VENCEDOR: As próximas gerações da família Hayward
Afinal havia outra, quando Gordon Hayward decidiu abdicar do último ano de contrato com os Boston Celtics e respetivos 34 milhões de dólares. Havia outra proposta melhor, entenda-se. O extremo queria um novo contrato longo e bem pago, e tinha propostas na ordem dos 100 milhões de dólares por quatro anos, incluindo uma dos Indiana Pacers, onde parecia querer jogar.
No entanto, um telefonema de Charlotte e mais 20 milhões na conta bancária obrigaram Hayward a mudar a rota e a aceitar a oferta dos Hornets: 120 milhões de dólares por quatro anos de contrato, para um jogador que vai fazer 31 anos em março, que vem de uma lesão horripilante em 2017 e era apenas a quarta figura da hierarquia dos Celtics. Irrecusável.
DERROTADO: Michael Jordan
Foi Michael Jordan que fez o tal telefonema a Gordon Hayward. Para além do dinheiro colocado em cima da mesa pelo general manager Mitch Kupchak, a antiga lenda dos Chicago Bulls também quis ter um papel decisivo na contratação de um jogador que falhou 111 jogos nas últimas três épocas devido a lesões e pegou no telemóvel para fechar negócio. Um mau negócio, como tem sido habitual para aqueles lados nos anos mais recentes, como o provam os (maus) contratos de Nicolas Batum, Bismack Biyombo e Terry Rozier.
Sim, é claro que Hayward vai ajudar os Charlotte Hornets a ganharem mais jogos, mas para quê? Para lutarem pelo acesso aos playoffs e, se lá chegarem, para serem varridos logo na primeira ronda da fase a eliminar?
VENCEDOR: Os campeões
A free agency não parecia prometedora para os Los Angeles Lakers, com os rumores sobre jogadores essenciais na conquista do título associados a outras equipas, mas o general manager Rob Pelinka mostrou estar preparado para tudo. Danny Green, Rajon Rondo, Avery Bradley, Dwight Howard e JaVale McGee saíram mesmo, mas entraram o base Dennis Schröder (melhor marcador entre todos os suplentes da NBA, na última época), o poste Montrezl Harrell (vencedor do prémio de Melhor 6.º Jogador na temporada passada), o extremo Wesley Matthews (com características idênticas a Green e substancialmente mais barato) e o poste Marc Gasol (se estiver bem fisicamente, pode encaixar melhor que Howard e McGee), todos a preço de saldo. E ainda renovaram com Kentavious Caldwell-Pope e Markieff Morris.
A equipa de LeBron James e Anthony Davis parece ter melhorado, pelo menos no papel.
DERROTADO: Milwaukee Bucks... até ver
Os adeptos dos Bucks podiam estar a festejar um autêntico jackpot se Bogdan Bogdanović tivesse aceitado a operação de sign-and-trade que o levaria a rumar a Milwaukee e juntar-se a Jrue Holiday, Khris Middleton, Giannis Antetokounmpo e Brook Lopez naquele que seria um dos cincos iniciais mais fortes de toda a liga. Mas o extremo sérvio "roeu a corda", preferiu dizer sim às 72 milhões de razões para assinar pelos Atlanta Hawks e, agora, os adeptos dos Bucks temem que esta free agency tenha um sabor agridoce.
Para compensar o fracasso Bogdanović, o front office da equipa que conseguiu o melhor registo de vitórias/derrotas da última época fechou várias adições de recurso - D.J. Augustin, Bryn Forbes, Torrey Craig e Bobby Portis entraram para os lugares de Eric Bledsoe, George Hill, Wesley Matthews, Ersan Ilyasova e Robin Lopez -, mas que não fazem esquecer "BogBog" e, muito mais importante do que isso, poderão não ser suficientes para convencer Antetokounmpo a assinar a extensão de contrato.
O "Greek Freak" será um jogador livre no final da época 2020/21 e tem até ao dia 21 deste mês de dezembro, véspera do arranque oficial da temporada, para renovar e evitar um ano de especulações a comprometer a estabilidade emocional da formação orientada por Mike Budenholzer.
VENCEDOR: Lançadores de elite
Se Bogdan Bogdanović teve 72 milhões de razões para se mudar de Sacramento para Atlanta, o letão Davis Bertans e o norte-americano Joe Harris tiveram 80 milhões e 75 milhões de razões, respetivamente, para continuarem ao serviço das mesmas equipas que defenderam nos últimos anos. O motivo? Bertans e Harris foram dois de apenas cinco atletas com eficácia superior a 42% nos lançamentos de três pontos e mais de cinco tentativas de triplos por jogo. Mesmo que não sejam capazes de defender um banco de jardim, lançar bem e com volume dá dinheiro na NBA.
DERROTADO: Detroit Pistons
Ninguém entende muito bem o que os Pistons andam a fazer. Depois de um draft considerado positivo pelos analistas, o conjunto do estado de Michigan podia ter abordado a free agency com uma prioridade: segurar a revelação Christian Wood. Em vez disso, deixaram sair o extremo/poste para os Houston Rockets com um contrato de três anos por 41 milhões de euros e - pasmem-se! - deram um total de 85 milhões a Jerami Grant e Mason Plumlee, ambos atletas de posições interiores. Como se não estivessem satisfeitos, ainda contrataram os também postes Jahlil Okafor, Dewayne Dedmon e Tony Bradley. Numa equipa que já tem os «bigs» Blake Griffin e Sekou Doumbouya no plantel, e numa era em que se joga cada vez menos com jogadores grandes, é no mínimo estranho.
VENCEDOR: Jogadores undrafted
Fred VanVleet era, talvez, o nome mais cotado entre os free agents de 2020 (o que diz bem da pobreza da classe...) e o base aceitou continuar nos Toronto Raptors a troco de um contrato de quatro anos e 85 milhões de dólares. Para "Steady Freddy" este é obviamente o contrato da sua vida, mas representa muito mais do que isso. É um sinal de esperança para tantos e tantos jogadores que não entram na NBA através do draft. O contrato mais elevado assinado por um jogador "undrafted" é a validação de que vale a pena continuar a lutar e não desistir dos sonhos. Pedro Chagas Freitas não escreveria melhor.
DERROTADO: Tilman Fertitta
De acordo com o jornalista Ric Bucher, existe uma revolta no balneário dos Houston Rockets por causa do alegado apoio do dono da equipa, o milionário Tilman Fertitta, a Donald Trump. O que é facto é que, depois das saídas do treinador Mike D'Antoni e do general manager Daryl Morey, os texanos estão a implodir aos poucos. James Harden e Russell Westbrook pediram para serem trocados para outras equipas e os responsáveis do front office parecem preparados para um braço de ferro com as duas superestrelas, obrigando-os a continuar em Houston até receberam propostas suficientemente convincentes para abrirem mão dos dois antigos MVP's.
Se aos dois egos gigantes e insatisfeitos de Harden e Westbrook juntarmos a loucura de DeMarcus Cousins, contratado no mercado livre, temos uma bomba-relógio à espera de rebentar a qualquer instante. Poderia usar aqui o clássico "Houston, we have a problem!", mas na verdade há mesmo "lots of problems" para aqueles lados.
VENCEDOR: Portland Trailblazers
Discretos, mas cirúrgicos. Os Trailblazers usaram o mercado com mestria para colmatarem as lacunas do plantel. Adicionaram dois extremos altos e com excelente capacidade defensiva (Robert Covington e Derrick Jones Jr.), acrescentaram dois postes para a rotação interior (Enes Kanter e Harry Giles) e renovaram com os "atiradores" Carmelo Anthony e Rodney Hood. E perderam apenas os mal-amados Mario Hezonja e Hassan Whiteside.
Com saúdinha da boa, o treinador Terry Stotts tem uma rotação de qualidade que pode chegar a doze jogadores. Stotts ganha, também, muita versatilidade nos dois lados do campo e pode apresentar inúmeras combinações de cincos, consoante os adversários que tiver pela frente. No papel, está tudo certo, sobretudo a ideia de reforçarem a equipa enquanto Damian Lillard, a superestrela da equipa, está no seu auge, faz sentido. O general manager Neil Olshey merece mais reconhecimento pelo trabalho que tem feito em Portland.
Com saúdinha da boa dentro de campo - Dame, veste um casaquinho de malha, que está fresco! -, esse reconhecimento pode chegar fora dele.
DERROTADO: Atlanta Hawks
Nos contratos de Bogdan Bogdanovic, Danilo Gallinari, Rajon Rondo e Kris Dunn, os Hawks comprometem cerca de 158 milhões de dólares. Para quê? Para deixarem de ser irrelevantes na conferência Este e entrarem na luta pelos playoffs? O extremo italiano, por exemplo, será o jogador mais caro do plantel (contrato de três anos com média anual de mais de 20 milhões de dólares) e já foi anunciado que será suplente de John Collins. Vinte milhões por ano por um suplente numa equipa de meio da tabela classificativa do Este? Algo está errado.
Nem vou entrar pelas evidentes questões defensivas que não foram resolvidas com estas adições. Aliás, espero que não me entendam mal. Os Hawks vão ser muito divertidos. Mas apenas isso. Milwaukee Bucks, Toronto Raptors, Boston Celtics, Indiana Pacers, Miami Heat, Philadelphia 76ers e Brooklyn Nets continuam a ser equipas melhores e devem ocupar sete das oito vagas nos playoffs a Este. Sobra um mísero posto na fase a eliminar da competição e Charlotte Hornets e Washington Wizards também querem entrar na luta por esse lugar. Mesmo que os Hawks lá cheguem... são 158 milhões desperdiçados em vésperas de uma free agency de 2021 que poderá contar com nomes como Giannis Antetokounmpo, LeBron James, Kawhi Leonard, Paul George, Rudy Gobert, DeMar DeRozan e Blake Griffin, entre muitos outros.
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