistar o seu décimo troféu, o Real Madrid bateu o Atlético de Madrid por 4-1 depois de estar a perder até aos 93 minutos, vencendo uma final memorável já no prolongamento.
São momentos como esse os que se esperam nos próximos 11 dias, período em que quartos-de-final, 'meias' e final da Liga dos Campeões se vão disputar inteiramente na capital portuguesa, num formato inédito da competição criado devido às restrições provocadas pela Covid-19.
Findados os confrontos dos oitavos de final — fase que foi interrompida devido à pandemia — Bayern de Munique, FC Barcelona, Lyon e Manchester City juntaram-se a RB Leipzig, Atlético de Madrid, Paris Saint-Germain e Atalanta, que já se tinham apurado em março, antes da paragem.
Como todos os anos, há clubes mais favoritos do que outros a vencer o troféu, mas o caráter extraordinário desta edição veio baralhar as probabilidades. Por ser uma competição sem público e disputada a apenas uma mão, cada jogo é um "mata-mata", a trapalhada que se fez fora de portas não pode ser resolvida na partida em casa (e vice-versa), nem o fator adeptos pode energizar as equipas rumo à vitória.
Saiba quais as perspetivas, os regressos, o calendário e como poderá ver os jogos.
Os grandes favoritos
No lote dos favoritos, o natural destaque irá para o Bayern de Munique. Mantendo a senda de dominância que o tem caracterizado nos últimos anos, o clube bávaro ganhou tudo o que havia para ganhar a nível interno — Bundesliga e Taça da Alemanha — e é, neste momento, o único clube na Liga dos Campeões com um registo cem por cento vitorioso.
Tal proeza deve-se ao facto de ter sofrido apenas seis golos na prova, mas marcado 31. O maior responsável é, sem dúvida, um certo artilheiro chamado Robert Lewandowski, que, com 13 tentos, posiciona-se como o melhor marcador desta edição da competição. Junte-se a atual prestação ao historial — os alemães já venceram por cinco vezes a competição e têm sido presença assídua nas fases finais — e temos um candidato de peso.
A acompanhá-lo de perto estará o FC Barcelona, outro clube que ainda não soube o que é perder nesta edição da “Champions”, contabilizando cinco vitórias e três empates. A longa época do Barcelona tem sido altamente atribulada — desde o despedimento de Ernesto Valverde aos fracos resultados do seu substituto, Quique Setién, que levaram à perda do campeonato espanhol para o Real Madrid —, mas se há equipa que conhece esta competição como ninguém são os catalães.
Esta é, diga-se, a 13.ª época consecutiva que o FC Barcelona atinge os quartos-de-final, desde 2007/08, sendo que nesse período conquistou o título em 2009, 2011 e 2015 — ao todo os catalães venceram a competição por cinco ocasiões, somando-se as conquistas de 2005/06 e 1991/92. Foi ainda semifinalista em 2008, 2010, 2012, 2013 e 2019. E quem tem Lionel Messi, arrisca-se sempre a ganhar.
No entanto, apesar destes serem os dois grandes favoritos, apenas um irá passar desta fase, já que ambos têm confronto marcado para o dia 14 de agosto.
Entre o lote de grandes candidatos estão também dois dos grandes milionários em prova, o Manchester City e o Paris Saint-Germain, mas cuja falta de experiência — e resultados — na competição, retira-lhes algum favoritismo.
Do lado dos ingleses, o treinador, Pep Guardiola, sabe bem o que é vencer a prova — fê-lo por três vezes com o Barcelona, duas como técnico e outra como jogador —, mas só desde que se tornou um “clube grande” — no sentido financeiro — é que o Manchester City passou a disputar a Liga dos Campeões, em 2012/13. Desde então, só por uma vez chegou às meias-finais, em 2015/16, tendo caído nos quartos-de-final nos últimos dois anos.
Depois de um ano para esquecer a nível interno, os Citizens farão tudo para levar a “orelhuda” para casa, eles que este ano também ainda não perderam na prova (seis vitórias, dois empates). A ajudá-los, para já, está o facto de encontrarem o Lyon nos quartos-de-final, equipa teoricamente mais fraca (mas apenas na teoria, como se verá mais à frente).
Já no que toca aos parisienses, a sua falta de resultados na Liga dos Campeões dado os orçamentos milionários que têm composto as suas equipas tornou-se alvo de troça ao longo dos últimos anos. Apesar do seu registo avassalador em França, o Paris Saint Germain nunca passou dos quartos-de-final da competição, e nos últimos três anos ficou-se sempre pelos oitavos.
Este ano, porém, poderá trazer melhores auspícios. Depois de um percurso quase irrepreensível até agora — a sua única derrota, contra o Borussia Dortmund nos oitavos de final, foi compensada com uma vitória na segunda mão contra os alemães —, os comandados por Thomas Tuchel enfrentam a Atalanta, que apesar do excelente futebol, não consta como sendo um “tubarão” da prova. E Kylian Mbappé, uma das melhores armas do arsenal francês, afinal não estará fora de combate, tendo recuperado da sua lesão no tornozelo a tempo de jogar em Lisboa.
Das surpresas aos valores seguros: os outros candidatos
Poderá parecer algo injusto colocar o Atlético de Madrid fora do lote dos grandes favoritos, mas tal deve-se não tanto às prestações que o emblema espanhol tem tido na Liga dos Campeões e sim à época que teve. Terminando em 3.º lugar na La Liga — e em igualdade pontual com o 4.º classificado, o Sevilha — a 17 pontos do topo, é seguro dizer-se que este não foi um bom ano para Diego Simeone e os seus rapazes.
Porém, não nos esqueçamos de que esta é a equipa que foi à final em 2015/16 e em 2013/14, a mesma que nesta edição eliminou os ainda campeões Liverpool. As baixas devido à pandemia poderão provocar mossa, mas a turma de “El Cholo” nunca joga senão olhos nos olhos, e o embate com o RB Leipzig promete.
Já os alemães, têm vindo a tornar-se num valor crescente no futebol europeu desde que a Red Bull infundiu o clube de competitividade com muitos milhões de euros, apostando em jovens talentos. Esta é, todavia, apenas a segunda vez que o RB Leipzig se encontra em prova e a falta de traquejo pode ser um forte entrave às aspirações desta equipa.
A piorar as coisas para o RB Leipzig, o clube vendeu o seu maior goleador, Timo Werner, ao Chelsea nesta atípica janela de transferências, enfrentando agora o Atlético de Madrid com menos poder de fogo. No entanto, tendo como técnico Julian Nagelsmann — um dos mais promissores treinadores do mundo, que, com 33 anos, é mais novo que vários jogadores em prova —, os alemães podem fazer um brilharete. Seja como for, qualquer que seja a prestação futura, já terão estabelecido um recorde.
Tal é também o caso da Atalanta, que é, sem sombra de dúvidas, a equipa sensação desta edição. Apesar de ser um emblema histórico de Itália, o clube de Bérgamo pouco estava habituado às lides europeias e ainda menos às da Liga dos Campeões, na qual se estreou em absoluto nesta época. Depois de, em 2014-15, ter-se escapado da despromoção, os anos seguintes viram a equipa lombarda a escalar a classificação da Série A para se tornar uma ameaça de peso. Com isso, vieram os lugares europeus e, depois de alguns ensaios malsucedidos na Liga Europa, a equipa fez a sua entrada de rompante na “Champions”.
Tal sucesso recente é responsabilidade do casamento da experiência de Gian Piero Gasperini com o talento de uma equipa construída a régua e esquadro, sem os milhões mas com a visão. Depois do trauma recente de ver a sua região tornar-se num dos epicentros mundiais da Covid-19, a Atalanta enfrenta agora um outro desafio, nos relvados, de defrontar o PSG.
Por fim, o Lyon, por ventura uma das equipas com mais experiência europeia deste lote de oito. Depois de uma década de hegemonia no futebol francês, o clube do norte de França decaiu a nível interno e cedeu o seu lugar ao PSG, mas raramente deixou de se apurar para a Liga dos Campeões. Tal porém, começou a acontecer com maior frequência nos últimos anos, mais turbulentos para os Gones.
Nesta época, os franceses fizeram um percurso altamente adverso na Liga dos Campeões, com apenas três vitórias em oito jogos. No entanto, quando tudo parecia perdido para a equipa de Rudi Garcia ao ter de enfrentar a Juventus nos oitavos-de-final, o Lyon conseguiu ultrapassar a Vecchia Signora e chegar até esta fase, o que demonstra que favoritismo, só no papel. O Manchester City que tome notas.
Uma "Champions" de regressos
Esta final a oito significa também o regresso de uma mão cheia de portugueses a casa. Tal é o caso de Bernardo Silva e João Cancelo, do Manchester City, João Félix, do Atlético de Madrid, Nelson Semedo do Barcelona e Anthony Lopes — que nunca morou em Portugal, mas esta é, afinal de contas, a sua casa espiritual —, do Lyon.
Para além disso, vários outros jogadores, apesar de não serem portugueses, vão voltar a um país que outrora os acolheu. São eles:
- Ederson Moraes (SL Benfica) e Nicolás Otamendi (FC Porto), do Manchester City;
- Felipe, Héctor Herrera (FC Porto), Ivan Saponjic (SL Benfica) e Santiago Arias (Sporting CP), do Atlético de Madrid;
- Marçal (Torreense, Nacional e Benfica), do Lyon;
- Thiago Silva (FC Porto), Ángel Di María (SL Benfica) e Jesé Rodríguez (Sporting CP), do Paris Saint-Germain,
Onde e quando decorrem os jogos da Liga dos Campeões
Ocorrendo exclusivamente em Lisboa, esta fase final da Liga dos Campeões vai decorrer nos dois maiores estádios da capital, o da Luz, casa do Benfica, e o de Alvalade, reduto do Sporting.
Os jogos — todos eles com hora marcada às 20:00 — vão alternar entre estes dois campos, sendo este o calendário:
- Atalanta vs Paris Saint-Germain — 12 de agosto — Estádio da Luz
- RB Leipzig vs Atlético de Madrid — 13 de agosto — Estádio José Alvalade
- Barcelona vs Bayern — 14 de agosto — Estádio da Luz
- Manchester City vs Lyon — 15 de agosto — Estádio José Alvalade
No que toca às meias-finais, os vencedores dos jogos entre Atalanta e Paris Saint-Germain e entre RB Leipzig e Atlético de Madrid defrontam-se no dia 18 no Estádio da Luz. Já os emblemas triunfantes nos embates que vão antepôr Barcelona e Bayern e Manchester City e Lyon encontram-se no Estádio de Alvalade no dia 19.
A grande final — originalmente estipulada para acontecer no Estádio Ataturk, em Istambul, na Turquia, antes da pandemia — dar-se-á no Estádio da Luz, a 23 de agosto
Em que moldes vão decorrer estes jogos?
Dadas as contingências da pandemia, esta “final a oito” vai decorrer com regras especiais:
- Ao contrário do que acontece normalmente, desta vez vai haver apenas uma mão entre cada uma das equipas, ou seja, cada jogo é a eliminar e, naturalmente, não há vantagem de golos fora de casa. Em caso de empate, há prolongamento e desempate por grandes penalidades.
- As equipas podem inscrever mais três jogadores para competir na prova, mas apenas se já fossem elegíveis a 3 de fevereiro, ou seja, contratações deste mercado de verão não podem participar.
- As equipas podem ter 23 jogadores na convocatória em vez de 18.
- Tal como aconteceu um pouco por todos os campeonatos de futebol, vão poder ser feitas cinco ao invés de três substituições durante o jogo, podendo ocorrer uma sexta se a partida for a prolongamento. As equipas só podem fazer as substituições em três períodos diferentes durante o jogo, para além de poderem fazê-lo durante o intervalo e entre o tempo regular e o prolongamento.
- A acumulação de cartões amarelos vai ser limpa a partir dos oitavos de final. A regra dita que a acumulação de três cartões amarelos por jogador levará à sua suspensão por um jogo, salvo algumas exceções.
Onde se podem ver os jogos?
As partidas desta edição da Liga do Campeões podem ser vistas através da Eleven Sports, que detém os direitos de transmissão da competição. A final vai também ser transmitida na TVI.
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