Quando ainda jogava no Brasil, em março de 2013, a revista Time fez de Neymar Jr., o jovem prodígio do Santos, capa da edição de 4 de março. “O próximo Pelé”, escreveram.

Aos 21 anos, o jovem craque do clube que viu nascer Edson Arantes do Nascimento - Pelé para os amigos -, já era comparado a um dos melhores jogadores de todos os tempos, e nas suas costas carregava a responsabilidade de reerguer a seleção brasileira.

No Brasil, os golos e qualidade do jovem prodígio faziam abrir os cordões à bolsa dos clubes europeus. Neymar encantava. Encantou quando teve um papel decisivo na conquista da Copa Libertadores pelo Santos. Encantou com os 43 golos marcados numa só época. Encantou com o papel decisivo na conquista da medalha de prata da seleção canarinha nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Encantou com os 136 golos marcados em 225 jogos pelo Santos. ‘Juninho’, como era conhecido pela família e amigos, nascia como Pelé, na América do Sul, mas tinha a obrigação que a antiga lenda do futebol mundial não teve: fazer o que Pelé não fez, e levar o samba no andar, no correr e no driblar para a Europa.

Em maio de 2013, Neymar rescindiu com o Santos e assinou pelo Barcelona.

A epopeia do "novo Pelé" na Europa

O craque brasileiro mudou-se para Camp Nou para fazer uma prova de fogo acerca de todo o burburinho que existia à sua volta. Todos queriam vê-lo dentro de campo, todos queriam saber do que realmente era capaz, agora num dos maiores clubes europeus.

Neymar ao serviço do Santos, num jogo da Copa dos Libertadores, frente aos paraguaios do Cerro Porte. créditos: MAURICIO LIMA / AFP

Quando chegou, Neymar tinha uma concorrência à altura e o seu primeiro objetivo tinha que passar por conquistar um dos três lugares do ataque, ou melhor, um dos dois, porque uma daquelas posições era ocupada por Lionel Messi, e essa não estava em discussão.

Entre Alexis Sánchez, o chileno explosivo que procurava afirmar-se no 11 inicial, Cristian Tello, promessa da La Masia (academia do Barcelona) e Pedro Rodriguez, internacional espanhol que procurava um estatuto maior e mais preponderante dentro da equipa, Neymar foi conquistando o seu lugar nos blaugrana naquela que foi a sua época de adaptação, e que acabou também por ser a mais tímida em termos de números (de entre todas as passadas na Catalunha): 15 golos e 15 assistências em todas as competições. Deixou apenas um pequeno gosto do que iam ser os próximos três anos. Dali para a frente seria sempre a subir.

Na época seguinte, saíram Sanchez e Tello, ao mesmo tempo que chegava Luis Suárez. Era nesse ano que ficava ‘selado’ aquele que viria a tornar-se num dos ataques mais míticos e implacáveis desta década: La MSN - Messi, Suárez, Neymar. Juntos, conquistaram nessa mesma temporada o triplete (Copa del Rey, La Liga e Liga dos Campeões), e o jovem brasileiro começava a firmar-se como um grande valor dos blaugrana, à medida que os números disparavam: 39 golos e 11 assistências com as cores culé. Nesse mesmo ano a recompensa chegava e o nome de Neymar surgiu entre os gigantes Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, como finalista ao prémio Bola de Ouro.

créditos: OLIVIER MORIN / AFP

O ano seguinte, 2015/16, seria a temporada da consagração individual do antigo craque do Santos que mostrou que a época anterior não tinha sido só fogo-de-vista. Marcou menos, mas passou a assistir muito mais. Foram 31 golos e 27 assistências que contribuíram largamente para o bicampeonato do Barcelona.

Por esta altura Neymar deixava de ser o menino maravilha que sozinho faz a diferença para passar a fazer a assumir-se como parte de um coletivo. Especialmente, a saber jogar entrosado com os seus companheiros de ataque. ‘Juninho’ estava a crescer a olhos vistos.

Os sete minutos em que menino se tornou homem

A temporada desportiva 2016/17 não foi de longe a melhor do Barcelona. Não foi a melhor de Messi. Mas foi a época em que Neymar mostrou ao mundo a razão pela qual é apelidado de um jogador de classe mundial.

No dia 8 de março de 2017, o Barcelona recebia o Paris Saint-Germain em jogo a contar para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Era a segunda-mão. Na primeira, os blaugrana tinham sido ‘atropelados’ pelos campeões franceses em título (4-0). Era preciso um milagre. Aos 50 minutos uma remontada épica estava à beira de acontecer com o marcador a assinalar os 3-0 para a equipa da casa, ainda com 40 minutos para serem jogados. Mas um golo de Edison Cavani, aos 62 minutos, caiu como um balde de água fria sob a equipa orientada por Luis Enrique.

créditos: QUIQUE GARCIA/EPA

No final do jogo, o italiano Verrati admitiu pensar que aquele momento tinha acabado com a partida, que todos os culé pareciam rendidos. E talvez estivessem, quase todos. Num momento de grande crise em que não é nada habitual ver o Barcelona, Neymar - não Messi, não Iniesta, não Suárez, não Piqué - ergueu-se como baluarte da esperança, como comandante. E jogou. Correu. E marcou. Em dois minutos, já perto do apito final, Neymar fez dois golos (88’ e 90’), e deixou os blaugrana a um golo da passagem aos ‘quartos’. Naquela altura já todos acreditavam. No último lance da partida, ao 90+5, Neymar bateu o livre, assistiu Sergi Roberto e o jovem espanhol da cantera fez história ao fechar uma remontada épica. Foram sete minutos de um golo ao outro. Foram os melhores sete minutos da vida profissional de Neymar.

Mais do que a passagem à próxima eliminatória, o Barcelona sabia que tinha ganho, ali, um líder, um jogador que não cai perante o impossível e que é capaz de carregar a equipa às costas e lhes devolver a esperança. Mostrou que era de classe mundial.

Neymar de amarelo com um país às costas

No dia 10 de agosto de 2010, o jovem prodígio do Santos fez a sua estreia pela seleção A brasileira num encontro amigável frente aos Estados Unidos da América. O jogo não poderia ter corrido melhor, com Neymar a inaugurar o marcador e, assim, a carimbar a sua estreia com um tento.

Mas o seu primeiro grande feito estava guardado para os Jogos Olímpicos. Primeiro, em Londres de 2012, na equipa de futebol olímpica, Neymar foi quem capitaneou o Brasil até à final frente ao México. Apesar de não ter conseguido a medalha de ouro, o craque dos Santos contribuiu com três golos em seis jogos. O ouro chegaria quatro anos depois, nos Jogos Olímpicos organizados pelo Brasil. Aí, um Neymar mais velho e mais maduro, voltou a ser preponderante na conquista de um título inédito por parte da 'canarinha'.

Seria este o prefácio para uma carreira com a camisola canarinha que se adivinhava histórica. Um ano depois, Neymar foi chamado para participar na Taça das Confederações, organizada em solo brasileiro, e mais uma vez mostrou-se decisivo, contribuindo com 4 golos em 5 jogos.

Neymar, ao centro, festeja com os colegas de equipa a conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. créditos: Odd Andersen / AFP

Tudo isto foi epílogo para que o povo brasileiro coloca-se sobre as costas do seu craque maior a responsabilidade de devolver à seleção brasileira a glória no Campeonato do Mundo de 2014, organizado no Brasil. O Mundial não foi feliz, mas Neymar esteve longe de desiludir, com quatro golos em cinco jogos foi um dos mais destacados da seleção.

Atualmente, o avançado soma 52 golos e 77 jogos pela seleção, com recorde de Pelé no horizonte, já tem os holofotes sobre si, e sobre aquilo que pode fazer na Rússia no próximo ano, uma vez que o Brasil é já uma das seleções com a passagem à fase final do Mundial de 2018 carimbada.

De craque a mercenário. Neymar como Figo

Passaram oito anos desde a estreia de Neymar pela equipa principal do Santos, em 2009. E nos dias de hoje, não há nenhum nome que faça correr mais tinta na imprensa desportiva do que o do avançado de 25 anos. O valor de transferência de 222 milhões de euros que levou o craque brasileiro da Camp Nou para o Parque dos Príncipes surpreendeu o mundo e enraiveceu os adeptos blaugrana. Depois de quatro anos ao serviço do Barcelona, o craque passou a ser mercenário, o jogador de classe mundial passou a ‘pesetero’. Neymar passou a ser como Luís Figo.

créditos: JOSE HUESCA/EPA

Pela segunda vez na história do Barcelona, o clube catalão perdeu um dos seus mais aclamados jogadores - e um dos melhores do mundo -, sem que esse fosse o seu desejo. Há 17 anos foi o extremo português, que se mudou para os eternos rivais do Real Madrid. Agora é Neymar Jr., o menino que de samba e capoeira nos pés conquistou o Brasil, no Santos, e depois o Mundo, nos blaugrana.

O craque brasileiro mudou-se para o Parque dos Príncipes, casa do Paris Saint-Germain, onde atua o português Gonçalo Guedes, e destronou o francês Paul Pogba no topo da lista das transferências mais caras de sempre do futebol mundial. E não foi por 5, nem por 10 ou 20 milhões de euros. Mas sim por 115 milhões. Sim, Neymar custou mais 115 milhões de euros do que a transferência que até à data era considerada a mais cara de sempre.

Caiu o N, de MSN

créditos: ANDY RAIN/EPA

Neymar da Silva Santos Júnior, que assim deixa cair o ‘N’ que completava a já o mítico trio de atacantes sul-americano - composto ainda por Leonel Messi e Luis Suárez. Junto, o trio de ataque fez 322 golos, nas épocas em que conviveram na Catalunha.

Saiu como entrou: muito dinheiro e muita polémica à mistura

Neymar grava assim o nome na história do futebol, da mesma forma que chegou a Espanha: com polémica e com grandes quantidades de dinheiro à mistura.

Na altura, em 2011, o Barcelona terá assinado um contrato com Neymar, pelo qual o avançado receberia 40 milhões para assinar no futuro pelo emblema catalão. Ora, considerou-se que tal contrato poderia constituir um crime de corrupção privada pela justiça espanhola, por ter alterado “o mercado livre de contratação de futebolistas”.

Ao problema do acordo de promessa de transferência que as autoridades entendem ser ilícito junta-se ao delito fiscal de quando a transferência foi consumada, com o contrato de 2013.

O ‘Barça’, bicampeão espanhol à altura, anunciou que a transferência do avançado brasileiro, realizada em maio de 2013, custou 57,1 milhões de euros, mas, depois de uma investigação da justiça espanhola, admitiu que a operação ascendeu, pelo menos, a 83,3 milhões.

Quanto a este ilícito, a 20 de dezembro a justiça espanhola validou o acordo entre as autoridades fiscais e o FC Barcelona, que se comprometeu a pagar duas multas no valor total de 5,5 milhões de euros, por irregularidades fiscais na contratação do brasileiro.

Agora as polémicas são outras. Alguns dos adeptos catalães já apelidam o jovem brasileiro de ‘pesetero’; outros desconfiam da origem do dinheiro que vai financiar esta transferência e, por último, mas não menos importante, há ainda quem coloque em causa o cumprimento do ‘fair-play’ financeiro por parte do Paris Saint-Germain.

De Barcelona a Paris para ser o ídolo de todos

Ao que tudo indica, o prémio de melhor jogador do mundo de 2017 ainda será discutido entre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, um feito que marcará uma década em que estes dois craques partilharam o palco de melhor do mundo. Em 2018 começa uma nova década no mundo da elite europeia do futebol e a transferência de Neymar parece querer dizer uma coisa: ele quer inaugurá-la, ele quer fazer parte dela.

A entrada do brasileiro no projeto do clube da capital francesa é um passo de gigante nas ambições do Paris Saint-Germain de passar de um gigante nacional a um grande europeu. Para isso é necessário um título continental e Neymar é o rosto dessa ambição num plantel forte, que tem vindo a ser construído ao longo dos anos. Forte, mas sem “um Messi”. Um plantel forte em que "o Messi" de todos será Neymar.

Neymar Jr., Juninho para os amigos e família, nasceu a 5 de fevereiro de 1992, filho de Nadine Santos e de Neymar da Silva Santos, de quem herdou o nome. Cresceu a idolatrar o pai, que teve uma carreira no futebol profissional e amador brasileiro, em clubes em redor de São Paulo.

Com apenas dois anos a sua mãe deu-lhe como de presente a sua primeira bola. Aos seis anos começou a chamar a atenção nas brincadeiras com a bola entre os pequenos corredores das bancadas dos estádios de futebol. Aos 20 a sua transferência para o Barcelona terminou nos tribunais. Aos 25 deixa o mundo de boca aberta com uma transferência record, de 222 milhões de euros. Parecia destinado: Neymar veio ao mundo para jogar à bola e para espantar.