Moussa Marega não é um jogador pelo qual um adepto se apaixone facilmente. Estranhamos quando surge sozinho na área e, de cabeça, nem na baliza acerta (25’) - mesmo que logo de seguida o árbitro auxiliar levante a bandeirola para assinalar o fora de jogo. Estranhamos quando o maliano, dando azo à sua velocidade, solta-se para receber um belo passe de Brahimi, chega à área e diante do guarda-redes opta por um passe para o lado (35’), quando os colegas de equipa ainda estão demasiado recuados e marcados, cada um, pelo adversário, ao invés de tentar o remate. Estranhamos quando, novamente isolado, a troco de um grande passe de André Pereira (83'), é Muslera a brilhar ao invés do avançado. Estranhamos quando ao fim de 90 minutos Marega soma dois remates desenquadrados com a baliza, acertou pouco mais de metade dos passes, foi desarmado quatro vezes, falhou em controlar a bola em posse por quatro vezes e caiu em três foras de jogo.

E, quando o adepto se levanta do sofá e volta a perguntar, em voz alta, porque é que Soares não foi inscrito na Liga dos Campeões, a lamentar a lesão de Aboubakar, até a questionar o empréstimo de Gonçalo Paciência e a dizer que em janeiro os dragões têm de ir ao mercado, Marega recebe o canto de Alex Telles no centro da área, sozinho - enquanto Nagatomo ficava imóvel a olhar para o maliano a elevar-se no ar, sem oposição, quando o devia estar a marcar - e faz golo. O primeiro e único golo do jogo, o golo da vitória sobre o Galatasaray, da primeira vitória do FC Porto nesta edição da Liga dos Campeões.

Havia um elefante na área e ninguém o viu.

Não é fácil apreciar um jogador que chegou ao Dragão na segunda metade da época 2015/16, proveniente do Marítimo, e nada acrescentou ao plantel. Não foi igualmente fácil encaixar que o mesmo jogador, que nada acrescentou à equipa azul e branca à chegada, tenha feito um brilharete na época seguinte, emprestado ao Vitória de Guimarães.

Até que chegou Sérgio Conceição. Marega voltou e depois de se estranhar, entranhou-se, com uma temporada em que faz 23 golos e foi um jogador chave para que o FC Porto voltasse a conquistar um campeonato.

Havia um elefante no balneário e ninguém tinha reparado

No início da atual temporada, o maliano esteve de parte. Manifestou publicamente que queria sair, que era o momento certo para cumprir o sonho de jogar na Premier League - tinha em mãos uma proposta do West Ham - e foi afastado. Primeiro não treinou, depois pisou os relvados, mas ficou à parte do grupo. Finalmente foi reintegrado e, no dia 25 de agosto, estreou-se na nova época. Os adeptos, que já tinham entranhado, voltavam a estranhar.

Por vezes, torna-se difícil explicar por que é que nos "entranhamos" em Marega, um jogador longe de ser talentoso tecnicamente, que ao fim de uma boa temporada com a camisola do FC Porto quis sair, que falha três golos para marcar um.

Moussa Marega é um poço de força e vontade. Corre, cai, levanta-se. E não se importa. Às vezes é difícil explicar a um adepto a importância de um jogador que não tenha medo de errar, que não se importe de cair, porque, na sua cabeça, tem a certeza de que vai conseguir. Que vai fazer golos e que, muitas vezes, esses golos vão ser decisivos.

Foi por isso que, ao minuto 25, quando Marega atirou a bola por cima da baliza ao mesmo tempo que era assinalado o fora de jogo os adeptos estranharam-no e Sérgio Conceição aplaudia e pedia que se voltasse a tentar o mesmo tipo de jogadas.

Havia um elefante no plantel e só Sérgio Conceição é que o viu.

créditos: FRANCISCO LEONG / AFP

Bitaites e postas de pescada

O que é que é isso, ó meu?

Nagatomo pode ser uma peça-chave para entender a falência defensiva do Inter de Milão nos últimos anos. O japonês somou sucessivas falhas de marcação abrindo uma auto estrada no lado esquerdo da defensiva turca que Jesus Corona e Marega aceitaram de bom grado. O único movimento em que conseguiu acompanhar um atacante do FC Porto foi com os olhos, quando ficou imóvel a olhar para Marega a cabecear a bola e a fazer o golo, quando o devia estar a marcar.

Casillas, a vantagem de ter duas pernas

Foi precisamente com a perna e uma mancha perfeita que Iker Casillas (com 169 jogos de Liga dos Campeões em cima) somou duas enormes defesas que permitiram que a sua baliza permanecesse inviolável durante os 90 minutos. É um privilégio ter um guardião como o espanhol a jogar num clube português.

Fica na retina o cheiro de bom futebol

Quando vemos - lá está, na esquerda da defesa do Galatasaray - Corona passar por dois adversários, segurar a bola em cima da linha final, encontrar Brahimi sozinho do outro lado da área e a fazer um passe teleguiado para o argelino - que bombeou para a baliza e permitiu a Muslera fazer uma das defesas da noite - podemos ir para casa com um sorriso na cara e a certeza de que os 79 euros empregues numa camisola do FC Porto com o nome do mexicano não foram um investimento perdido.

Nem com dois pulmões chegava à bola

Garry Rodrigues voltou a Portugal (apesar de grande parte da carreira ter sido passada na Holanda, jogou cerca de dois anos nos juniores do Real Massamá), exibiu-se bem e foi um desconforto permanente para a defesa portista. Mesmo que tivesse feito uma exibição mais discreta, com certeza que não teria pulmões para encontrar a bola que, diante de Casillas, atirou alto e torto por cima da baliza. Nas redes sociais, os relatos dão conta de que a bola estará caída e perdida para os lados da Campanhã.