Há um momento, no início da segunda parte do prolongamento do jogo desta noite entre Benfica e Dínamo Zagreb, em que Jonas recebe a bola e, a passo, a entrega a um companheiro mais à frente. Segundos depois, é possível vê-lo a dar instruções aos companheiros mais atrás.
Aos 34 anos, é inegável que a capacidade física de Jonas já não é a de outros tempos. Já não é a do ano passado, sequer, em que marcou 37 golos em 41 jogos. Contudo, às vezes mais vale um Jonas a passo do que muitos a correr. Porque ele pode. É Jonas, uma espécie de ancião dos avançados, com barba e cabelo branco, e que foi, uma vez mais, o “abre-latas” de que o Benfica precisava para vencer o jogo. Este Jonas, a passo, leva 14 golos em 21 jogos. E é o segundo melhor marcador dos encarnados.
Hoje, frente ao Dínamo Zagreb, foi dele – e da primorosa assistência de Pizzi, mais uma! – o pontapé que empatou a eliminatória e que levou o jogo para um prolongamento onde o Benfica efetivou aquilo que mostrou ao longo dos 90 minutos: é mais forte que o clube croata, na teoria e na estatística (25 remates contra sete, aos quais juntou uns estrondosos 69% de posse de bola).
A primeira parte não foi fácil para os encarnados, que aos 30 minutos só tinham tocado na bola por uma vez dentro da área dos croatas. Mas na segunda parte tudo mudou, muito por culpa das substituições de Bruno Lage. Saíram Yuri Ribeiro e Zivkovic, entraram Grimaldo e Jonas. E o jogo não mais foi o mesmo, apesar de só ter sido decidido no prolongamento.
O golo do avançado brasileiro – que não marcava na Europa há 7 anos – foi o único dos encarnados durante os 90 minutos de cada um dos jogos da eliminatória. Contudo, no prolongamento (na primeira parte do prolongamento, para sermos mais exatos), o Benfica apontou mais golos do que nos 180 minutos anteriores. E provou que a norma de que “a melhor defesa é o ataque” pode por vezes ser substituída pelo seu inverso: o melhor ataque foi vir da defesa.
O primeiro a provar isso mesmo foi Ferro, que à bomba colocou as águias em vantagem na eliminatória. Foi um grande golo do jovem central, um daqueles pontapés de raiva, que fazem levantar o estádio e o ânimo de qualquer equipa. Com nove jogos pela equipa principal do Benfica nesta época, Ferro já leva três golos – mais do que Ferreyra e Castillo juntos, por exemplo.
E pouco depois percebeu-se também que este não era o dia dos croatas: Gojak falhou de baliza aberta, Stojanovic viu dois amarelos seguidos por protestos e foi expulso e Grimaldo fez isto:
Um tomahawk (crédito seja dado a Cristiano Ronaldo) em movimento que arrumou definitivamente a eliminatória, até porque o avançado nigeriano Atiemwen, praticamente da marca de penálti e apenas com Vlachodimos pela frente, não fez melhor do que rematar a rasar o poste, já durante a segunda parte do prolongamento.
Bitaites e postas de pescada
O que é que é isso, ó meu?
Dois amarelos consecutivos é mau. Dois amarelos consecutivos e por protestos ainda é pior. É certo que a cultura futebolística ainda é bastante permissiva no que respeita à forma como os seus intervenientes principais (jogadores e treinadores) se dirigem às equipas de arbitragem. É cultural, dirão alguns. É falta de respeito pelas leis do jogo, disse o árbitro alemão Deniz Aytekin. E expulsou Stojanovic.
Jonas, a vantagem de ter duas pernas... e cabelos brancos
Pizzi fez uma exibição quase perfeita, mas Jonas foi o desbloqueador que talvez tenha faltado às aguias em Zagreb. Marcou o golo que empatou a eliminatória e quase sempre que a bola lhe passava pelos pés... “não chorava”. Aos 34 anos, o brasileiro está aí para as curvas, ainda que não esteja para grandes correrias. Também não precisa, provavelmente. As “motas” Grimaldo, Rafa e Félix já o fazem por ele. Jonas só precisa de lá estar quando é preciso. E hoje, mais uma vez, esteve.
Fica na retina o cheiro de bom futebol
Poderíamos falar da classe de Pizzi e Jonas no primeiro golo das águias ou das bombas de Ferro e Grimaldo, capazes de levantar qualquer estádio. Contudo, quando aos 75 minutos Rafa pegou na bola na área encarnada e encetou uma corrida “maradoniana” na direção da baliza croata, estivemos perto de assistir a uma daquelas jogadas que poderia ficar para a história. Valeu o defesa croata, a aliviar para canto uma bola que se preparava para ficar na memória de todos.
Nem com dois pulmões (e duas asas) chegava a essa bola
Livakovic, não obstante os três golos sofridos, foi autor de uma bela exibição, tendo por várias vezes parado remates da ofensiva encarnada. Mas os remates de Ferro e Grimaldo foram indefensáveis para o guardião croata de 25 anos.
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