O adiamento foi benéfico para a preparação ou foi mais um momento de ansiedade?

O adiamento criou alguma desilusão, pois estava muito “bem lançada”, com muito bons resultados e prestações nas provas de elevado nível. No entanto, aos poucos, fui percebendo que com este adiamento também surgiram mais oportunidades e mais tempo para melhorar-me enquanto atleta.

Beneficiou com o adiamento ou está nos Jogos devido a esse facto?

A última prova a contar para a qualificação foi realizada no início de março de 2020, o que permitiu que a minha presença nos jogos ficasse fechada. Com algumas outras modalidades isso não aconteceu e tiveram muitos meses de incerteza e ansiedade, por isso considero que no meu caso fui uma privilegiada em poder ter garantido o passaporte para Tóquio antes dos meses de quarentena que tivemos.

BI Olímpico

Maria Martins

Modalidade: Ciclismo (pista)

Idade: 22 anos

Naturalidade: Santarém

Clube: Drops Team (Reino Unido)

Treinador: Gabriel Mendes

Participações: Esta será a sua estreia nos Jogos Olímpicos. Maria Martins fez história ao qualificar pela primeira vez o ciclismo de pista português para os JO.

Factos e Curiosidades: A atleta foi a primeira portuguesa a conquistar medalhas em Mundiais e Europeus de elite, em ambos casos de bronze, em scratch. Recentemente, neste mês de julho, Maria Martins foi ouro na prova de omnium (disciplina em que competirá em Tóquio2020) da Taça das Nações de pista. Em São Petersburgo (Rússia), a jovem ciclista subiu ao lugar mais alto do pódio no dia em que celebrava o seu 22.º aniversário.

Há quanto tempo está a preparar os JO?

Há três anos ninguém pensava nisto. Nem mesmo em sonhos… A verdade é que em 2018, quando realizei a primeira prova pontuação para a qualificação, tive uma prestação de grande nível. Foi a partir daí que começámos a pensar que talvez podia conseguir qualificar-me…

Ao longo deste ciclo Olímpico, quando é que pensou: este é momento do “tudo ou nada”?

Houve um momento marcante, a Taça do Mundo de Hong Kong, em 2019, onde o resultado lá alcançado iria ser determinante no meu processo de qualificação, o que acabou por ser um dos momentos desta qualificação onde senti mais pressão. Era o “tudo ou nada” e sabia que o resultado dessa prova era determinante para continuarmos na luta pela qualificação.

Senti a pressão... Mas agora, olho para trás, para esse e outros momentos, e sinto um enorme orgulho pela forma como consegui superar tudo.

Qual o pior momento na preparação?

Sem dúvida que o pior momento foi quando, no ano passado, estive infetada com Covid-19. A infeção, e os sintomas, obrigaram-me a parar cerca de três semanas.

O que se seguiu à recuperação não foi fácil. O corpo foi abaixo de tal forma que, quando regressei aos treinos, alguns exercícios que anteriormente seriam fáceis, naquele momento eram dolorosos. Confesso que o que me fez regressar, e aquilo a que me agarrei, foi à qualificação para Tóquio.

Que preparação específica foi feita? (Por exemplo, vai alterar os ciclos de sono antecipadamente face à diferença horária?)

Neste momento, a única preparação que foi feita foi nos treinos. Fizemos estágios em altitude, temos tentado simular as temperaturas e humidade que vamos encontrar lá e treinamos nesse tipo de condições para haver uma mínima adaptação do corpo.

No entanto, em termos do sono, não fizemos nenhum tipo de adaptação. Até porque vamos com alguma antecedência para Tóquio, o que nos permite fazer essas adaptações.

Qual a maior dificuldade que espera encontrar em Tóquio?

Penso que a temperatura e a humidade são das coisas mais adversas que podemos encontrar lá.

Qual a coisa mais inusitada que leva na bagagem para o Japão?

Provavelmente a minha almofada.

Quais são os objetivos em termos de resultados/marcas?

O objetivo é chegar na melhor forma possível e, como tal, tentar alcançar o melhor resultado possível. Mas conseguir um diploma olímpico, que requer um lugar nas oito melhores, era um resultado que me deixaria extremamente satisfeita.

O que é um bom resultado olímpico para Portugal?

Penso que um resultado positivo seria estar nos dois terços da classificação. E um resultado muito positivo seria ficar no primeiro terço da tabela.

Qual a primeira memória que tem dos Jogos Olímpicos?

Lembro-me de ser pequena, estar em casa a ver os JO na televisão, e só pensar: “Eles devem estar tão felizes por lá estar…”. Invejava-os pela positiva, por serem atletas olímpicos. E agora vou sê-lo! Para mim sempre foi um sonho.

Quem é o melhor atleta olímpico de sempre na sua modalidade?

Não é fácil dizer qual é o melhor atleta quando temos tantos e tão bons.

Se ganhar uma medalha, a quem a vai dedicar?

Dedico a todas as pessoas que fizeram parte do meu caminho. Não são muitas, mas elas sabem quem são!

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Memórias, objetivos e até uma pandemia. Rumo aos Jogos Olímpicos, que se realizam de 23 de julho a 8 de agosto em Tóquio, no Japão, desafiámos alguns dos nossos atletas a responder a um Questionário Olímpico.