"Mind games". Uma expressão que assenta que nem uma luva em José Mourinho, mesmo que o agora treinador do Tottenham seja um homem novo neste seu regresso à Premier League. E terá que ser à luz dessa capacidade de trabalhar a psicologia dos jogadores que deverão ser lidas as declarações do treinador português ontem, 31 de dezembro, último dia de 2019, e a menos de 24 horas do jogo desta tarde do primeiro dia de 2020 que levou o Tottenham até ao terreno do Southampton. Oito pontos separavam as duas equipas inglesas no início desta 21ª jornada da Premier League, com o Tottenham em 8º lugar e o Southampton em 15º na tabela.
Na primeira volta desta época da Premier League , o Tottenham venceu em Londres por 2-1, ainda Mourinho não liderava a equipa. Hoje, o resultado acabou por ser fixado com um golo solitário ao minuto 17 da primeira parte que colocou a equipa da casa em vantagem que soube manter ao longo de todo o jogo.
"Temos de melhorar, sofremos demasiados golos e é muito frustrante. Se fosse um dos meus avançados estaria muito frustrado que não conseguíssemos defender melhor". Foi isto que Mourinho disse antes do jogo de hoje frente ao Southampton, ainda que não tenha deixado de destacar o facto de "a equipa nunca desistir" e de elogiar o "fantástico espírito". Não terá sido diferente do que disse aos seus jogadores em privado - mas das palavras aos factos vai uma distância, no futebol como no resto.
E o Tottenham ficou a perder logo aos 17 minutos da partida num golo marcado pelo nº9 do do Southampton, numa daquelas jogadas que faz gostar de futebol. Um passe longo, um drible em frente à baliza e um grande golo de Danny Ings. Daí até ao final da primeira parte, o Southampton soube manter a compostura e a consistência, mesmo que o Tottenham tenha tentado chegar ao empate, mas falhando mesmo em oportunidades saídas dos pés do seu melhor marcador, Harry Kane. E, quase a fechar a primeira parte, foi mesmo o Southampton a pregar um susto frente à baliza defendida por Paul Gazzaniga.
E a segunda parte começou exatamente como terminou a primeira: com o Southampton a atacar e a criar perigo frente à baliza do Tottenham, numa jogada protagonizada pelo ex-jogador do Sporting Cédric Soares. Foi só o primeiro sinal: no minuto seguinte, nova jogada de perigo, no campo e nos ecrãs ficou inclusive a dúvida se teria havido braço intencional, mas o VAR desfez as dúvidas e mandou jogar para alívio dos "spurs".
Pouco passava dos 50 minutos de jogo quando coube ao Tottenham em contra-ataque protagonizado por Lucas Moura e Dele Alli criar uma oportunidade de perigo, mas que a defesa do Southampton foi hábil a cortar. A jogada marcou no entanto uma nova fase do jogo, com a equipa de Mourinho a pressionar e a encostar o Southampton à sua linha defensiva - sendo que nunca a equipa da casa se mostrou dominada, continuando a aproveitar todas as oportunidades para contra-atacar.
Aos 72 minutos o Tottenham marcou mesmo pelo suspeito do costume, o n.º 10 Harry Kane, mas a jogada a acabou por se saldar numa dupla desilusão: o golo foi anulado por fora de jogo e o avançado-que-resolve-jogos lesionou-se e pediu para sair. Quatro minutos mais tarde, aos 76 minutos, o treinador português dirigiu-se ao banco da equipa adversária e recebeu um cartão amarelo, cuja justeza mostrou reconhecer, a julgar pelas imagens.
A semana entre o Natal e o Ano Novo, em que a maior parte do mundo ocidental tira uns dias para descansar, é tudo menos repousante para quem joga no futebol inglês. Em sete dias jogam-se três jogos e a capacidade física das equipas - e sorte do jogo em matéria de lesões - desempenha um papel importante. A equipa liderada por José Mourinho chegou ao último jogo, o de hoje, desta semana non-stop com uma vitória no Boxing Day frente ao Brighton, um empate no sábado, 28 de dezembro, frente ao Norwich e terminou hoje com uma derrota frente ao Southampton.
Há 11 anos que o Tottenham não perdia o primeiro jogo do ano civil no campeonato inglês. Resta o consolo de saber que, para efeitos do calendário, a época das prendas está mesmo a terminar.
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