Melhor começo para José Mourinho seria impossível. Com a Supertaça conquistada ao campeão Leicester e três vitórias nos três primeiros desafios da Premier League, o português já bateu um recorde centenário ao serviço do Manchester United: é o único treinador da história do clube a conseguir vencer os primeiros quatro jogos oficiais da época. Cento e trinta e oito anos de história esmagados em apenas quatro semanas. Especial.
Chega agora a vez de receber o Manchester City de Guardiola. Com o United cada vez mais moldado à sua imagem e apenas 3 golos sofridos, estarão os Red Devils (alcunha do clube) preparados para o primeiro grande teste da época? Analisemos, então, o seu onze base.
De Gea continua no clube e melhor opção para a baliza seria difícil. Quanto à defesa, muito deste sucesso inicial se deve à prestação deste sector: a feliz adaptação de Valencia à direita - apesar de não ser novidade, o equatoriano aparece super motivado neste início de época –, o regresso de Shaw à esquerda (após prolongada lesão) e a solidez de Blind e Bailly no centro. Especial atenção para este último, rapidíssimo defesa-central, com um poder de antecipação enorme e grande influência na estratégia defensiva de Mourinho.
Com o indiscutível Zlatan Ibrahimovic na frente – homem com uma opinião “especial” sobre Guardiola, seu ex-treinador no Barcelona –, as poucas dúvidas na construção do onze que vai defrontar o City, residem no meio campo. Pogba será o único, na minha opinião, com lugar cativo. À sua volta veremos quem será o médio defensivo, os dois extremos e o jogador que jogará no apoio ao gigante sueco. Pessoalmente, não sou fã, nem de Fellaini, nem “deste” Rooney – tenho a convicção de que, neste momento, ambos não oferecem ao United o necessário para movimentar a bola com rapidez e criar desequilíbrios ofensivos. Provavelmente, num futuro próximo ou em jogos “a doer”, não serão opção. O que é certo é que, para já, parecem indispensáveis. E Mourinho, sendo "Mourinho", tratou de injetar no inglês e no belga uma enorme dose de confiança (que, à semelhança de Valencia, se nota no seu desempenho).
No que respeita às alas, Juan Mata e Anthony Martial têm sido os escolhidos para ocupar ambas as posições, sendo que o espanhol dá ao onze versatilidade no jogo interior e o francês está focado em oferecer largura e profundidade à dinâmica da equipa. No último jogo, contudo, Martial e Mata foram substituídos por Mkhitaryan (que, na minha opinião, fará parte da equipa titular num futuro muito próximo) e Rashford, eletrizante jovem inglês capaz de desequilibrar qualquer defesa. Sabendo da falta de confiança de Mourinho em Mata quando a equipa não tem a bola - que já vem dos tempos em que coabitaram no Chelsea – é possível presumir que Martial e Rashford serão os titulares no derby de Manchester. Tal implicará um Rooney mais recuado que o habitual – caso se confirme a maioria de posse de bola do City – e Martial mais envolvido no processo defensivo, de forma a poder libertar Rashford para os desequilíbrios ofensivos, ele que acabou de assinar um hat-trick pela seleção sub-21 inglesa. Assim, a meu ver, o United apresentar-se-á sólido, sem grande vontade de ter bola e “obrigando” o City a sair do seu meio campo para depois contra-atacar de forma letal.
Adicionalmente, há outros fatores que, na minha opinião, poderão influenciar o jogo. Primeiro, a capacidade de Ibrahimovic segurar a bola, permitindo que a equipa suba. Tal ainda não foi testado em jogos em que o United não tem a maior parte da posse de bola, pelo que será interessante perceber a entrega de Rooney e a opção da equipa pelo passe curto ou longo, na tentativa de explorar o contra-ataque. Depois, será também de atentar as restrições ofensivas de Shaw. Sempre que o United sair em contra-ataque, será Valencia o homem que vai explorar o corredor direito em profundidade, deixando a ala esquerda para Martial – tal implica que Shaw tenha de ter cautelas defensivas, até para não deixar a equipa descompensada e frágil aos eventuais contra-golpes do City.
Quanto à equipa de Guardiola, destaque claro para os defesas laterais. Neste início de época, já vários jogadores passaram por ambas as posições. Contudo, se Zabaleta e Kolarov forem os escolhidos, é muito provável que ambos se ajustem em posições mais interiores assim que o City tiver a posse de bola. Guardiola já montou a equipa de várias formas neste início de época, pelo que será interessante- perceber se essa será a opção neste jogo. Por último, Kun Aguero. O argentino não joga devido a suspensão e, apesar de Guardiola tentar desvalorizar esse fato, o mais provável é que a sua ausência tenha um impacto bastante relevante no jogo do City.
Contudo, sobre o estilo de jogo e plantel do Citizens (algunha dos azuis de Manchester) muito mais haveria para abordar, pelo que deixaremos análises mais profundas para uma das próximas semanas.
Quando o jogo se iniciar neste sábado em Old Trafford (casa do United) estarão em confronto não apenas dois clubes rivais mas também dois estilos de treinador, dentro e fora do campo. Mourinho e Guardiola estão em polos opostos no modo como lidam com jogadores, imprensa e, principalmente, na forma como montam as suas equipas. Que chegue o apito inicial!
Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Neste momento a representar a academia do Luton Town, o Pedro deseja fazer aquilo que nenhum outro treinador português fez, ir do 4º escalão das Ligas Inglesas até ao estrelato da Premier League. Até lá, podemos sempre ir lendo as suas crónicas.
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