"Finalmente, os Golden State Warriors vão ter concorrência no Oeste! O novo 'Big 3' de Oklahoma City faz dos Thunder um legítimo candidato ao título!" Estes foram algumas das manchetes vistas há não muito tempo, pouco antes do arranque da temporada. A expetativa era enorme, depois do front office ter conseguido a proeza de adicionar os All-Star e olímpicos Paul George e Carmelo Anthony à super-estrela da equipa, Russell Westbrook.

Dois meses depois, desilusão é a palavra usada para definir o início de época de OKC. Para os mais desatentos, talvez. Na verdade, eram esperadas algumas dificuldades, pelo menos nos primeiros jogos, para conciliar na mesma equipa três atletas que, ao longo das respetivas carreiras, sempre estiveram habituados a ter a bola nas mãos.

Ainda assim, a ideia resultava no papel. Westbrook vinha de uma época em que ganhou o prémio de MVP, com uma estratosférica média de triplo-duplo, e não tinha nada a provar individualmente. George tinha, finalmente, companhia de elite ao seu lado e apenas um ano de contrato. Carmelo libertava-se da imprensa de Nova Iorque e podia perseguir o tão desejado anel de campeão.

Com a vitória desta madrugada sobre os Utah Jazz, os Thunder somam 16 triunfos e 15 derrotas. Sucesso em apenas metade dos 31 jogos, ou seja, mais de um terço da fase regular da temporada. O 6.º lugar da conferência Oeste, a apenas duas derrotas do 9.º, parece muito pouco para uma equipa com tanto talento. Mas os números mais preocupantes são os que a equipa apresenta no final dos jogos.

"Clutch" é o período de cinco minutos no final dos jogos em que a diferença pontual é de cinco ou menos pontos. É aqui que se separam os "homens" dos "meninos". Quem é "clutch" e quem não é. E ser "clutch" não significa, apenas e só, meter a bola no cesto. Ser "clutch" é tomar as decisões certas ou, pelo menos, aquelas que colocam a equipa mais perto do êxito. E os Thunder não têm feito isso.

Dos 31 jogos disputados pela equipa treinada por Billy Donovan, 18 chegaram aos derradeiros cinco minutos com a tal diferença pontual de cinco ou menos pontos. Resultados? Oito vitórias e dez derrotas. Números nos cinco minutos finais dessas 18 partidas? Em trinta equipas, ocupam o 23.º lugar no ranking da eficiência ofensiva, 26.º na eficácia de lançamentos de campo (36%), 27.º na eficácia de lançamentos de três pontos (23%), 27.º na percentagem de lançamentos concretizados após assistência e 30.º na eficácia da linha de lance livre (61%).

Como é que uma equipa com três super-estrelas, todas com capacidades técnicas bem acima da média, regista estes números miseráveis nos momentos decisivos? A resposta é simples e dá pelo nome de Russell Westbrook. O base assumiu as rédeas da equipa após a saída de Kevin Durant para os Golden State Warriors e, depois de uma época em que foi rei e senhor - a tal da média de triplo-duplo -, mantém o hábito pouco recomendável de se agarrar demasiado à bola e, com isso, seca tudo à sua volta. É o jogador-eucalipto.

Paul George e Carmelo Anthony estão a assinar a pior época das suas carreiras. Alguns poderão dizer que seria expectável, porque foram forçados a sacrificar números para jogarem juntos. Em sentido inverso, Victor Oladipo - usado como moeda de troca com os Indiana Pacers no negócio de PG13 -, está a fazer máximos de carreira, é favorito ao prémio de Most Improved Player e vai, certamente, ser All-Star.

É preciso mais provas? Vamos a isso.

Olhando para o passado recente da equipa, encontramos mais dois atletas que jogaram em OKC, fizeram parte do cinco inicial ao lado de Russell Westbrook e sofreram com a falta de altruísmo - chamemos-lhe assim - do base: Thabo Sefolosha e Serge Ibaka.

Sefolosha? No seu último ano pelos Thunder, em 2013/14, conseguiu médias (por 36 minutos) de 8.7 pontos, 5.0 ressaltos, 2.1 assistências, 1.8 roubos de bola e 0.4 desarmes de lançamento, com eficácia de 41.5% de lançamentos de campo e 31.6% de triplos. Depois disso, entre três anos em Atlanta e o arranque desta época em Utah, o suíço acumula médias de 11.0 pontos, 7.1 ressaltos, 2.2 assistências, 2.1 roubos de bola e 0.7 desarmes de lançamento, com percentagens de 46.8% de "tiros" de campo e 35.6% de longa distância.

Ibaka? No seu último ano pelos Thunder, em 2015/16, registou médias (por 36 minutos) de 14.2 pontos, 7.7 ressaltos, 1.0 assistências, 0.5 roubos de bola e 2.1 desarmes de lançamento, com eficácia de 47.9% de lançamentos de campo e 32.6% de triplos. Depois disso, entre Orlando e Toronto, o congolês naturalizado espanhol soma médias de 17.6 pontos, 7.8 ressaltos, 1.0 assistências, 0.5 roubos de bola e 1.8 desarmes de lançamento, com percentagens de 49.6% de lançamentos totais e 39.7% de três pontos.

Ou seja, no pós-Westbrook há mais números e, sobretudo, mais eficácia.

Por falar em Ibaka, quem não se recorda das palavras que disse depois de ser trocado para os Magic? "Vou dizer-vos a verdade. Não é fácil jogares de forma tão dura na defesa e, depois, vais para o ataque e ficas 4, 5, 6, às vezes 8 minutos sem tocar na bola. Somos todos humanos. É difícil", afirmou o extremo/poste, numa clara referência ao egoísmo de Russell Westbrook. E não foi o único. Reggie Jackson, Jeff Green, Jeremy Lamb, Kevin Martin e D.J. Augustin também tiveram desabafos do mesmo género.

No ano passado (2016/17), Westbrook registou uma "usage rate" (estimativa do número de posses de bola usadas por um jogador enquanto esteve em campo e que terminam com lançamento de campo, lance livre ou perda de bola da responsabilidade desse mesmo jogador) de 40,8%. Mais de quarenta por cento! Número inédito e histórico, mas justificável porque tinha que carregar a equipa às costas devido à alegada ausência de talento ao seu lado.

Deixei ali a expressão "alegada ausência de talento" porque andava por lá Victor Oladipo.

Na época anterior (2015/16), em que ainda partilhava o campo com o MVP das Finais do último título dos Warriors, a "usage rate" de Westbrook foi de 31.3% e a de Kevin Durant foi de 30,5%. Dividiam as despesas ofensivas. Esta temporada (2017/18) o número zero de OKC tem uma "usage rate" de 33,4%. É bem menos do que os 40,8%, mas não deixa de o colocar como o sexto jogador da NBA com a maior percentagem, atrás de James Harden, DeMarcus Cousins, Kristaps Porzingis, Joel Embiid e D'Angelo Russell. O que o distingue dos cinco primeiros? É o único com duas super-estrelas no mesmo cinco.

Mas o maior problema de Russell Westbrook é não soltar a bola especificamente no "clutch". E devia fazê-lo. É o líder da NBA, no "clutch", em lançamentos tentados, com uma média de 4.1 "tiros" nos cinco minutos finais dos jogos mais renhidos, e - reparem bem! - com 33,8% de acerto global, 17,9% de três pontos e 52,9% nos lances livres. Péssimo. E, apesar da "usage rate" ter caído razoavelmente do ano passado para este ano, o mesmo não acontece com a quantidade de lançamentos no "clutch". É aqui que entra a tomada de decisão. Passar a bola pode ser "clutch", se o lançamento do colega for melhor do que o seu. E não é por passar a bola que a equipa vai deixar de ser sua.

Quando fizemos o lançamento da temporada para as trinta equipas da NBA, escrevemos que o melhor que podia acontecer aos Oklahoma City Thunder era Westbrook passar a bola. Sim, o melhor que podia acontecer! Se isso não começar a acontecer já, fica em causa todo o plano do general-manager dos Thunder, Sam Presti. Fala-se, por exemplo, na necessidade de trocar Paul George sob risco de perderem o extremo sem qualquer tipo de retorno, no final da época. E isso será (mais) um sinal de alerta para outros free agents.

Russell Westbrook já tem um lugar na História por ser um portento físico sem comparação, que faz números individuais extraordinários e highlights de fazer cair o queixo. Mas pode, também, ser um vencedor. A decisão, tal como a bola, está nas suas mãos.