Era verão e as capas dos jornais desportivos de manhã, bem como as notificações no telemóvel a todo o instante, alimentavam com rumores a sede do adepto de futebol.

Estávamos em 2019, sem Campeonato do Mundo, sem Europeu e com uma primeira edição da Liga das Nações que ainda não suficiente para cumprir as exigências de uma grande competição de verão. Sobrava-nos o mercado de transferências. Para onde iam os talentos da equipa do Ajax que por pouco não chegou à final da Liga dos Campeões? E João Félix? E Hazard, era desta que deixava o Chelsea e cumpria o sonho de assinar pelo Real Madrid?

Foi um mercado excitante, novamente com quantias exorbitantes em cima da mesa. Os negócios fizeram-se e cinco meses depois é altura de regressar para a análise. Vingaram ou, se os clubes pudessem, voltavam atrás e faziam tudo diferente?

Aqui está a bússola que os adeptos não sabiam que precisavam para pensar duas vezes antes de projetar o futuro dos novos reforços nas suas equipas.

11 - João Cancelo

créditos: Oli SCARFF / AFP

Nas últimas cinco temporadas, João Cancelo mudou quatro vezes de clube. Do Valência foi para o Inter de Milão, dos Nerazzurri para a Juventus, da Vecchia Signora para o Manchester City.

O lateral direito português, que não enchia as medidas a Sarri mas que convenceu Pep Guardiola, não tem tido uma vida fácil em Inglaterra. Verdade seja dita que a concorrência não é coisa de menosprezar, falamos nada mais, nada menos de Kyle Walker, defesa-direito inglês, com grande experiência de Premier League e que se for preciso até dá um jeitinho na baliza.

Com 21 jogos disputados esta temporada, um golo e uma assistência a assinalar, Cancelo tem sido utilizado como jogador de segunda linha e uma eventual saída do atual campeão inglês chegou a estar em cima da mesa neste mercado. Mas Guardiola disse que não, que queria que ele ficasse.

Cancelo ficou e aos 25 anos tem a oportunidade de aprender com um dos melhores treinadores do mundo, no seio de um plantel que no ano passado fez história na liga inglesa e, quem sabe, se ao dominar a arte da paciência não se conseguirá assumir como o futuro do lado direito do City.

10 - Romelu Lukaku

créditos: EPA/MATTEO BAZZI

Portanto, faz cerca de cinco meses que um clube da Premier League decidiu vender o seu único ponta-de-lança de raiz e não se reforçar com um jogador capaz de desempenhar a mesma posição. Como é óbvio, estamos a falar do Manchester United, clube que parece viver uma anarquia na definição de estratégia para a primeira equipa desde a saída de Alex Ferguson.

Romelu Lukaku vestiu a camisola dos Red Devils durante duas temporadas. De vermelho, marcou 42 golos e fez 13 assistências. Os números não impressionaram Old Trafford e Antonio Conte piscou-lhe o olho diretamente de Milão. O belga gostou da ideia, mudou-se para Itália e soma atualmente 18 golos e quatro assistências ao serviço dos Nerazzurri e é o terceiro melhor marcador da Serie A.

Nada mau, hein?

9 - Rodri

créditos: PETER POWELL/EPA

O que há para dizer sobre Rodri? Brilhou no Atlético de Madrid e aos 23 anos está a ter o privilégio de aprender diretamente com Fernandinho como é que se passa de um médio defensivo promissor a um médio defensivo de excelência.

O testemunho é importante, uma vez que que o brasileiro cumpre a sua sétima temporada ao serviço dos citizens: quando chegou ao Manchester City, os defesas-centrais eram Joleon Lescott, Martín Demichelis e Matija Nastasic - para além do lendário Vicent Kompany.

O espanhol tem jogado e provado que pode dar conta do recado. Quando quiser, Fernandinho poderá deixar os Citizens descansado.

8 - Frenkie de Jong

créditos: AFP

O meio-campo do FC Barcelona ainda parece um lugar estranho quando não vemos os nomes de Xavi e Iniesta à frente do de Sergio Busquets. Muitos por lá passaram e vários impressionaram, mas nunca nada voltou a ser como antes.

A responsabilidade de recuperar esse meio-campo recai agora sobre os ombros do jovem Frenkie de Jong, uma das pérolas que levou o Ajax até às meias-finais da Liga dos Campeões na temporada passada.

Frenkie chegou, viu e venceu. Aos 22 anos tem futebol para dar e vender e uma margem de progressão gigante. Resta saber se conseguirá cumprir o legado deixado por outro holandês que se mudou do Ajax para Camp Nou e que revolucionou o futebol catalão.

Não se pede tanto a de Jong, atenção, mas que o futebol do Barcelona está a precisar de uma injeção de juventude e de modernidade, lá isso está.

7 - Nicolas Pépé

créditos: EPA/WILL OLIVER

Quando se mudou para Inglaterra, Pépé trazia consigo números apetecíveis: 37 golos e 17 assistências em duas temporadas ao serviço do Lille. Mas ao serviço do Arsenal pareceu só aproximar-se do valor exibicional que demonstrou em França quando foi para atrapalhar a caminhada europeia do Vitória de Guimarães.

Pépé vive longe da sua melhor forma numa equipa que vive longe dos seus melhores anos. Num Arsenal em rebuliço, o extremo tem visto a sua situação variar entre suplente e titular, sem nunca conseguir mostrar ser o motor que faltava aos Gunners.

Com todas as qualidades à vista de todos, Nicolas Pépé pode estar a viver um erro de casting, neste caso não do clube que escolheu o jogador, mas sim do clube escolhido pelo atleta.

6 - Lucas Hernandéz

créditos: GEORGIA PANAGOPOULOU/EPA

Está a estranhar o nome? Francês, campeão do mundo, tanto joga na lateral esquerda como no centro da defesa… Ex-Atlético de Madrid, transferiu-se para o Bayern Munich por 80 milhões de euros… Nada?

É muito provável que tenha ouvido falar muito pouco de Lucas Hernandéz. Não porque a sua aventura na Alemanha esteja a correr mal, mas porque o francês sofreu uma lesão em outubro, num jogo frente ao Olympiakos a contar para a Liga dos Campeões, e desde então ainda não voltou aos relvados.

5 - Matthijs de Ligt

créditos: EPA/WALLACE WOON

Um dia, um jovem holandês passeava-se pelo relvado, triste, depois da primeira final perdida ao serviço da sua seleção, quando, do nada, um homem, com cinco Bolas de Ouro, capitão da seleção adversária, aproxima-se de de Ligt e diz-lhe ao ouvido: “Vem para a Juventus”.

O excerto acima foi tirado da autobiografia de Matthijs de Ligt para jovens com menos de oito anos e é, muito provavelmente, o melhor resumo da transferência do holandês ex-Ajax que tanta tinta fez escorrer na imprensa.

A experiência em Itália está a correr bem, mas ao nível "bem" mínimo que se pode dar a um defesa central que custou 85,5 milhões de euros. Se Matthijs é titular? A maior parte das vezes. Se houve uma altura em que Matthijs de Light perdeu o lugar para Demiral e só o recuperou porque o ex-Sporting se lesionou? Também é verdade.

Os adeptos da Vecchia Signora aguardam que o holandês, que se mostrou enorme ao serviço do Ajax, comece a mostrar ser o futuro da Juve, emblema que nos últimos anos foi servido por centrais de excelência.

4 - Harry Maguire

créditos: Oli SCARFF / AFP

Chegámos ao capítulo mais duro desta lista. Conhece aquela descrição utilizada nas redes sociais por aqueles sites de clickbait descarado que é qualquer coisa como: “Estes 10 alimentos não fazem engordar. O número 4 vai deixá-lo espantado”.

Percebeu a ideia? Harry Maguire é o “alimento número 4”. Deixa-nos espantados, em primeiro lugar, por ser o defesa-central mais caro do mundo e depois por estar a uma distância incalculável da prestação que o defesa central mais caro do mundo deveria estar a ter.

Mas Maguire não tem culpa do dinheiro que pagaram por ele. Foi simplesmente o mercado a funcionar. Ao mercado respondeu a lógica futeboleira que em pouco tempo demonstrou que o valor pago foi um tremendo exagero e que o inglês deveria ter ficado no Leicester onde conseguiu efetivamente brilhar.

3 - Eden Hazard

créditos: EPA/CHRISTIAN BRUNA

Olhar para Eden Hazard com a camisola do Real Madrid é um bocadinho como, no dia de hoje, olhar para as notícias e ver que o Brexit está efetivamente a acontecer. “Será que isto é mesmo realidade?”, perguntamo-nos.

Primeiro porque o namoro foi longo, segundo porque o belga tem tido uma época assombrada por lesões e soma apenas 13 jogos ao serviço dos merengues, muito pouco para percebermos se será o homem para suprimir a ausência de um certo ídolo que ainda deixa saudades.

Acontece que Hazard quando voltar aos relvados pode não ter espaço no 11, no banco ou até no autocarro dado o elevado números de promessas brasileiras que o Real Madrid continua a comprar.

2 - Antoine Griezmann

créditos: ALEJANDRO GARCIA/EPA

Vamos ser sucintos. Griezmann mudou-se para o FC Barcelona no verão, soma 12 golos e quatro assistências. Joga ao lado de Lionel Messi e Luis Suárez e em seis meses não conseguiu que a imprensa criasse a sigla MSG para este novo ataque MSG (como antes já o tinha feito para outras triplas, como a MSN - Messi, Suárez, Neymar).

Provavelmente porque MSG soa mal. No entanto, Griezmann é um jogador estranho naquele trio ofensivo, muito por ter várias características idênticas a Messi. Não brilha e dificilmente fará melhor do que fez ao serviço do Atlético de Madrid.

1 - João Félix

créditos: Benjamin CREMEL / AFP

O jovem que semeou em Portugal a discordância em relação à pronúncia do seu apelido, galgou a fronteira para semear, em Espanha, a discordância em relação aos 126 milhões de euros que o Atlético de Madrid gastou na sua contratação.

Com quatro golos e duas assistências em 24 jogos, João Félix tem dececionado na La Liga com alguns a já arriscarem lançar a palavra flop e outros a defenderem-no com o estilo extremamente defensivo de Diego Simeone, que desvirtua Félix daquilo que faz melhor e com que deslumbrou no Benfica: atacar.