Quando, a 14 de janeiro, foi anunciada a troca de James Harden para os Brooklyn Nets, o mundo dava as boas-vindas ao novo «Big 3» da NBA. O ex-jogador dos Houston Rockets juntou-se a Kevin Durant e Kyrie Irving com um objetivo claro: unir esforços com outros dois dos melhores basquetebolistas da atualidade para ganhar títulos.

Esta nova era dos Nets, que somavam apenas oito triunfos nos primeiros 15 jogos, estava ensombrada por dúvidas sobre o que aconteceu às superestrelas do conjunto de Brooklyn fora das quatro linhas, desde a forma criticável como Harden forçou a saída dos texanos até à ausência injustificada de Kyrie a um total de oito jogos da equipa.

Indiferente a tudo, Harden estreou-se com uma exibição fabulosa — 32 pontos, 12 ressaltos, 14 assistências, 4 roubos de bola e um desame de lançamento numa vitória sobre os Orlando Magic por 122-115 —, mas duas derrotas diante dos Cleveland Cavaliers, já com o «Big 3» completo, fizeram levantar muito sobrolho desconfiado.

No final desse jogo com os Magic, o base canhoto publicou uma "Story" no Instagram, a celebrar a vitória e a lembrar que a equipa não pôde contar com Irving, dizendo que vinham aí «Scary hours». Após as derrotas com os Cavs, eram os adeptos dos Nets que estavam assustados.

Com apenas cinco vitórias nos nove jogos seguintes, o ponto mais baixo da época foi a derrota em Detroit, a 9 de fevereiro. Os Pistons, então com um registo de 5 vitórias e 18 derrotas, bateram os Nets por 122-111, o que levou Kyrie Irving a classificar o esforço da equipa de mediano («average»). Simpático, talvez.

Bater no fundo foi o ponto de viragem e, desde então, algo mudou.

Após a derrota com os Pistons, os Brooklyn Nets só festejaram triunfos e já levam uma série de oito seguidos — algo que não acontecia desde 2006 —, sendo que algumas dessas vitórias foram contra adversários considerados fortes, como as duas equipas de Los Angeles, os Phoenix Suns, os Golden State Warriors e os Indiana Pacers.


Ouça aqui o episódio desta semana do Bola ao Ar, podcast sobre NBA produzido pela MadreMedia e apresentado por João Dinis e Ricardo Brito Reis:


Ao todo, desde a chegada de James Harden, os Nets disputaram 21 jogos (15 vitórias e 6 derrotas) e alguns números são, de facto, assustadores para a concorrência. Lideram os rankings da melhor eficiência ofensiva (120.7 pontos marcados por cada 100 posses de bola), eficácia de lançamentos de campo (51.1%) e eficácia de triplos (41.6%), e, para quem duvidava da capacidade de partilhar a bola das três superestrelas, os Nets são a 3.ª equipa com mais assistências por jogo (27.6).

Considerando apenas esta recente série de oito vitórias consecutivas, numa altura em que é evidente o maior conforto de Harden no sistema de Steve Nash, lideram a liga em triplos marcados por jogo (17.6) com uma percentagem de acerto de 43.3%, e cometem apenas 11.5 turnovers por partida (segundo melhor registo nesse período).

A evolução no meio-campo defensivo, uma das grandes questões levantadas aquando da mega-troca que levou Harden para Brooklyn, também é notória. Apesar de terem a 7.ª pior defesa da liga (113.4 pontos sofridos por cada 100 posses de bola) no global da temporada, o registo é bem melhor nas últimas duas semanas, já que registam a 11.ª melhor eficiência defensiva (110.6) nos tais oito triunfos consecutivos, incluindo apenas 94 pontos sofridos frente aos Pacers, 98 diante dos campeões Lakers e 108 contra os Clippers.

Não foi a adição de Harden que melhorou a defesa dos Nets, claro. Mas as rotinas ajudam e as experiências de Steve Nash têm corrido bem. Com a lesão de Kevin Durant, que falhou nove dos últimos dez jogos com um estiramento numa coxa, o treinador tem testado vários cincos iniciais diferentes — 19! — e optado pelo «small ball» (jogar sem poste) com mais frequência, o que aumenta o leque de estratégias defensivas contra o ataque organizados dos adversários, como as trocas em todos os bloqueios.

As vitórias sucedem-se, a química cresce, os sorrisos multiplicam-se e a única dúvida, agora, é quão melhores ficarão estes Nets com o regresso de Durant, que coincidiu em campo com Harden e Kyrie em apenas sete jogos e 186 minutos. Com mais uma opção de elite no ataque e mais competência na defesa, os Nets só podem explodir.

No final da vitória sobre os Golden State Warriors, naquele que foi o único jogo de Durant nas últimas duas semanas, Kyrie Irving revelou aos jornalistas: "Eu e o James (Harden) conversámos e eu disse-lhe que ele era o «point guard» (base) e que eu ia passar a jogar como «shooting guard» (base lançador). Foi tão simples quanto isto."

Sem fazer referência ao papel que Steve Nash pode ou não ter tido na decisão, Kyrie assumiu aquilo que sempre se soube, para quem olhava de fora para dentro. Os Nets são a equipa de Kevin Durant, mas a bola tem que passar mais tempo nas mãos de James Harden, enquanto Irving terá de aceitar ser a terceira figura da hierarquia.

A equipa funciona cada vez melhor e todos beneficiam desta harmonia, sobretudo os atiradores, que têm mais espaço. Joe Harris subiu a sua eficácia no tiro exterior para uns impressionantes 55.6% nas oito vitórias seguidas, enquanto Tyler Johnson, Landry Shamet e Timothe Luwawu-Cabarrot estão todos a lançar acima de 40%.

Ainda há dúvidas se DeAndre Jordan é fisicamente capaz de aguentar toda uma temporada com um papel tão importante, se a rotação do banco de suplentes está equilibrada ou precisa de ajustes e se Kevin Durant consegue manter-se saudável durante longos períodos da época, mas há tempo para corrigir parte disso até ao «trade deadline», a 25 de março, ou no mercado de «buyouts».

Com vinte jogos acima dos 120 pontos marcados e um registo de seis vitórias e uma derrota contra a elite da liga (Jazz, Lakers, Clippers, 76ers e Bucks), confirmam-se os maiores receios dos adversários. Os Nets começam a meter medo e, com Durant prestes a regressar, as verdadeiras «scary hours» ainda estão para chegar.